Em 1991: Denúncia de Anache estoura boca-de-pó
Jornal "Diário da Serra", de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Na reportagem especial - onde apareço protegido por dois policiais militares do serviço reservado (P2), por determinação judicial - afirmo:
--Sou repórter. Não sou nem juiz, nem policial e muito menos político. Nesse último campo, a família já está bem servida.
O (a) leitor (a) pode clicar nos recortes de jornal ao lado e ampliar as reportagens, para visualizar os textos.
Em 25 de junho de 1991, uma terça-feira, compareci à Assembléia Legilativa de Mato Grosso do Sul. Atendia a um convite feito pelo deputado Valdomiro Gonçalves, que desejava ouvir no plenário, ao lado dos demais parlamentares, mais detalhes sobre as denúncias que eu fazia, desde 10 de abril de 1990, contra o narcotráfico na fronteira do Brasil com a Bolívia.
No meu programa de rádio - que seria também manchete de primeira página no "Wall Street Journal", nos Estados Unidos; com direito a retrato meu feito a bico de pena na capa - solicitava aos ouvintes que enviassem os endereços das conhecidas "bocas-de-pó", locais onde eram vendidas drogas impunemente. A audiência respondia postitivamente. Endereços chegavam todos os dias. Eram checados e analisados por mim. Em seguida, eram passados às autoridades.
A Justiça da Comarca de Corumbá promoveu uma operação especial, naquela época, baseada na relação de bocas-de-fumo que forneci às autoridades. Centenas de mandados de busca e apreensão foram expedidos pelo juiz da Vara Criminal. As polícias civil, militar, federal e florestal (hoje ambiental) uniram-se pela primeira vez numa operação desse tipo na fronteira. Órgãos federais e estaduais também participaram, cedendo veículos para os policiais.
Até refinarias de cocaína foram descobertas por mim, graças ao auxílio, por meio de denúncias, fornecido pela grande audiência. Foram seis delas. Levei a polícia federal até os locais onde operavam. Achamos vidros de éter, acetona, ácido clorídrico e até mesmo restos de cloridrato de cocaína. A tristemente famosa cocaína puríssima, em pó. Entreguei os sacos plásticos usados para embalar a droga ao juiz criminal da Comarca. Depois, levei à Polícia Federal, para apreensão.
Com tudo isso, os traficantes e pessoas ligadas ao narcotráfico - inclusive aquelas que ganham muito dinheiro de origem "suja", trabalhando direta ou indiretamente com as atividades criminosas, passaram a me atacar violentamente.
Eu acabei me tornando uma ameaça que tinha que ser eliminada, tirada de circulação. Custasse o que custasse. O jornalista e radialista Armando de Amorim Anache, o Armandinho Anache - filho de Armando e Neuza e neto de Farjalla, Zahran, Daniel Joaquim e Henriqueta - tinha que parar com as denúncias. Elas atrapalhavam o "negócio" milionário. Punham em risco "cabeças coroadas" do narcotráfico. Afinal, traficante também financia campanhas políticas. Basta que o (a) leitor (a) faça uma análise profunda do que já aconteceu no Brasil desde abril de 1990 - quando iniciei a campanha - até este setembro de 2005. Será que é tudo "invenção e sensacionalismo da imprensa"?
Fui ameaçado de morte. O estúdio da Rádio Clube, onde apresentava o Programa Armando Anache, foi invadido várias vezes por pessoas ligadas ao tráfico de drogas. Numa dessas invasões fui ameaçado ao vivo, com o programa no ar. Chamei a polícia pelo microfone da rádio. Quando a PM chegou, o invasor já havia fugido. A minha "segurança", naquele dia, era formada pela minha mulher e a minha tia Laurita, uma senhora com quase 70 anos. Eu era ameaçado de morte todos os dias. Quando deixava a emissora, na Rua Delamare, no Centro de Corumbá, fui ameaçado várias vezes. Pelo menos uma pessoa chegou a jogar o carro contra mim, em dias diferentes, quando caminhava pela rua. Outras tentaram me agredir fisicamente. Algumas afirmavam que eu iria morrer logo, pois "falava e denunciava muito".
Eram dias de terror e tensão. Só mesmo quem já foi ameaçado de morte - sem saber ao certo de onde partiam as ameaças - pode imaginar o que passei, ao lado da minha família.
