O 11 de setembro no rádio de Mato Grosso do Sul

Manhã de terça-feira, 11 de setembro de 2001. Eu estava no escritório da rádio Independente, em Aquidauana, Mato Grosso do Sul. Ouvia a programação normal, nos 1.020kHz. Era um dia tranqüilo como tantos outros aqui no Portal do Pantanal. Toca o telefone interno. Atendo e ouço o colega operador de rádio dizer: "Armando, a televisão aqui no Estúdio 'A', ligada na Globo, mostra imagens da cidade de Nova York, onde um avião bateu num edifício; o Almir Santana também acaba de entrar no ar com a notícia direto do Corpo de Bombeiros, onde está com o 'vermelhinho' e soube do acidente."
Deixo o meu escritório e corro ao Estúdio "A", no ar (naquele ano de 2001, ao contrário de hoje, ainda não tinha receptores de TV em todas as salas e departamentos da rádio Independente).
www.jerseycity.com

Pelo receptor da rádio Nacional - emissora do sistema Radiobras -, via satélite, levamos mais detalhes aos ouvintes, durante a programação normal e nas edições de hora em hora, nas horas cheias, do "Nacional Informa".
Arquivo pessoal/Armando Anache/1994

Começava a correria. De volta ao escritório, pego o telefone e ligo imediatamente ao meu colega e amigo Neils Lindquist, diretor do escritório brasileiro (Brazilian Branch) da Rádio Voz da América (Voice of America), em Washington, DC, nos Estados Unidos. Ele atende a começa a falar comigo. Informa que, da sua janela na Independence Avenue, pode ver a fumaça negra que sobe na área do Pentágono. Isso mesmo: o Pentágono havia sido atingido. Mas a ligação é cortada abruptamente. Fico tentando novo contato, mas não consiguiria nada nos próximos 30 ou 40 minutos. Neils diria, mais tarde, no ar, conversando comigo ao vivo, que a pane nos telefones havia sido uma das medidas de defesa tomadas pelo governo dos Estados Unidos.
No ar, ele conta, ainda confuso e emocionado com tudo o que acontecia - e havia a possibilidade do grande edifício da Voz da América ser também um alvo escolhido pelos terroristas - como estavam as cidades de Nova York e Washington naquele momento.
Arquivo pessoal/Armando Anache/1994

Explico ao leitor do blog que, em Washington, DC, onde fica a Casa Branca, nenhum edifício pode ser mais alto do que o Capitólio. O prédio da Rádio Voz da América, onde trabalham mais de 3.000 pessoas, transmitindo programas em 44 idiomas para todo o mundo - em AM, FM e via satélite e internet - é "grande" no sentido horizontal, devido às restrições de altura.
O diretor do escritório brasileiro da Voz da América, Neils Lindquist, informava naquela manhã de 11 de setembro de 2001 que o clima era de grande apreensão em toda a cidade de Washington. Grandes nuvens de fumaça subiam na área onde fica o Pentágono. Dentro do padrão de apuração jornalística da VOA (Voice of America), uma notícia é levada ao ar somente depois de confirmada por três fontes distintas e confiáveis. Esse procedimento já havia sido feito, tanto no tocante ao atentado contra o Pentágono, que teve um avião jogado contra um dos muros; quanto em relação às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York.
www.usnews.com

