Artigo de Adilson Luiz Gonçalves: "Voto nulo"
Voto nulo
Por Adilson Luiz Gonçalves (*)
Desde que comecei a votar, nunca votei nulo ou em branco. Reconheço, no entanto, que o processo de escolha dos candidatos foi ficando cada vez mais árduo, com a maturidade. Mesmo assim, nunca votei “por votar”, e sempre me recusei a fazer votos de protesto esdrúxulos, em: animais, figuras fictícias ou personagens folclóricos. Pelo contrário, cada voto que depositei numa urna, fosse impresso ou virtual, foi portador de minha sincera esperança numa cidade, num estado e num país melhores.
Busquei analisar e crer nos discursos de candidatos que me pareceram sinceros e efetivamente comprometidos com as causas populares e nacionais. Fiquei feliz, num primeiro momento, quando eles venceram. Fiquei triste quando perderam.
Votei na “direita”... Votei na “centro-direita”... Votei no “centro”... Votei na “centro-esquerda”... Votei na “esquerda”... Só não votei em “extremas” de qualquer direção!
Protestei, sim! Mas, usando meu voto para tentar destituir quem não foi correto no exercício de suas funções. Também acreditei que com ele poderia afastar pessoas de má índole da política. Enfim, fiz de meu voto um laboratório da democracia, misturando o empirismo da fé com o desejo de mudança!
Hoje, cheguei a uma patética conclusão: Meu voto sempre foi nulo!
Eu nunca o anulei, mas ele foi tornado nulo, por não ser respeitado por quem o pediu e recebeu. Ele foi anulado toda a vez que um candidato não reeleito foi nomeado para um cargo público. Ele foi rasgado e jogado no lixo sempre um “sim”, convicto, de campanha virou um “não”, explícito ou sigiloso, nas votações, em plenário, e vice-versa. Ele foi pisado e desfigurado quando o que deveria ser público foi decidido entre quatro paredes, com ou sem escuta telefônica...
Meu voto é nulo, como o de muitos brasileiros, porque não consegue limpar a lama espalhada pela maioria dos “legítimos representantes do povo”, nem a gordura das “pizzas” em que, invariavelmente, terminam seus inquéritos - tão espalhafatosos quanto inócuos -, nem o ranço de práticas historicamente nefastas, nem as lágrimas do povo. É sem valor porque as mensagens das urnas não são entendidas, por quem perde ou ganha. É inócuo porque elege, mas, não pode cassar!
Sou eu que não sei votar, ou são os que têm escolhido a vida pública que são fracos, “espertos”, egoístas ou vaidosos demais, para entenderem que os cargos que ocupam não são seus, mas dos que os elegem?
Pior que a frustração é ver que os que traem nossa confiança ainda querem culpar-nos por seus atos, como se fossemos cúmplices de suas más escolhas... Não somos! Pois, os “cordéis” que têm movimentado a política nacional nunca foram efetivamente manipulados pelo povo! Se fossem, com certeza os empossados não teriam chance de ficar “empoçados” por muito tempo... Ao menos, pensariam duas vezes, antes!
Nosso sistema de votação é moderno, mas, a maioria de nossos políticos, não! Há algum tempo nossos votos e urnas são eletrônicos, mas, se voltássemos a usar cédulas de papel, elas teriam que ser de papel absorvente, higiênico. Já as urnas teriam uma abertura um pouco maior, em cima; e o voto seria depositado puxando uma corda, girando uma alavanca ou apertando um botão! Este último modo pode, até, lembrar o sistema atual, mas, em vez dos bips eletrônicos, o som de confirmação seria um pouco diferente... Mas, mesmo sabendo que, apesar de minha fé e perseverança, meu voto nunca teve força ou valor, não vou desistir de tentar! Continuarei a acreditar que ele pode ser como “água mole em pedra dura...”! Insistirei na democracia!
Quem sabe, um dia, ele alcance valor efetivo, quando, com todos os avanços da tecnologia de informação, eu puder votar direta e seguramente, pela Internet, em vez de ser representado por quem o pediu, vota em meu nome, mas não pede a minha opinião, nem houve o clamor das ruas, depois de eleito.
Democracia direta! Ela amedronta alguns, principalmente os que terão que procurar outra atividade para subsistir, fora do carreirismo ou oportunismo políticos; mas, talvez seja a única forma de impedir que nossos votos continuem a ser nulos!
(*) Adilson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro e Professor Universitário
Mestrando em Educação
Autor do livro: "Sobre Almas e Pilhas", Editora: Espaço do Autor
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algbr@ig.com.br
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