Artigo de Luiz Leitão: Quem dá mais?

Recebo e publico abaixo o artigo de Luiz Leitão:

Quem dá mais?
Por Luiz Leitão (*)

Os dois principais atores – na verdadeira acepção da palavra – da disputa pela presidência da República, Lula da Silva e Geraldo Alckmin, cortejam o PMDB com a maior sem-cerimônia, o PT oferecendo mundos e fundos, o PSDB não deixando por menos.

Adivinhe o leitor as prendas oferecidas por cada um deles: tantos ministérios, não-sei-quantos cargos de confiança, trocentas diretorias nas estatais, e por aí vai. Isto dentro do que, com muita generosidade adjetiva, pode-se dizer aquilo que é considerável ‘ético’.

Temos então dois candidatos insossos, sendo que é grande a probabilidade de Lula ganhar, mas questão maior (será que eu já disse isto antes?) talvez seja a reeleição dos 513 picaretas e 81 senadores. Alguém realmente acredita em renovação do Congresso? Todos eles já têm seus patrocinadores, seus esquemas montados, definitivamente, o Congresso não é para neófitos.

Vamos à prova dos nove: nova denúncia de corrupção vem à tona; a operação Sanguessuga, desencadeada pela Polícia Federal prendeu um punhado de gente, em sua vasta maioria ligado a parlamentares como Ney Suassuna, líder da bancada do PMBD, a noiva disputadíssima; o qual, naturalmente, à moda Lula, dirá que não sabia de nada.

Que vergonha, uma quadrilha de assessores e ex-parlamentares roubando dinheiro com o superfaturamento de ambulâncias, com a conivência de algumas, ou muitas, prefeituras, que atestavam ter recebido as viaturas completas, com toda a parafernália de uma UTI móvel, quando só tinha maca e porta-soro.

A PF pediu a investigação de 65 parlamentares!! Por terem renunciado, os ex-deputados Ronivon Santiago (PP-AC) e “Bispo” Carlos Rodrigues (PL-RJ) foram em cana. Não é bom saber disto? O “Bispo” renunciou por ser mensaleiro, mas esta foi sua segunda renúncia: em 1997, fez o mesmo, sob a acusação de ter recebido 200 mil para votar e emenda de reeleição de FHC. Candidatou-se outra vez e foi eleito em 2002, mas foi cassado por ter desta vez não vendido o seu voto, mas comprado os de sua reeleição. Recorreu e permaneceu na Câmara até a eclosão do escândalo do mensalão, quando renunciou pela segunda vez. Agora, foi preso. Alguém duvida que esta figura irá tentar um novo mandato?

Eis o ponto: a sociedade precisa começar a negociar – no bom sentido – em pé de igualdade com o Congresso. Em certas questões, como o foro privilegiado, pelo exemplo acima dos dois reincidentes presos, e da reeleição de parlamentares que renunciaram, são inegociáveis. Sem foro privilegiado, e com agravante, pois sendo servidor público, o parlamentar acusado e condenado deve ter sua pena dobrada. Quem está sendo processado ou quem renunciou ao mandato para fugir à cassação deve ficar impedido de se candidatar.
O TSE-Tribunal Superior Eleitoral deve exigir atestado de antecedentes de todos os candidatos.

Foro privilegiado para quem roubou, neste episódio – e ninguém haverá de duvidar que há muitas outras armações em andamento por aí – 110 milhões? Quantas pessoas morreram por causa destes 110 milhões, que poderiam ter comprado muitas outras ambulâncias? Estes sem-vergonhas merecem foro privilegiado? Se você concorda que não, vamos pressionar pela mudança na legislação.

Senão, ficará tudo como antes, talvez pior, com Lula reeleito ou Alckmin eleito, aliados com parlamentares que não nos representam, tudo muito bem, tudo muito bom, até o próximo escândalo, que qualquer CPI cura sem maiores efeitos colaterais.

Não tem acerto, ou muda-se a legislação ou votamos nulo!

(*) Luiz Leitão
Articulista político, Brasil
luizleitao@allsites.com.br

P.S.: O leitor sabe por que sempre menciono Brasil após minha assinatura? Porque tenho orgulho do meu país, porque tenho fé que um dia os três Poderes passarão a nos tratar como deve ser: aqueles a quem devem satisfações, sempre.