Kennedy Alencar, da "Folha": Com atraso, Lula fez a coisa certa

O blog publica comentário a respeito do pronunciamento do presidente Lula, escrito pelo jornalista Kennedy Alencar, da "Folha de São Paulo":
Com atraso, Lula fez a coisa certa
Apesar de uma demora que diminuirá a eficácia de seu gesto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez a coisa certa. Pela primeira vez, deu explicações ao país sobre a crise política. Pediu desculpas "a todo o povo brasileiro", admitiu "erros" do governo e do PT e se disse "indignado" e "traído por práticas inaceitáveis" de membros de sua administração e de seu partido.Com essa atitude, Lula deverá ganhar fôlego para tirar força das conversas que aventam a possibilidade de uma eventual impeachment. O presidente deveria ter falado antes. No entanto, melhor tarde do que nunca.Agora, Lula deve continuar a dar explicações. Já disse que não tinha conhecimento do esquema PT-Marcos Valério. Uma entrevista coletiva, na qual responderia em detalhes a questionamentos da imprensa, seria uma boa atitude nessa hora. Deveria abordar questões como a suposta dívida com o PT e o aporte de recursos de uma grande empresa a uma companhia que tem seu filho como sócio. São questões legítimas e de interesse público. Um presidente da República não pode considerá-las invasão de privacidade. Para o bem de Lula, do governo e do país, ele precisa responder a tudo, até mesmo a eventuais críticas e ataques injustos e levianos.
Lula não é Collor
No PT, começa-se a discutir uma perigosa mobilização de "setores da sociedade" para defender o mandato de Lula. É brincar com fogo. Como é brincar com fogo a oposição falar em impeachment baseada no forte depoimento de Duda Mendonça à CPI dos Correios, no qual admitiu que campanhas do PT de 2002 foram pagas posteriormente com recursos ilegais de Marcos Valério.É preciso mais do que isso. É preciso provar que o presidente cometeu um crime de responsabilidade. Definitivamente, Lula não é Collor.
Kennedy Alencar, colunista da Folha Online, é repórter especial da Sucursal de Brasília da Folha de S.Paulo. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e de enviado especial às guerras do Kosovo (1999) e do Afeganistão (2001). Escreve na seção Brasília Online aos domingos.
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