Artigo: O que é isso, César Maia?
Artigo: O que é isso, César Maia?
Por Stepan Nercessian (*)
Ocupei recentemente a tribuna da Câmara dos Vereadores para entregar o relatório da Comissão Especial de Acompanhamento dos Jogos Pan-Americanos de 2007. Antes de fazê-lo, no entanto, teci comentários sobre alguns aspectos da gestão do Prefeito César Maia, os quais desejaria abordar neste artigo.
São aspectos relacionados aos preparativos dos Jogos, cujo dinamismo e capacidade de gerar fatos novos merece ser destacado. A meu juízo, a Prefeitura do Rio de Janeiro tem virado as costas, de forma praticamente irresponsável, a toda uma séria de iniciativas que vinham se desenvolvendo em relação ao esporte na cidade. Assim, os jornais publicaram a interrupção de um projeto formulado por uma escola de Jacarepaguá, que visava revelar novos talentos esportivos, mormente nas comunidades mais carentes. Esse projeto abarcava modalidades como a natação e o atletismo. O mesmo ocorreu na Rocinha, com as aulas de judô. E isso é realmente muito triste. Alguns desses projetos se mantêm apenas porque as comunidades locais se mobilizaram, saíram em sua defesa.
É o caso de se perguntar então: qual o interesse dessa Prefeitura em relação aos Jogos Pan-Americanos? Não quero crer que esse interesse se relacione apenas ao cimento, ao aço, problemas ligados enfim às construções dos equipamentos olímpicos. Quando se trata de liberar gabaritos de áreas construídas ou então de licitações para compra de materiais, a Prefeitura manifesta grande interesse sempre. Evidentemente, é necessário construir - mas o atleta deveria vir em primeiro lugar.
Há muitas manobras políticas praticadas pelo Prefeito César Maia. Lembro a votação, pela Câmara dos Vereadores, do chamado Lote 27 da área de proteção ambiental da Barra da Tijuca. O Vereador Guaraná, juntamente com o Vereador Jorge Pereira, apresentou um projeto modificando a estrutura daquela APA. Diante dos protestos da imprensa e da população, o Vereador Guaraná recuou. E o Prefeito César Maia, dizendo-se em sintonia com o povo da cidade, veta a construção do que quer que seja na APA.
Acontece que - como em um passe de mágica - toda a bancada que apóia e dá sustentação política ao Prefeito vota contra esse mesmo Prefeito, derrubando assim o veto dele... E a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro fica com o desgaste. Será que o Prefeito César Maia desconhece as ações da sua própria bancada - ele que tanto cobra do presidente Lula o fato de não ter informações sobre o que se passa nos porões do Governo Federal? É no mínimo estranho. Mas isso não é tudo: no dia seguinte à votação, à derrubada do veto, o Prefeito anuncia que vai argüir a inconstitucionalidade do projeto. A Câmara de Vereadores foi jogada aos leões.
Eu não quero fazer parte dessa farsa. Somos nós, vereadores, que votamos contra o projeto e não o Sr. Prefeito. Um Prefeito que busca sair, aliás, como herói nessa história. Isso, depois de o líder da bancada do PFL, Vereador Jorge Pereira, ter se empenhado tanto - e estranhamente - para derrubar o veto do próprio Prefeito.
A única coisa que eu peço é que os jornais editem a notícia certa. Porque a imprensa não diz quem, desde o início, votou contra esse projeto de transformação da APA. Fica aqui o meu registro e o meu protesto.
(*) É ator e vereador pelo PPS no Rio de Janeiro.
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