Neils Lindquist ressaltava - em excelente português conseguido depois de vários anos morando no Brasil, onde o seu pai serviu como diplomata - que, como norte-americano, tinha um sentimento de desolação, de repulsa pelo ataque covarde que, certamente, deveria ter feito centenas ou milhares de vítimas [naquela manhã de terça-feira, 11 de setembro de 2001, as informações sobre mortos e feridos ainda eram confusas].
Naquela manhã, relembrei com Neils que, em julho de 1994, durante a minha permanência nos Estados Unidos - participando do "Fifteenth News and Current Affairs on Drugs" -, fiz no seu carro um passeio de Washington, DC, até o Porto de Alexandria, em Virgínia. Naquela ocasião, passamos por um viaduto. À direita do carro, vi o grande prédio do Pentágono e fiz um comentário: "Neils, como é que o Pentágono fica lá embaixo, sendo possível a sua livre visão daqui de cima do viaduto, onde um maluco pode se posicionar com um lança-rojão ou outra arma, por exemplo, para fazer um atentado?" O meu amigo respondeu que "isso não aconteceria, pois as defesas terra-ar e terra-terra em Washington, onde fica o presidente dos Estados Unidos, o Capitólio e tantos outros edifícios federais, são muito eficientes."
Não poderíamos imaginar que, sete anos depois, aconteceria o atentado contra o Pentágono. Não com um lança-rojão, mas com um avião comercial seqüestrado por terroristas suicidas em pleno vôo.
Depois de entrar no ar várias vezes, naquela manhã trágica e que marcaria a História da humanidade, conversando e conseguindo as primeiras informações direto dos Estados Unidos, com Neils Lindquist; retornei ao meu escritório e, nele, redigi as primeiras notícias no meu notebook. Elas foram destaques de primeira página na internet, por meio do site Pantanal News, o pioneiro - desde 1998 - das regiões de Aquidauana, Anastácio, Miranda, Corumbá e Ladário, na fronteira com a Bolívia. De Aquidauana, eu enviei por e-mail os textos que foram publicados pelo webmaster que estava no escritório do site Pantanal News em Corumbá.
www.loc.com

A tensão vivida, naquela manhã e também no início da tarde, foi muito grande. Afinal, como já escrevi, o edifício da Rádio Voz da América - pertencente ao governo dos Estados Unidos e, portanto, um prédio federal como o Pentágono - poderia ser um alvo escolhido pelos terroristas naquele 11 de setembro de 2001. No entanto, nada aconteceu e todos os amigos jornalistas que eu havia conhecido em julho de 1994, quando visitei a Rádio Voz da América.
Todos sobreviveram ao 11 de setembro. Um deles era o grande mestre Luiz Amaral - jornalista dos tempos dos "Diários Associados" e que trabalhou com Assis Chateaubriand aqui no Brasil -, hoje aposentado e morando com a sua mulher em Virgínia, bem próximo a Washington, DC.
A minha ligação com a Rádio Voz da América vinha desde agosto de 1994, quando Neils Lindquist esteve comigo aqui no Pantanal Sul para instalar, ao lado do engenheiro eletrônico Kong Hong, o sistema de recepção via satélite das programações em portugûes para o Brasil, espanhol e inglês, na rádio Clube de Corumbá, emissora afiliada nesta região e onde atuei como correspondente até a Copa do Mundo de 2002.
Este texto tem como finalidade tentar mostrar que, mesmo no interior do Brasil, é possível fazer jornalismo de boa qualidade, levando informações instantâneas que só o grande veículo de comunicação chamado rádio pode proporcionar. O ouvinte merece. O leitor da internet também. Dá trabalho e custa caro. Mas o sabor final do dever cumprido é incrível. A satisfação profissional é imensurável.
Pena que, neste caso, tratou-se de uma grande tragédia, com 2.749 pessoas mortas.
Veja o "Vídeo do Dia" da Voice of America - as fotos do 11 de setembro, feitas por um policial de Nova York, transformam-se em fonte de controvérsia - clicando AQUI
1 Comments:
Colega Armando, me permita um pequeno ajustezinho... nosso grande Neils, era - e ainda é - o chefe do serviço em português para a África. O serviço brasileiro da VOA foi extinto exatos 10 dias antes, em primeiro de setembro de 2001. Na época, o chefe do Brazilian Branch era um portoriquenho chamado Oscar Barceló. Tenho 100% de certeza porque o serviço brasileiro, quando foi extinto, era formado pelos históricos Dias Leme, Pedro Kattah, Luis Amaral, Dias Leme, José Américo, Renato Bittencourt e dois mais novinhos: Edgard Junior (hoje na Globonews e na Rádio Itatiaia) e eu, Eduardo Castro, hoje gerenciando o jornalismo da EBC, que orgulhosamente coloca no ar, de hora em hora, o Nacional Informa.
Abs!
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