Deixo esse registro aqui no blog, para que conste nos índices de busca. Muitas pessoas tem digitado o meu nome em alguns desses índices. Infelizmente, os registros feitos pela imprensa antes de 1997, não constam nesses índices, usados por muitos repórteres para pesquisas sobre temas ou pessoas como eu, um repórter que ousou lutar contra as drogas.
Para alguns poucos que ficam satisfeitos com os resultados das buscas nos Yahoo's e Google's da internet, lembro que a velha e eficiente escola de jornalismo ensina que, na apuração de uma pauta, deve ser dada a oportunidade de ser ouvida, para a pessoa pesquisada, acusada ou citada.
Para aqueles que não querem fazer ligações interurbanas, internacionais ou locais - por preguiça, desleixo profissional ou irresponsabilidade pura com a honra e a dignidade de um jornalista que, repito, arriscou a própria vida e dos seus familiares para combater o narcotráfico e também fazer uma campanha de prevenção ao uso e abuso de drogas, com reconhecimento das autoridades - para falar comigo, isolado aqui neste maravilhoso Pantanal Sul, deixo mais este registro. Afinal, o meu nome consta na lista telefônica. Os meus e-mails estão aqui no blog e no site Pantanal News. Elementar, não é mesmo, meu caro Watson? Qualquer "foca" - como eu já fui em 1985, tendo como chefe de reportagem no Rio de Janeiro o grande Ely Moreira, hoje na direção da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) - sabe que a lista telefônica é uma grande fonte de informações. Bem, tem que saber usar, não é mesmo? A preguiça, às vezes, não permite que isso seja feito.
Depois digitarei aqui o texto da entrevista que foi feira comigo pelo jornal "Diário da Serra", de Campo Grande, Mato Grosso do Sul , naquele ano de 1991, quando a internet não existia na "Terra Brasilis" e, portanto, nada daquilo que foi publicado está registrado nos famosos índices de busca, muito usados atualmente pelos "repórteres de gabinete, movidos à base de água geladinha e cafézinho quentinho."
Quem trabalhava na reportagem do "Diário da Serra" naqueles anos 1990 era o eficiente repórter Rubens Valente, hoje na "Folha de S. Paulo" e ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo. O ainda muito jovem Valente esteve várias vezes comigo na fronteira do Brasil com a Bolívia. Viajava 424 quilômetros, desde Campo Grande até Corumbá, na fronteira com a Bolívia, para apurar a sua pauta. Sabe por quê, leitor(a)? Porque não havia "índice de busca na internet" para pesquisar preguiçosamente. O repórter correto, como o colega Rubens Valente, tinha que "ir para a rua", "pegar a estrada, com ônibus ou carro de reportagem" para apurar tudo de acordo com o manual. Bons tempos. Velhos tempos do jornalismo feito com a camisa suada.
No meu tempo e ainda hoje, eu corria para as ruas com o objetivo de apurar uma notícia, um fato, uma pauta. Bons tempos aqueles. Sem fax, sem telefone móvel celular e sem internet, maravilhosas ferramentas que temos atualmente. Mas com uma garra e coragem difícil de encontrar hoje em dia, quando alguns "perfumadinhos de narizes empinados" imperam em algumas redações, sem jamais ter sentido o cheiro das ruas, do povo nas periferias e nas favelas, das celas fétidas nas delegacias e nos presídios, dos cadáveres apodrecidos e, nem ao menos, dos cafés servidos nos palácios de Governos.
Filósofos do jornalismo. Grandes pensadores. Péssimos apuradores e sofríveis repórteres. Não saem das redações refrigeradas.
Prefiro ser repórter. E como sempre determinava meu chefe de reportagem Ely Moreira, no Rio: "Lugar de repórter é na rua!"
Só isso. Ou tudo isso.
1 Comments:
Armandinho, meu caro,
Li, com espanto e admiração, o seu relato. Reportagem é isto aí, estar no local, falar com as pessoas envolvidas, colher informações frescas. Eu quase escrevi um artigo sobre um juiz federal , agora não me lembro de que cidade do MS (ou seria MT?) que viveu confinado no fórum pois tinha sua cabeça a prêmio porque mando mais de cem "traficas" pra cadeia. Acabou afastado; raramente soube de alguém com tão apurado senso de dever como aquele homem Será que você sabe o nome dele?
Cairia bem num artigo combinado com o seu relato.
Um abraço do amigo
Luiz Leitão
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