Deputados do PT querem afastar envolvidos no 'mensalão'
Paulo Rubem Santiago leu nota do bloco de esquerda do PT, que entregou todas as vice-lideranças que ocupava no partido
Em discursos emocionados que tomaram parte do Grande Expediente nesta quinta-feira, deputados do bloco de esquerda do PT apresentaram uma nota em que exigem a convocação do diretório nacional do partido para tomar providências contra os petistas envolvidos nas denúncias do "mensalão". Os deputados pediram ainda o afastamento de todos os petistas cujos nomes constam da lista de sacadores das contas das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto operador do esquema, e dos integrantes de CPIs que teriam dado falso testemunho.A nota, lida pelo deputado Paulo Rubem Santiago (PE) no plenário, anuncia ainda que o bloco de esquerda do PT entregará todas as vice-lideranças que ocupa no partido. O texto teve o apoio de 20 deputados e quatro senadores do bloco de esquerda, que se reuniram hoje pela manhã em Brasília com o presidente interino do PT, Tarso Genro, para discutir a crise política. De acordo com o deputado Nazareno Fonteles (PI), o depoimento do publicitário Duda Mendonça na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, detalhando operações de caixa dois no PT, inclusive com a remessa de dinheiro para paraísos fiscais, precipitou a divulgação da nota.
Líder pede prudência
Diante do protesto, o líder interino do PT, deputado Fernando Ferro (PE), fez um apelo à sua bancada: "Tenho a obrigação de pedir a todos a prudência, a tolerância e a compreensão de que nem tudo está perdido no nosso partido", afirmou. "Até porque quem fez e provocou esse quadro não expressa o sentimento e a construção do PT."Para o deputado, os problemas do PT podem ser resolvidos internamente. "Concordo que vivemos um momento dramático, mas é no interior do partido que iremos fazer o necessário ajuste político, ético, moral", disse. "Vamos tirar lições dos erros e caminhar para a superação dos nossos problemas. Isso é importante para o governo, para o País e para a democracia", complementou o parlamentar.
Responsabilidade de Lula
Nos discursos que se seguiram à leitura da nota, os parlamentares da esquerda do PT foram além e exigiram explicações do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "É preciso que os líderes do partido e Lula assumam suas responsabilidades", disse o deputado Ivan Valente (SP).
Os pronunciamentos foram feitos por meio de apartes ao discurso do deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS), o primeiro a falar sobre o assunto. Ele criticou o chamado Campo Majoritário, corrente que hoje controla o PT e do qual fazem parte o presidente Lula e o deputado José Dirceu (SP). Segundo Zimmermann, esse bloco enganou o restante da bancada petista, ao organizar um poder paralelo desconhecido da grande parte dos deputados. "Não somos delúbios", afirmou o deputado, referindo-se ao ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, um dos principais acusados pela operação do mensalão. Zimmermann sustentou que os atuais dirigentes do partido estão devendo uma explicação definitiva sobre os fatos já apurados pelas CPIs mistas dos Correios e da Compra de Votos. "Digam a verdade, por mais dura que ela seja. José Dirceu, pare de dizer que não sabia e explique logo por que fez isso", pediu o deputado. O parlamentar também exigiu que o PT cancele todas as punições que aplicou a parlamentares - deputados e senadores - que votaram contra o partido, como no caso da Reforma da Previdência. Para ele, os atuais dirigentes do PT "não têm autoridade moral para fazer isso, pois usaram os mesmos instrumentos do poderio econômico".
Apelo à humildade
O 1º vice-presidente da Câmara, deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), também foi à tribuna para comentar a atual crise - que, segundo ele, afeta não apenas o PT, mas toda a classe política. "Se pudesse escolher uma palavra para sintetizar tudo, eu faria um chamamento à humildade", disse. "A crise demonstrou tão-somente que o PT é um partido igual aos outros, lamentavelmente igual aos outros, com bons quadros e com maus quadros", destacou. Nonô disse que, assim como milhões de brasileiros, votou no presidente Luiz Inácio Lula da Silva e agora está desiludido. O presidente, segundo ele, precisa fazer um pronunciamento à Nação para explicar "se comanda ou não este País, se quer ou não consertá-lo, ou se continuará sendo talvez um joguete nas mãos dos que verdadeiramente construíram essa tragédia". "Cansam essa postura alienada, esse discurso insensato a uma massa encomendada, esse chapéu de Napoleão nordestino, esse olhar perdido em uma outra realidade. Ele ainda pede, senhores, o monopólio da vergonha! É pedir muito a um povo que já lhe deu demais", criticou Nonô.
Comentário do blog: A crise é muito mais grave do que poderia supor a nossa vã filosofia, como diria William Shakespeare. Deputados petistas, chorando no plenário da Câmara, depois de tomarem conhecimento das revelações do publicitário Duda Mendonça, na CPMI dos Correios, formam uma cena que, meses atrás, seria inimaginável para todos nós, "brasileiras e brasileiros", para lembrar uma expressão do ex-presidente José Sarney.
Depois deste depoimento de Duda Mendonça, que compareceu espontâneamente à CPMI dos Correios, o Brasil nunca mais será o mesmo. Nem os políticos e muito menos essas nojentas e subfaturadas campanhas políticas, que hoje em dia me fazem ter, cada vez, saudades da velha lata, ou galão, de querosene, como já escrevi num artigo aqui no blog, em 16 de junho (clique AQUI para ler novamente).
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