Artigo de Luiz Leitão: A polêmica de Fernando Henrique
A polêmica de Fernando Henrique
Por Luiz Leitão
É estranho que a tal carta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), veiculada no portal de seu partido, o PSDB, tenha causado tanta polêmica. Um texto extenso - e certamente por isto, aparentemente, nenhum jornal o publicou -, genérico, dispersivo, onde o autor começa comparando dois ilícitos, aos quais atribui pesos diferentes. O primeiro, o emprego de “recursos não contabilizados”, vulgo caixa dois, trivial, aquilo que “todo mundo faz”, seguido do “mais grave” Mensalão, a compra e venda de votos de parlamentares para decidirem a favor do governo, cujo subproduto é o troca-troca partidário que, informa a ONG Contas Abertas, foi praticado por 193 “representantes do povo” desde 1993, portanto, da atual legislatura, e praticamente, arredondando-se as contas, 40% dos 513 nobilíssimos deputados.
O artigo, acessível em www.psdb.org.br , título: Carta aos eleitores do PSDB, é eclético, trata de temas tão díspares quanto voto distrital, segurança pública, diz que o partido sempre foi contra a privatização do Banco do Brasil, da Caixa e da Petrobrás, fala das PPP - Parcerias Público-Privadas, do terceiro-mundismo do Itamaraty, do aparelhamento do Estado, enfim, diz o que todos já sabem, sempre atenuando as culpas do PSDB. Uma coleção de obviedades e omissões, conforme os interesses.
Tardiamente, assume a responsabilidade partidária pela, digamos, absolvição do ex-presidente nacional do PSDB, o senador mineiro Eduardo Azeredo, que só praticou, através, diz, de seu coordenador de campanha, Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG) convenientemente lembrado como hoje ministro [do Turismo] de Lula, o tal caixa dois. O ministro de Lula, embora não tenha sido o coordenador de campanha de Azeredo, admitiu ter contraído, em 2002 um empréstimo a pedido deste.
Classificado por FHC como “pessoalmente honesto”, o hoje senador Azeredo, à moda de Zé Dirceu (sai daí, Zé, sai rapidinho), deixou a presidência nacional do partido em outubro de 2005, quando seu nome passou a ser insistentemente lembrado como ligado a Marcos Valério, lá por 1998, na disputa pelo governo de Minas.
Divertido será comentar, mais abaixo, algumas reações à carta.
FHC conseguiu se igualar a Tarso Genro no quesito retórica vazia, prolixa, ou a Lula, no campo do “não é comigo”. Repete-se, portanto, a conclusão de que tucanos e petistas são bastante parecidos. Sim, porque FHC também foi passageiro do expresso Transvaleriano. Em 1998 sua campanha recebeu recursos do publicitário mineiro. Assim como o sempre loquaz senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) também é confesso ex-praticante desta modalidade de captação de recursos.
Sobre as reações, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo esquece as mágoas e diz estar de acordo com o texto, acrescentando que a questão do PCC está sob controle... O candidato Geraldo (Alckmin) endossou as críticas que FHC fez ao PT. Eduardo Azeredo se diz injustiçado porque sempre foi leal, mas se assim fosse, não teria se metido em encrencas.
Tentando aliviar sua culpa, Azeredo diz que recebeu, sim, “recursos não contabilizados” em sua campanha de 1998, mas que não houve dinheiro público. E daí, desde quando a origem do butim descaracteriza um ilícito? Se admite, reclama do quê? Pois é, o eleitor não merece satisfações...
Os petistas também exageraram a importância da carta, classificando-a como “a carta-testamento eleitoral do PSDB”.
E Lula da Silva, para quem “democracia nem sempre é coisa limpa”, numa possível referência ao que poderá ser um segundo mandato, paira acima do bem e do mal, nas alturas das intenções de voto.
Tanto falatório por nada.
Seria cômico, se não fosse trágico...
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