"Vou pedir exceção da verdade", diz ex-presidente
No 'Roda Viva', FHC afirma que ao declarar que 'ética do PT é roubar' não falou nada além do que já se sabia
O Estado de S. Paulo (7 de fevereiro) - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, no programa Roda Viva, que estranha a intenção do PT de processá-lo, por ter dito à revista IstoÉ que "a ética do PT é roubar" e que não vê razão para 'tanta sensibilidade'. E adiantou: "Vou pedir a exceção da verdade. Juntar tudo que está no tribunal (sobre acusações feitas ao PT) e mandar para lá."
Exceção da verdade é a ação que permite ao acusado por crime de calúnia ou injúria provar o fato atribuído por ele à pessoa que se julga ofendida e o processou por isso. Só pode ser utilizada quando o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício das suas funções.
Segundo o ex-presidente, ao fazer aquela declaração, não estava dizendo nada além do que já se sabia. Ele se referia, explicou, "a um fluxo de recursos muito grande, que vem de várias fontes, entre as quais fontes oficiais, usadas fora de campanha. E isso é coletivo, em nome da transformação do Brasil". E prosseguiu: "A ética é essa, de que no fundo fazem isso porque vai melhorar o País. Isso é grave. É uma ofensa. Mas quem fez isso ofendeu a nós, ofendeu ao povo brasileiro." O ex-presidente observou, porém, que a revista fez na capa "uma síntese" do que afirmara, e isso criou "uma certa confusão".
Ele acusou também os petistas de terem sido os primeiros a evitar que os dois partidos colaborassem mais um com outro. "Quem foi que definiu o PSDB não como adversário, mas como inimigo?", perguntou. Mais adiante, fez outro desafio ao governo Lula: "Eu, que fiz uma transição democrática, esperaria que eles tivessem a grandeza de chamar um diálogo nacional."
Ao falar sobre o posicionamento do PSDB durante as investigações sobre o mensalão, Fernando Henrique afirmou que ele e seu partido se preocuparam com o País. Daí a razão para que não fosse protocolado, na época, um pedido de impeachment contra Lula. "Impeachment é uma bomba atômica', afirmou. 'Nossa preocupação é institucional, não eleitoral."
Observou, a propósito, que prefere que Lula perca o mandado pelas mãos do povo. "Eu prefiro que ele perca nas urnas." Ao lhe perguntarem, em seguida, o que achava das acusações contra práticas irregulares também no PSDB, reagiu: "Ora, apurem o dimasduto. Se descobrirem que o PSDB também fez, repudiem o PSDB!" E sobre o esquema de compra de parlamentares da base aliada, disse achar que o presidente Lula "é muito ingênuo" para ser presidente. "Ou é muito ingênuo, portanto não estava preparado para ser presidente, ou ele sabia, o que é pior ainda." O ex-presidente não fugiu das perguntas sobre economia. Disse que os investimentos em sua época foram muito maiores, que o crescimento do País hoje é pífio diante da média mundial em um período de economia muito melhor, e comentou, também, que sem investimentos nada vai melhorar.
Sobre reeleição, ele afirmou que, com dois anos, ou dois e meio, um governo já tem outro pólo de influência, as futuras eleições, e isso não é bom. "O País precisa de renovação. O Brasil é jovem. Sou favorável à reeleição, mas não sou favorável à eternização", declarou depois, sobre as razões que o fizeram desistir de disputar novamente a Presidência. "Eu não sou candidato, não por bondade. Cada um deve fazer o que pode. E saber qual é o seu melhor momento." Os movimentos do presidente do STF, Nelson Jobim, também foram criticados. "Eu confesso que tenho ficado irritado (com alguns posicionamentos do presidente do STF, Nelson Jobim). Não acho bom ele deixar o Supremo para concorrer à eleição. Mas não vou julgá-lo, até porque não sei o que ele vai fazer." O ex-presidente também se recusou a dizer se prefere o governador Geraldo Alckmin ou o prefeito José Serra como candidato tucano à Presidência. 'O adversário não está aqui dentro(do PSDB). Eu ataco firme lá fora', ressaltou.
Ana Paula Scinocca e Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de S. Paulo
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