Artigo de Luiz Leitão: Surpreendentes atitudes
Surpreendentes atitudes
Por Luiz Leitão (*)
Num só dia, duas grandes surpresas nas atitudes de dois personagens, o ex-ministro dos transportes do governo Lula, Anderson Adauto, eleito prefeito de Uberaba (MG) para o período 2005 a 2008, declarou à Agência Brasil (do governo federal) que houve caixa dois em todas as suas campanhas, nada menos que nove como candidato e duas como coordenador,sendo a penúltima a de Lula em 2002. Já foi quatro vezes deputado estadual em MG e uma vez federal.
Para quem gosta de falar mal da imprensa, a notícia partiu da agência noticiosa oficial, à qual Adauto afirmou que nunca viu campanha se fechar tal como declarada ao Tribunal Superior Eleitoral e disse ainda que à CPI do Mensalão que não contabilizar – lá vem o eufemismo – todos os recursos é prática comum no Brasil. O nome do jogo é caixa dois mesmo, subfaturamento, maracutaia.
Adauto trabalhou pela campanha de Lula e também na de Nilmário Miranda, para o governo de Minas. Disse que recebeu dinheiro de Delúbio Soares e que quem precisa não questiona, não entra em detalhes (sobre a origem dos valores).
Com esta confissão, embora corajosa, Adauto deveria ser afastado da prefeitura, já que foi contemplado por dinheiro ilícito.
As coisas se complicam, pois enquanto um tenta – e consegue -, por motivos que nem ousamos imaginar, impedir a CPI dos Correios de ouvir a testemunha Soraya Garcia, denunciante do caixa dois no pleito de 2004 para a prefeitura da cidade paranaense de Londrina, outro vem e diz com todas as letras à CPI que todas as campanhas políticas de que participou tiveram caixa dois, inclusive a de Lula, conclui-se. E a afirmação vem nada mais, nada menos que de um ex-ministro do governo Lula.
Informou o jornalista Ricardo Noblat que “pouco antes do meio-dia, o senador Delcídio Amaral, que é do PT e preside a CPI conversou com dois deputados e lhes disse que Lula o havia chamado ao Palácio e no encontro lhe pediu que o depoimento de Soraya fosse cancelado”. E foi cancelado!! Com Soraya já em Brasília, prontinha para depor às 14horas. Delcídio, claro, nega ter falado com Lula.
Revela ainda Noblat que “(Soraya) estava disposta a revelar novos detalhes que poderiam incriminar ainda mais duas pessoas: o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo e o já conhecido Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Luiz Inácio”.
É necessário mais para que a sociedade se sinta afrontada? O presidente da República “pede” e o presidente da CPI dos Correios servilmente obedece!!
Não foi Hélio Bicudo, petista histórico quem disse que Lula é mestre em esconder a sujeira debaixo do tapete? Só não se poderia imaginar que fosse fazê-lo de maneira tão acintosa como agora. Obviamente, na versão oficial, nada disto aconteceu...
Esta atitude é praticamente uma confissão de culpa, jamais um presidente poderia intervir no andamento de uma CPI, por mais incoerente que seja em seus discursos e ações.
O castelo está ruindo rápido agora, Palocci está encurralado por em denúncias cada vez mais difíceis de contestar e Lula denota desespero ao impedir de maneira despudorada o depoimento de uma testemunha à CPI.
Mas o que mais espanta não é o feito do presidente e sim a concordância dos membros da Comissão em deixar de ouvir alguém que, em vista do, digamos, apelo presidencial, poderia causar estragos fenomenais no que resta de seu governo e partido. Por isso mesmo, não só uma ameaça a si e aos seus, mas a levar em conta a vergonhosa subserviência dos parlamentares, uma Espada de Dâmocles parece pairar sobre muitas cabeças daquela Casa.
Dada a amplitude do escândalo, é de duvidar que saiam impunes, mas não pela ação das CPIs, onde um lado ameaça o outro e todos têm o rabo preso.
A esperança está nas outras instâncias investigativas: a CGU- Controladoria Geral da União (cujo papel diz-se que Luiz Gushiken tenta esvaziar), os Ministérios Públicos Estadual e Federal, a Polícia Federal e a Receita Federal, e até a Polícia Civil de Ribeirão Preto (cujo delegado, Benedito Antônio Valencise está fazendo um ótimo trabalho), além do GAERCO Grupo de Atuação Especial Regional para Prevenção e Repressão ao Crime Organizado, que certamente saberão fazer bom uso do farto material e dos indícios que têm à mão.
(*) Luiz Leitão
Administrador e articulista, Brasil
luizleitao@ebb.com.br
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