Artigo: Estranha reação, por Luiz Leitão
Estranha reação
Por Luiz Leitão (*)
À medida que certos acontecimentos envolvendo a figura do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho vão se tornando mais freqüentes, ele vai perdendo aquela sua até então característica fleuma. Não passou tanto tempo assim desde que foi aplaudido de pé por políticos e empresários, elogiado em vários editoriais e artigos quando de sua autodefesa a respeito das acusações de envolvimento com um suposto esquema de recebimento de mesada em sua gestão à frente da prefeitura da cidade paulista de Ribeirão Preto.
Numa estranhíssima reação para quem costuma acolher com galhardia provocações, sabotagens – subliminares, no caso de José Dirceu – e acusações, o ministro Palocci desta vez surpreendeu ao ameaçar pedir demissão de seu cargo se a CPI dos Correios prosseguisse na tentativa de convocar seu irmão, Adhemar Palocci, diretor de planejamento e engenharia da estatal Eletronorte, para prestar depoimento a respeito de contratos da empresa com uma pequena seguradora.
O ministro até admite ser chamado para falar sobre o eventual envolvimento de algum familiar, mas jamais que estes sejam intimados a depor. Causa estranheza tal atitude, pois qual haveria de ser a diferença entre o irmão falar por si ou o ministro dar explicações em seu nome, como se fosse seu advogado?
A confusão estabeleceu-se porque a empresa seguradora, minúscula para os parâmetros do mercado em que atua, fez bilionários contratos de seguro com empresas de eletricidade estatais, mas não todas elas controladas pelo governo federal. Destas, apenas a Eletrobrás, a maior, é estatal federal. Mas a seguradora é a mesma que atendeu a empresa Leão & Leão, onde trabalhou o autor das denúncias contra o ministro, Rogério Tadeu Buratti.
A encrenca não é pequena, pois três órgãos de peso investigam os negócios da então recém-nascida (2002) seguradora: o Ministério Público Federal, o Estadual e a Polícia Federal, que tem poderes para, se necessário, intimar o irmão do ministro. Donde improdutiva a atitude dos integrantes da CPI, os da base governista, bem entendido, de fazer parecer se curvarem à chantagem de Palocci; se algo houver de vir à tona, virá, seja pelas CPIs, seja pela PF.
Mas suponha-se que Antonio Palocci fosse à CPI em lugar de seu irmão – algo absolutamente surreal, impraticável, incabível, impertinente. O que haveria de responder? O que sabe o ministro da Fazenda a respeito da Eletrobrás? Que explicações poderia ele dar melhor que seu irmão Adhemar?
Afinal, o ministro não trabalhou na Eletrobrás para ter conhecimento dos negócios, escusos ou não, que lá porventura tenham sido conduzidos.
Quando o padrão de comportamento de alguém assume direção oposta, é porque algo está errado.
Cabe deixar bem claro que a parcela dos integrantes da CPI dos Correios que cedeu aos, digamos, argumentos do ministro é da situação, o que bem pode indicar uma espécie de ação concertada, mais uma destas encenações baratas que têm sido impostas à sociedade, mas não necessariamente por ela engolidas.
As oposições devem insistir na convocação de Adhemar e o público vigilante deve protestar, pois não há nada de especial no fato de alguém ser chamado a prestar depoimento; ao contrário, é uma obrigação legal e cívica.
Adhemar Palocci deve, sim, ser chamado a depor na CPI dos Correios, ou na dos Bingos. Se o ministro sentir-se ofendido com isto, nada o impede de deixar o ministério.
(*) Luiz Leitão
Administrador e articulista
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