Guerra de versões sobre um mesmo fato: FHC na TV, segundo os comunistas
Leia texto publicado pelo Portal Vermelho (www.vermelho.org.br), site do PCdoB na internet, sobre a entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ontem (6):
Num "Roda Viva" entre amigos, FHC anuncia: não é candidato a nada
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não será candidato a nada nas eleições de outubro que vem: nem à Presidência, uma hipótese que hoje apenas ele ousaria citar, nem ao governo de São Paulo ou ao Senado, como gostariam os tucanos, desguarnecidos nestas duas frentes. A afirmação do próprio FHC fechou o programa "Roda Viva", da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (6) - que desta vez contrariou seu padrão de programa condimentado e provocativo, para produzir uma entrevista sob encomenda do entrevistado.
Balançares de cabeça
A câmera terminou entregando o "Roda Viva" entre amigos, ao flagrar mais de um entrevistador a balançar a cabeça, numa muda aquiescência. Os apartes, comentários e interpelações que conformam um estilo nervoso e de certa forma emprestam interesse ao "Roda Viva", desta vez caíram a zero.
FHC pôde discorrer sem nenhuma marcação, fosse sobre "O Espírito das leis" de Montesquieu ou o combate "duro" que deseja dos oposicionistas nesta eleição. "Eu acho que o presidente Lula é muito ingênuo para ser presidente. Quer dizer, ele tem que escolher: ou ele era muito ingênuo para ser presidente, ou ele sabia", foi uma de suas tiradas.
Quem assistiu ao programa, e leu o artigo "Meses decisivos", publicado neste domingo nos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, viu como uma boa parte das perguntas seguiu o script pautado pelo ex-presidente. Este teve todas as oportunidades para discorrer à vontade sobre a corrupção do PT, que ele agora chama de "sistêmica", ao contrário do caixa dois, que parece encarar com mais indulgência. O economista Luciano Coutinho, da Unicamp, convidado a fazer uma pergunta, foi uma solitária exceção, ao indagar sobre o fracasso da política FHC de "âncora cambial".
Reunião de correligionários
Em compensação, primaram pela ausência as perguntas sobre a pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no domingo, indicando que o governo federal voltou a ser aprovado pela população, que Lula ganhou pontos sobre os candidatos tucanos - o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra - na intenção de voto para outubro (clique aqui para ver).
A musculosa disputa entre Alckmin e Serra também foi tratada com indulgência pelos jornalistas. Foi levantado apenas na medida da conveniência para o presidente de honra escapar sem manifestar preferências nem se pronunciar sobre as rasteiras que os dois pré-candidatos têm trocado.
Em consequência, Fernando Henrique em certas passagens da entrevista parecia julgar-se em uma reunião de correligionários: “O adversário não está aqui dentro (do PSDB). Eu ataco firme lá fora”, chegou a deixar escapar.
Em outro momento constrangedor, FHC fazia um elogio do ciclo de conferências "Presidentes da América Latina - Evolução do Processo Democrático na América", convocado pelo governo Alckmin e tendo a ele próprio como um dos dois conferencistas, quando... esqueceu do que estava falando. Antes que a memória voltasse, o âncora Paulo Markun acudiu pressuroso, para remediar o lapso ex-presidencial.
Ritmo juvenil
Mas ninguém pense que Fernando Henrique Cardoso está senil. Se a memória ou a presença de espírito às vezes falham, a concatenação de fundo está a toda. É o que indica a bateria de intervenções dos últimos dias: primeiro a entrevista à revista IstoÉ, dizendo que "a ética do PT é o roubo" (o que vai lhe valer um processo dos petistas), depois o artigo no Globo e Estadão, e agora a "Roda Viva" entre amigos.
Com este ritmo juvenil, o presidente de honra do PSDB trata de tentar reverter as notícias dos últimos dias, todas desfavoráveis aos tucanos, desde o interesse despertado pela "Lista de Furnas" até os resultados da pesquisa Datafolha.
Para o ex-presidente, de fato pesa pouco se o candidato tucano será Alckmin ou Serra. O que importa é que esse candidato derrote Lula. Seria a revanche, ainda que tardia, face à derrota de 2002, em essência uma derrota do projeto FHC. Seria, ao menos na aparência, a lavagem da biografia. Daí o frenesi com que Fernando Henrique se atira à liça nestes que ele chama "meses decisivos". Só que não está fácil...
Anote os nomes dos jornalistas que participaram como entrevistadores: Merval Pereira (O Globo), Carlos Marchi (O Estado de S.Paulo), Mário Simas (IstoÉ), Helio Gurovitz (revista Época), Alexandre Machado (TV Cultura), Renata Lo Prete (Folha de S.Paulo) e Ricardo Noblat (Blog do Noblat). Paulo Markun foi como de hábito o apresentador.
Do Portal Vermelho, com TV Cultura.
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