Artigo de Luiz Leitão: Saiu o acordão
Saiu o acordão
Por Luiz Leitão (*)
Finalmente, aconteceu o esperado – porém indesejável pelos eleitores – acordão através do qual, entre mortos e feridos, salvam-se todos exceto, é claro, a turma do andar de baixo, os que podem menos; estes ficam como exemplo do duro e bravo combate ao qual governo e oposições se lançaram sem tréguas e com destemor.
Justamente no momento em que Duda Mendonça ameaça contar tudo (e este tudo deve ser muita, muita coisa), exatamente quando é oportuno aumentar a pressão, dar mais uma volta no parafuso, os protagonistas desta palhaçada congressual chamada CPI dos Bingos e de outra denominada CPMI dos Correios, certamente atemorizados ou cooptados por quem não tem o menor interesse em que se saiba toda a verdade, suspende-se o novo depoimento do publicitário baiano.
Logo agora que o senador Delcídio Amaral e o deputado Osmar Serraglio parecem que vão conseguir lá em Nova Iorque alguma coisa a respeito das contas que se diz que Duda possui – e ele nega – no exterior. Pois é, chegou-se aonde a prudência dos que temem recomenda que se recue; não “interessa” ao PT nem à oposição uma nova oitiva de Duda Mendonça, o homem que fez as campanhas políticas não só dos presentes detentores do poder, mas de muita gente da oposição.
Sequer o banqueiro Edemar Cid Ferreira, dono do falido Banco Santos e amicíssimo do senador José Sarney, o qual, por coincidência, de lá retirou todo o seu dinheiro, que não deveria ser pouco, dias antes de sua quebra, será convocado à CPI - oportunamente, desistiram suas excelências de o convocar. Como uma mão lava outra, devolve-se agora o favor do alerta que possivelmente foi dado a Sarney para salvar seus cifrões.
Sibá Machado, senador petista acreano também é da “opinião” de que Duda não deve vir, a menos que sujam fatos novos – e o ameaçar contar tudo acaso não é um fato inédito (e perigoso?). Da mesma forma pensa a senadora petista do Santa Catarina, Ideli Salvatti. Não se impressione o leitor, no fundo estão todos, como se diz, ajustados e contratados, combinadíssimos.
O acordão iria sair de qualquer forma, pois nesta história, um lado é refém do outro, mas o que precipitou as coisas foi a tal “lista de Furnas”, uma papelada que está nas mãos da Polícia Federal mas cuja autenticidade não está provada. Nela constam os nomes de 156 integrantes dos partidos PSDB, PFL, PTB, PL e PP, ou seja, praticamente toda a oposição, como tendo recebido dinheiro de caixa dois proveniente da empresa estatal Furnas Centrais Elétricas.
O engraçado que neste jogo de empurra, ou de salve-se quem puder,é que os petistas querem muito ouvir na CPMI dos Correios um certo lobista chamado Nilton Monteiro, de quem se diz que partiu a “lista de Furnas” e foi o denunciante do caixa dois da campanha do íntegro senador tucano mineiro Eduardo Azeredo. Merece, pois, alguma credibilidade este lobista.
Se a lista é verdadeira ou falsa, há como apurar, e o deputado cassado Roberto Jefferson admitiu ter recebido 75 mil da empresa estatal de energia. Pode ser mentira, mas talvez Jefferson tenha meios de provar o que diz.
Então é isto, caro leitor e eleitor: trocam-se favores, deixa-se de ouvir Duda – que não custa repetir, ameaça contar tudo o que sabe, bem como o outro publicitário, Marcos Valério -em troca da desistência da convocação do lobista Monteiro.
Assim se apura a verdade no Brasil, com testemunhas desobrigadas de dizer a verdade, protegidas por mandados de segurança; com acordões como este, e depois suas excelências tentam limpar um pouco a imagem da Casa diminuindo suas escandalosas férias de 90 dias para “meros” 55 – quando os demais mortais têm 30, isto quando não as vendem ao patrão para reforçar o parco orçamento.
Também tiveram a generosidade de, doravante, não mais receberem pelas convocações extras, e hoje o Brasil pode ser orgulhar de ser o país cujos parlamentares têm o menor período de férias; a seguir vêm os ingleses, com 60 dias – mas é de crer que lá os Comuns e os Lordes trabalhem de segunda a quinta.
Assim, nossos políticos provam aos mais incautos, por A “menos” B, que são a quintessência da probidade.
(*) Luiz Leitão
Articulista político, Brasil
luizleitao@ebb.com.br
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