Corumbá enfrenta a prostituição infantil

Recebo e-mail do intrépido Schabib Hany, da OCCA (Organização de Cidadania, Cultura e Ambiente), no qual ele expressa o momento hitórico vivido em Corumbá, com o lançamento da campanha de enfrentamento à prostituição infantil.
Parabéns, caro Schabib e equipe.
Quanto ao silêncio de alguns, o tempo dirá que eles, na realidade, perderam uma grande oportunidade de presenciar um momento único da história.
Ou será que o "lobby" de setores interessados na prostituição já atinge algumas pautas ? Não posso e não quero acreditar nisso !
Transcrevo, abaixo, na íntegra, o texto do escritor e jornalista Ahmad Schabib Hany :

"Corumbá, ao sediar o lançamento da Campanha Internacional de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes na Bacia do Prata, protagonizou mais um fato histórico de conquista da cidadania, de transcendência continental, a despeito da lamentável falta de cobertura das emissoras de rádio e de televisão, bem como da mídia impressa diária. O jornalismo, a bem da verdade, foi salvo pelos combativos serviços informativos veiculados pela Internet. Não fossem as câmeras atentas dessas equipes, não teria sido registrado para a posteridade o ato de lançamento realizado na quinta-feira, dia 23, no Espaço Educacional, com quase duas centenas de cidadãos engajados em movimentos sociais ou ligados a instituições públicas que atuam na área social de diferentes países latino-americanos.
Graças à determinação da atual direção do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Fluvial de Corumbá (SINDFLUMS) e à combatividade longeva da categoria aquaviária na região (não por acaso, com a denominação de marítimos, foi uma das primeiras categorias a se organizar no início do século 20), a direção da Federação Nacional dos Trabalhadores em Transporte Aquaviário e Aéreo (FNTTAA) aceitou o desafio e iniciou a interlocução, em Corumbá, com técnicos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mediante a fundamental participação da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, que coordena o Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Exploração Sexual Infanto-juvenil (PAIR). A partir daí, aderiram a Federação Internacional de Trabalhadores em Transportes (ITF), Confederação Nacional dos Trabalhadores Aquaviários, na Pesca e no Porto (CONTTMAF), suas entidades de base e as entidades congêneres no Paraguai e na Argentina.
Assim, o projeto da OIT de enfrentamento à exploração sexual no Brasil –executado pelo Centro de Referência em Estudos da Infância e Adolescência (CREIA), do campus local da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)–, contemplou propostas construídas nesse rico processo participativo, cuja tônica é a afirmação do protagonismo cidadão: o estímulo da iniciativa solidária de cada segmento social e cada categoria profissional, de forma a que o anônimo cidadão seja o construtor de sua própria história. É chegado o momento de que entidades de base possam ser incluídas no processo de execução dessas ações, não como forma de cooptação mercadológica, mas pela necessária instrumentação dos operadores de direitos e multiplicadores de ações nas diferentes localidades –e sem a descabida exclusão de entidades independentes, como, por exemplo, vinha acontecendo até a administração municipal passada.
Para nós, da Organização de Cidadania, Cultura e Ambiente (OCCA), parceiros de primeira hora, o sentido dessa conquista tem uma dimensão bem maior. O SINDFLUMS, ao lado do Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário (FORUMCORLAD), Comissão Municipal de Combate à Exploração e ao Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes (COMCEXCOR), Comitê Estadual Pelo Fim da Exploração e do Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes (COMCEX/MS) e Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil, está contribuindo efetivamente com ações concretas junto à população ribeirinha de todos os países da histórica Bacia do Prata (atualmente chamados de Mercosul) no enfrentamento dessas mazelas sociais, mas sobretudo solidifica as organizações sindicais e comunitárias e o movimentos populares num tempo em que a chamada globalização esvaziou sua capacidade de intervenção no processo histórico.
Dessa forma, e sem a pretensão de substituir o papel do Estado, temos consciência e clareza de que a campanha não deverá se resumir à reprodução de panfletos, adesivos, cartazes e eventos pontuais, nem tampouco à mobilização de forças-tarefa policiais. mas sobretudo o fomento de um rico processo de engajamento progressivo, de mudança de comportamento, de fortalecimento dos mail elevados valores do processo civilizatório e de valorização da vida, como princípio de direitos. Obviamente, nesse contexto, não há lugar para a intransigência: pelo contrário, as convicções democráticas são fundamentais, embasadas no princípio da solidariedade e da ética universal, em que a palavra é o instrumento de compromisso e principal arma nesse processo cidadão, cujo início é sabido, mas a conclusão ficará a cargo das futuras gerações.
Ahmad Schabib Hany"

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