'Igreja de Anastácio não é do padre Patrício, mas do povo'; diz o seu construtor
O padre Missionário Redentorista John Patrick (Patrício) Kennington, 73, lembrou nesta manhã, na rádio Independente, como foi a construção da Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes, em Anastácio - 135 quilômetros a oeste de Campo Grande -, que comemora 25 anos neste fim de semana.
Ele foi entrevistado pelo pároco de Anastácio, padre Erasmo Duarte - que apresenta, das 7h40 às 8h o Programa "Palavras de Paz e Esperança" - e por este blogueiro, no Programa Armando Anache, das 8h às 10h.
O padre Patrício - hoje aposentado e vivendo numa instituição religiosa dos redentoristas, no bairro do Brooklin, em Nova York, nos Estados Unidos - disse que tudo começou quando, em 1965, recebeu do então pároco de Aquidauana, padre Tomé, a ordem para que iniciasse a construção de uma igreja na margem esquerda do rio Aquidauana.
Desde 1961, quando chegou dos Estados Unidos para trabalhar na paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, em Aquidauana, e até 1962 e 1963 o padre Patrício permaneceu "trabalhando exclusivamente na margem direita do rio, sem atravessar para Anastácio, que ainda não tinha igreja."
"Eu nem ao menos dominava o idioma português, pois apenas fizera um rápido cursinho em Nova York, antes de vir para cá", recorda o padre Patrício. Muito simpático e aparentando muito menos que os 73 anos de idade - ele nasceu em 1933 -, padre Patrício ri bastante quando conta que, "numa certa ocasião, logo nos primeiros meses aqui em Aquidauana, fui escalado para atender no confessionário; a fila ficou enorme, pois as pessoas devem ter imaginado que poderiam contar todos os pecados ao padre americano, que não entendia quase nada de português e só sabia falar 'que lindo céu azul' e algumas outras poucas frases."
Nos primeiros dias em Aquidauana, padre Patrício foi levado ao hospital pelo paroquiano Tonico Pace. "Ele me disse que eu deveria ver uma operação num hospital, para ficar habituado a ver sangue; eu era um jovem padre de 28 anos de idade e aceitei o convite e, depois disso, ficamos grandes amigos", diz o padre Patrício.
Outra pessoa de quem o padre redentorista se lembra com muito carinho é o "coronel" Zelito Ribeiro. "Junto com a sua família, ele foi um dos grandes colaboradores que tive, quando comecei, de 1965 para 1966, a construção da igreja de Anastácio", diz o padre Patrício.
"Muitos dos fazendeiros daquela época não tinham dinheiro vivo, em caixa, mas colaboravam com o que podiam, principalmente doando cabeças de gado; numa demonstração de que o povo dessa região tem um coração muito grande, quando se trata de ajudar numa obra de Deus", responde o padre Patrício quando pergunto como eram aqueles tempos.
Emocionado, ele lembra que, "em 1961, minha mãe veio dos Estados Unidos, para me visitar aqui em Aquidauana; ela não falava nenhuma palavra nem entendia o português, mas ficou encantada com o povo, que a abraçava em todos os locais onde ela ia comigo."
Sobre a localização da igreja Matriz de Anastácio, o padre Patrício informa que "escolhi o local mais alto que estava disponível na margem esquerda [do rio Aquidauana] porque queria que, no futuro, nenhum edifício que pudesse ser construído na região, pudesse cobrir a vista da igreja; nada tem a ver com a possibilidade de uma igreja [de Anastácio] ficar de frente para a outra [de Aquidauana]."
Nos primeiros dias em Anastácio, depois de receber a missão de construir a igreja, padre patrício foi a Nova York, num período de férias. "Lá, estive com o meu irmão, que era tenente do Corpo de Bombeiros; ele me apresentou ao chefe do Departamento e ganhei um sino feito de níquel, que eu trouxe comigo aqui para Anastácio, onde ele era usado embaixo de uma mangueira, local em que eu rezava as missas", diz o padre Patrício.
