Publico o artigo do colaborador do blog e do site
Pantanal News,
Luiz Leitão:
Lula mostra o caminho das pedras
Por Luiz Leitão
(*)
Conscientemente ou não, influenciado ou não, talvez cansado das demandas por cargos feitas por políticos, o fato é que o presidente Lula desta vez acertou e mostrou o caminho das pedras para uma administração limpa e isenta de ingerências políticas.
Após demitir pela acusação de crime de violação de sigilo bancário o presidente da Caixa Econômica Federal indicado pelo grupo político de Marta Suplicy, Jorge Mattoso, Lula da Silva teve a sensatez de nomear para a presidência daquela instituição a funcionária de carreira (portanto, concursada) Maria Fernanda Ramos Coelho, com 22 anos de casa, que é apenas a oitava servidora (a primeira mulher) de carreira a assumir o cargo, sendo que a CEF existe há 140 anos.
Pois está é a receita, o caminho das pedras que conduz à liberdade do governante em relação às ingerências políticas. Bastaria, pois, enviar ao Congresso para votação ABERTA, um projeto de lei que determinasse que todos os funcionários de empresas e órgãos estatais, seja qual for o cargo, mas especialmente direção e presidência, sejam obrigatoriamente de carreira, concursados; chega desta estúpida, nojenta moeda política de nomeações.
Imagine o leitor o prejuízo das empresas públicas – já defendi muito as privatizações, mas talvez sejam desnecessárias, basta que não haja barganha de cargos de comando- quando um estranho passa a presidi-las. É um tal de atender deputado, governador, prefeito. Tudo por causa de uma penhora política, onde o sujeito que manda não tem pejo de dizer não.
É diferente daquele pessoal de carreira, que veste a camisa da empresa, se orgulha de nela trabalhar e, por ser concursado, tendo estabilidade, não precisa se submeter às exigências dos políticos.
Foi muito divulgado o episódio da CEF, por envolver um ex-ministro, mas na outra Caixa, que mudou de nome para Nossa Caixa, Nosso Banco, esta pertencente ao povo de São Paulo, mas comandada pelo acionista mor, o governo estadual, andou se metendo em enrascadas à moda Valeriana, justamente com empresas de publicidade.
O até hoje, 29/3/06 governador de S. Paulo e candidato à presidência, Geraldo Alckmin, diz que não há o que investigar...Então ta, aguarde outubro, governador.
Engraçada a nossa sociedade, onde obviamente me incluo: reclama, esperneia, mas na prática fica tudo só no boca-a-boca, nas manifestações internéticas, nos artigos e nos editoriais. Quem se dispõe (ou se atreve a ir às ruas?), onde está o fator galvanizante, aglutinante que faz com que um milhão de cidadãos (população total de 67 milhões) saiam às ruas na França para protestar contra uma lei que prejudica os interesses das maiorias?
Por que não podemos nós, pelo legítimo mecanismo do projeto de lei de iniciativa popular, acabar com todas as nomeações, sejam no INSS, nas estatais, no DNIT, no INCRA, etc.? Nada que seja contra o pessoal de carreira, mas contra os malditos pára-quedistas, os nomeados, que no mais das vezes, nada entendem do riscado?
Para o leitor ter uma idéia da malignidade das nomeações, seguem os nomes das figuras políticas, exoneradas ou não, que têm poder sobre as mais diversas estatais.
José Dirceu (PT), Valdemar Costa Neto(PL), Delcídio Amaral (PT), Renan Calheiros(PMDB), Antônio Palocci Filho(PT) , Carlos Wilson (PTB) e José Janene(PP), detêm, respectivamente o comando, através de apadrinhados, das seguintes empresas e autarquias: Petrobrás, Infraero, Itaipu, BR Distribuidora; DNIT (Rodovias); Petrobrás , diretoria internacional; Transpetro (bilhões em compra de petroleiros); Denatran e Petrobrás , diretoria de abastecimento. Os partidos, de forma independente, mandam (PMDB) no Porto de Santos, e na Receita Federal de Guarulhos; o PT controla o milionário Fundo da Marinha Mercante, a BR Distribuidora, os Correios, e uma importante diretoria na Petrobrás.
Pois é, saíram do poder, alguns, mas não o largaram. Mais um argumento a favor do fim das nomeações.
Finalizando, observo que este artigo foi fruto da carta de um leitor, que me fez algumas críticas, muito válidas. Um funcionário da CEF indignado com minha frase “sai da caixa você também”. Quem tem de sair não é o cliente, mas os administradores nomeados, aventureiros.
E como ando meio casado desta história de machismo, não vou mais escrever “o leitor”, e sim “a leitora”, pois se não há gênero indefinido para estes casos em nossa língua, não fará diferença se eu escrever “a leitora”, pois não?
(*) Luiz Leitão
Articulista político e administrador, Brasil
luizleitao@allsites.com.br