A democracia não subsiste à corrupção, diz CNBB
Para a CNBB, "a democracia não subsiste à corrupção."
Leia abaixo a íntegra da mensagem:
Mensagem da CNBB para o dia da Pátria
07 de setembro de 2005
“A verdade vos libertará” (Jo 8,32)
A nossa Pátria vive momentos de grande sofrimento. As instituições políticas do País estão sendo duramente atingidas. Reiteradas denúncias de corrupção perpassam vários níveis do Poder público. Cresce a indignação ética que nasce da consciência da violação de valores fundamentais da nossa sociedade. A democracia não subsiste à corrupção.
O povo brasileiro precisa recuperar a esperança - pela apuração da verdade dos fatos, pela restituição dos bens públicos subtraídos – numa colaboração eficaz para a real purificação de nossas instituições.
O dia 07 de setembro já faz parte da nossa cultura como apelo a sermos sujeitos da nossa história, completando a nossa independência e a nossa soberania. A mãe Pátria espera de todos nós decisões corajosas para uma renovada face da nossa democracia.
No mundo que caminha, cada vez mais, para um pensamento único, somos chamados, pessoas e comunidades brasileiras, à co-responsabilidade pela construção de uma nação com identidade própria, valorizando as riquezas de nossas origens culturais.
A atual crise está levando o povo ao descrédito da ação política. Instaurada pela revelação de práticas ilegais, ela reflete um mal antigo de natureza política, do qual os desvios éticos são sintomas significativos. A cultura da corrupção, alimentada por corporativismos históricos, tem utilizado as estruturas de poder para o benefício próprio, substituindo o debate de idéias por projetos de poder.
Por isso, a crise que nos invade está desafiando o País para um novo Projeto de sociedade que contemple as reais necessidades da população, sobretudo dos mais empobrecidos, nestes tempos de profundas transformações.
As grandes mudanças das últimas décadas, como a terceira revolução industrial e a ampliação crescente da globalização, estão tendo sérias repercussões políticas e econômicas, concentrando rendas e diminuindo as possibilidades de trabalho. Assistimos o enfraquecimento do Estado-Nação e a transformação das relações entre capital e trabalho.
Um clamor específico está emergindo em meio a esta crise: uma radical reforma do atual sistema político. Não podemos deixar passar este momento sem realizar uma profunda reforma política. Precisamos assegurar a fidelidade partidária, aprimorar os institutos da democracia representativa e favorecer a democracia participativa e deliberativa. O Projeto de lei, em tramitação no Congresso Nacional, para a regulamentação do Art.14 da Constituição Federal, nos oferece esta possibilidade de participação por meio de referendos, plebiscitos e conselhos, em todos os níveis de decisão.
Mais do que nunca precisamos valorizar a lei 9.840, assegurando sua aplicação, rápida e severa, possibilitando a lisura das campanhas eleitorais contra a corrupção eleitoral.
A experiência de participação popular na política – por meio de movimentos sociais, sindicatos, pastorais sociais, e partidos políticos – é uma conquista e um patrimônio histórico do povo brasileiro; não pode ser perdida pela ação nefasta de políticos que buscam o poder e vantagens pessoais a qualquer custo.
Queremos, nesse sentido, estimular os cristãos que, em nome da sua fé, se engajaram no mundo da política, dizendo-lhes que vale a pena se doar por uma causa que nos ultrapassa: a política pode ser uma forma de exercício de um amor maior.
O povo brasileiro já deu, ao longo de sua história, muitas provas de energia e capacidade de superar crises. A atual crise política poderá se tornar uma ocasião de amadurecimento das instituições democráticas do País, de comprometimento maior com a verdade que nos liberta e de luta por um Brasil justo, solidário e livre, onde “justiça e paz se abraçarão”.
Confiamos nas suas convicções éticas e cristãs, capazes de sempre se reanimar e se levantar com mais coragem e esperança. Está em nossas mãos a mudança do Brasil.
A pedido do episcopado católico do Brasil, o dia 07 de setembro deste ano seja ocasião para especiais orações pela nossa Pátria.
Deus nos proteja!
Nossa Senhora Aparecida interceda por nós.
Cardeal Geraldo Majella Agnelo
Arcebispo de São Salvador da Bahia
Presidente da CNBB
Dom Antônio Celso de Queirós
Bispo de Catanduva, SP
Vice-Presidente da CNBB
Dom Odilo Pedro Scherer
Bispo Auxiliar de São Paulo
Secretário-Geral da CNBB
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home