Sobre a construção da igreja de Nossa Senhora de Lourdes, padre Patrício diz que, mesmo não tendo nenhuma experiência em construções, mesmo assim arriscava-se ao subir em cima das paredes que começavam a ser levantadas pelos operários e pedreiros. "Eu ficava lá em cima, junto com os pedreiros, me equilibrando naquelas paredes de apenas um tijolo e meio de largura", informa o padre.
Para arrecadar dinheiro e não deixar que a obra parasse - fato que jamais ocorreu durante a construção -, o padre Patrício fazia festas na paróquia de Aquidauana e também em Anastácio. "Eram festas da padroeira, bingos, rifas, quermesses, churrascos com bois doados pelos fazendeiros e boiadeiros da região, desfiles de modas, exibições de filmes no cinema, coroação de Nossa Senhora Imaculada Conceição e tantas outras promoções", informa o padre americano.
Ele explica que, às quintas-feiras, encontrava com os fazendeiros de Aquidauana - Anastácio ainda não havia se emancipado naquela época e era conhecida como "a margem esquerda de Aquidauana" - e perguntava a eles se teriam algum novilho para ser doado. Quando a resposta era positiva, o padre Patrício providenciava uma caminhonete para pegar as doações, no sábado.
Durante a entrevista ao vivo, na rádio Independente, o padre Patrício ouviu as participações de dois ouvintes. O ajudante da cozinha, Ladislau, disse que trabalhava com a equipe do padre Patrício no casarão montado na margem esquerda, ajudando a fazer a comida para todos. Do bairro Alto, telefonou Olímpio de Barros. Ele recordou daqueles tempos da construção da igreja, quando "era comentarista das missas do Peão de Boiadeiro e sempre participava das promoções feitas pela paróquia de Aquidauana."
Demonstrando muita emoção, ao ouvir pelo telefone velhos e queridos amigos, o padre Patrício fez questão de ressaltar que "esta [a igreja Matriz de Anastácio] não é a igreja do padre Patrício, mas sim do povo de Anastácio; dou graças a Deus por ter sido um instrumento Dele nessa obra religiosa."
Quando pergunto sobre o dia da inauguração da igreja de Anastácio, o padre Patrício diz que a sua memória falha, às vezes, mas ele não se lembra de ter havido uma festa. "Lembro-me, apenas, que faltava a porta da frente da igreja, na época avaliada em mil dólares americanos; em 1967 fui visitar o Santuário de Lourdes, na França, onde uma senhora prometeu a mim que doaria cem dólares dela e das suas amigas; em 1967 e 1968 esse dinheiro chegou aqui ao Brasil, mas em 1969 ela morreu e, para minha surpresa - e creio que aí existe uma obra do espírito Santo -, tomei conhecimento que, no seu testamento, ela deixara mil dólares para 'a igreja do padre do Brasil', que era a nossa Matriz de Anastácio", diz o padre Patrício.
"Foi assim que eu pude comprar a porta da frente da igreja", informa o padre Patrício, que considerou concluída a obra no fim do ano de 1969. "No ano seguinte, em 1970, fui transferido para assumir a função de vigário de Antonina, no Paraná; lá enfrentei novos desafios, pois a cidade sofria com a saída da Indústria Matarazzo e de outras e a nossa emissora de rádio estava há mais de nove meses fora do ar, pela falta de uma válvula no transmissor, que acabamos substituindo depois", lembra o padre Patrício.
Em 1974, no Paraná, o padre Patrício, também conhecido como Jack Patrick Kennington [Jack é uma forma de chamar pelo nome John, explica o redentorista], trouxe ao Brasil o Encontro Matrimonial.
Para ele, a inauguração da igreja de Anastácio - que foi toda reformada nos últimos meses - será neste fim de semana. Às 19 h deste sábado, haverá a noite de homenagens para os iniciadores da igreja, no salão paroquial.
Amanhã (22), às 18h, será realizada a "procissão em louvor a Deus pela caminhada da paróquia", no cruzamento das Ruas Carlos Luzardo com Nilza Ribeiro, próximo à igreja Matriz; seguindo até o local da Santa Missa, no Ginásio Poliesportivo de Anastácio.
Na segunda-feira (23), padre Patrício retornará aos Estados Unidos.
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Marcadores: Igreja Matriz Anastácio, padre Erasmo Duarte, padre Patrício Kennington
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