Dora Kramer, no Estadão: Delcídio e o telefone
DORA KRAMER
O telefone
O deputado Arnaldo Faria de Sá não é exatamente um fidalgo e chega às vias da grosseria na CPI dos Correios.
Foi dos poucos a não se impressionar com as lágrimas de Renilda Santiago - "Comigo ela não chorou porque bati no fígado, os outros tentaram atingir o coração" - e até o fim insistiu para que ela desse à CPI o número do telefone que usava para se comunicar com o marido, Marcos Valério.
Embora tenha prometido passar o número ao relator, ela saiu da CPI sem cumprir a promessa. Arnaldo no dia seguinte insistiu e cobrou a informação do presidente da CPI, senador Delcídio Amaral, que tergiversou e não forneceu.
Arnaldo acha que Delcídio fez de propósito. E por quê?
"Porque aquele telefone era pré-pago, não vai aparecer nas quebras de sigilo telefônico e era através dele que ela falava com toda a quadrilha. O número daquela linha é o xis da questão", diz Arnaldo, prometendo não desistir.
Comentário do repórter: Sem querer ser como aquele cidadão que sempre afirma "eu já tinha pensado nisso", depois de ouvir alguém falar sobre algum tema polêmico, posso garantir que, revendo o depoimento da mulher do empresário Marcos Valério, exatamente no momento em que ela era inquirida pelo deputado Arnaldo Faria de Sá, pude notar que houve um mal estar explícito da parte do senador corumbaense e pantaneiro, Delcídio Amaral (PT-MS).
Basta prestar atenção, como eu fiz, nas caras e bocas mostradas na telinha da televisão.
O filho de dona Roseli ficou visivelmente constrangido. Na primeira vez que vi a cena, ao vivo, pela TV Senado e com som da Rádio Independente, em cadeia com a Rede Jovem Pan Sat, confesso que tive a sensação que o senador pantaneiro tivesse, talvez, naquele momento de extrema tensão, pensado na sua própria mulher. Explico: Homem nenhum - e eu me incluo também, pois tenho a minha mulher e não admito que ninguém falte com o respeito devido à ela; e já paguei muito caro por pensar assim e etcetera e tal e sem comentários e ponto final - permite que a sua mulher seja ameaçada ou achincalhada (ou humilhada, aviltada, ridicularizada) por quem quer que seja. Nem bandido permite isso. Mulher é mulher e pronto. Respeito é bom e não faz mal a ninguém. Só que a Renilda Maria, com todo o respeito, além de mulher é sócia do empresário Marcos Valério. Entendeu, caro leitor? Sócia do carequinha. Tudo bem: Isso não quer dizer que ela pudesse ser tratada sem o devido respeito. Não é nada disso, ok?
Mas, revendo a fita com o depoimento da Renilda Maria Peixoto de Souza, percebi, naquele momento, prestando mais atenção e com a cabeça mais fria, que realmente houve uma demonstração de inquietação do senador Delcídio.
É evidente que não tenho o poder da doce e simpática Mãe Diná, para ler o pensamento do senador corumbanese naquele momento. Não sei o que ele pensou nem perguntei, ainda, a ele. Mas, pensando friamente, sem emoção, acho que - sem deixar de elogiar a atitude acertada do presidente da CPMI dos Correios em chamar a atenção do deputado Faria de Sá no tocante à forma como tratava a depoente, usando o pronome de tratamento "você", ao invés de "senhora" e "Vossa Senhoria" - não cabia aquela impaciência do senador Delcídio Amaral com a insistência das perguntas relativas ao número do telefone.
Ela tinha que responder e pronto. Ficou parecendo - e já escrevi aqui que a verdade semeia inimizades, e já sou meio "doutor honoris causa" nisso; e a bajulação barata traz muitos amigos - que a revelação do número do telefone celular poderia trazer mais dores de cabeças a figurões da República.
E mais, a imprensa noticiou que, no momento do depoimento da mulher do carequinha Marcos Valério, o telefone celular do senador Delcídio tocou e, do outro lado da linha, estava o ex-ministro e atual deputado federal José Dirceu. Os dois falaram durante algum tempo. Depois, jantaram juntos. Essas informações não são minhas, mas de colegas jornalistas que publicaram em jornais e na internet. Até agora não li nenhum desmentido a respeito dessas notícias. Exceção feita para aquela que informava que o senador corumbaense deixaria o PT após a conclusão dos trabalhos da CPMI dos Correios.
Sei não, leitor amigo. O que você acha?
Eu não acho nada, não! Só publico notícias. "Vade retro", Belzebú!
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