Artigo: Renúncia premiada, por Luiz Leitão
Renúncia premiada
Por Luiz Leitão (*)
Lá vem a turma governista com seus eufemismos de quinta categoria para tentar desclassificar os acusadores e as acusações que pesam sobre os membros do partido, PT e aliados, aliás, o número de cassáveis vai encolhendo, de 18 passaram a 13. Com as prováveis renúncias premiadas – que tal este eufemismo? – o número pode ainda cair para mais ou menos metade.
O ministro da Justiça, Thomaz Bastos deu sua modesta contribuição à nova estratégia partidário-governista dizendo que o delator é suspeito, ou algo assim, porque quem delata quer sempre algo em troca. Pois sua excelência poderia consultar, em qualquer dicionário da língua portuguesa, os termos delatar e denunciar, e perceberá – mas talvez não admitirá – que são sinônimos. Denunciar: do latim, denuntiare: acusar em segredo, delatar, divulgar.
Não foi o governo mesmo quem instituiu o disque-denúncia para a população delatar ou denunciar criminosos? Que interesses têm os denunciantes anônimos? Que se faça justiça, que fiquem livres de criminosos. Já o pessoal da delação premiada tem um interesse, a redução de suas penas, mas está na lei: terá o denunciante o benefício desde que, comprovadas as denúncias, resultem na identificação de terceiros envolvidos em crimes.
Já o novo presidente da Câmara, Aldo “Saci” Rebello, do alto de sua insignificância, subserviência e desfaçatez, atreve-se a duelar com a realidade, dizendo nunca ter havido mensalão (na sua eleição para a presidência da Câmara não houve mesmo, o pagamento foi à vista). A última pessoa que poderia acreditar nele faleceu há poucos dias, a velhinha de Taubaté. Aldo não tem pudor, não tem coerência nem respeito pelo público, pois se tivesse, já ter-se-ia declarado impedido de presidir o julgamento de Dirceu, já que é sua testemunha de defesa e já foi também seu desafeto. Aí está uma pessoa de rara coerência...
O PT corre o risco de ser presidido por Ricardo Berzoini, que quando foi ministro da Previdência, maltratou os velhinhos, obrigando-os a ficar em filas quilométricas, debaixo de sol, para se recadastrarem. A coisa pegou mal, é claro, mas ele não teve a humildade de se desculpar. Agora, patrocina a renúncia premiada, bem em consonância com sua personalidade e seu passado. Com ele na presidência, o PT será mais do mesmo.
Ainda na linha do teatro do absurdo, José Dirceu, que deveria consultar um psiquiatra com certa urgência, inovou no conceito de inocência progressiva (estou cada vez mais convencido da minha inocência, disse). Lembre-se o leitor de que Dirceu resolveu processar um dos irmãos de Celso Daniel por calúnia e depois pediu à Justiça para ser dispensado da audiência.
E seguem as mentiras, Gilberto Carvalho, secretário de Lula da Silva, nega peremptoriamente haver entregado 1,2 milhão em dinheiro ao chefe da quadrilha, José Dirceu. Mas será acareado com os irmãos do prefeito assassinado, o que irrita e contraria Lula. Ora, o que há a temer? Não são todos tão probos, não é tudo uma enorme orquestração? Pois a verdade virá à tona. Se os culpados serão punidos é outra história – Severino já foi indiciado pelo crime de corrupção?
Óbvio que não só os governistas, mas outros deputados, se puderem, darão uma mãozinha para salvar a pele dos colegas.
Aos convenientemente míopes olhos dos implicados, não houve nada, no máximo caixa dois, não teve contrato ilegal da Caixa com a empresa Gtech , quando a estatal já tinha tecnologia para gerir o sistema de apostas por si, não houve saque significativo do deputado Luiz Carlos Silva, o “professor” Luizinho, foram só 20 mil; Adhemar, o irmão do ministro Palocci, não teve contatos com o dono da seguradora Interbrazil – destaque-se o ridículo do Brasil com “z” – que fez doações a múltiplos partidos em Goiás, à época em que ele era secretário das Finanças da prefeitura de Goiânia. Das Finanças, caro leitor.
Foi prometido não se fazer aqui mais comentários sobre as bobagens ditas por Lula, a não ser que valessem a pena. Pois vamos lá: Sua Excelência, num outro surto de incontinência verbal, saiu-se com esta: “Qual governo na história deste país funcionou com três CPIs funcionando ao mesmo tempo? “.
E qual governo deste país, presidente, teve três CPIs (ao menos como estas, que tratam de assuntos brabos) ao mesmo tempo??
De todo este festival de mentiras, alucinações, desmentidos, eufemismos, etc, a única verdade é que não houve empréstimos de verdade ao PT. A grande questão é esta: de onde veio (mesmo) a grana?
Com a contratação de empresas de auditoria para prestar assistência técnica ao parlamentares na análise da documentação das CPIs, muita coisa de real substância poderá vir à tona; acabou-se, ou quase, o show diário dos depoimentos.
(*) Luiz Leitão
Administrador e articulista (Brasil)
luiz.leitao@estado.com.br
luizleitao@allsites.com.br
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home