Como começou a ser celebrada a Semana Santa
A esta e outras perguntas responde nesta entrevista o beneditino Juan Javier Flores Arcas, presidente do Instituto Pontifício Litúrgico de Roma.
--A Semana Santa como tal celebra-se desde os inícios do cristianismo?
--Pe. Flores: O núcleo original mais antigo da Semana Santa é a Vigília Pascal, da qual temos rastros já no século II da era cristã. Foi sempre uma noite de vigília em recordação e espera da ressurreição de Jesus Cristo.
A isso se acrescentou muito logo a recepção dos sacramentos da iniciação cristã: batismo, confirmação e eucaristia, pelo que se converteu por sua vez na grande noite sacramental da Igreja.
Posteriormente, a Vigília Pascal desenvolveu-se estendendo no tempo e se transformou no tríduo da paixão, morte e ressurreição do Senhor, do qual já fala Santo Agostinho como uma celebração muito generalizada.
Este tríduo acrescentou à Vigília já existente outros momentos importantes da celebração, em concreto, a memória da Morte do Senhor na Sexta-Feira Santa e na Quinta-Feira Santa. Este último contemplava nada menos que três celebrações eucarísticas muito diversas.
Segundo as diversas fontes de diferentes liturgias celebrava-se uma missa para reconciliar os pecadores, uma missa crismal e a missa que recorda a instituição da Eucaristia pela tarde.
Na liturgia atual, o Tríduo Pascal começa na tarde de Quinta-Feira Santa com a Missa da Ceia do Senhor e se une ao primeiro dia do tríduo que é, em si, a Sexta-Feira Santa da Paixão do Senhor. O segundo dia é o Sábado Santo da sepultura do Senhor, um dia de silêncio, jejum e espera. Não há Eucaristia neste dia no sinal de espera.
A Igreja detém-se ante o Sepulcro do Senhor crucificado e espera sua Ressurreição. Com a Vigília Pascal, na noite do Sábado Santo, começa o terceiro dia do tríduo pascal: o Domingo da Ressurreição do Senhor.
--Por que se diz que a noite de Páscoa é o dia mais importante do ano?
--Pe. Flores: O domingo de Ressurreição é o dia mais importante do ano litúrgico. Seu centro é precisamente a Vigília Pascal, na noite do Sábado Santo ao domingo de Ressurreição, mas pertence integramente ao Domingo.
É a celebração mais importante do ano, centro de todo o ciclo litúrgico. É a grande noite sacramental da Igreja.
E a foi durante séculos, e graças à reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II voltou a ser. Os cristãos renovam suas promessas batismais enquanto contemplam como novos cristãos se incorporam a sua comunidade. Constitui a origem de toda celebração litúrgica e nela culminam todas.
Por isso, a importância que se deu durante os últimos séculos à Quinta-Feira Santa foi transferida agora à Vigília Pascal com a recente renovação dos livros litúrgicos, o que se traduz também no modo de celebrar.
--A missa crismal deve acontecer na Quinta-Feira Santa ou pode variar?
--Pe. Flores: A missa crismal é antiqüíssima em toda a Igreja. Nela, o bispo consagra os três óleos de que se necessitam para a administração dos sacramentos: o santo crisma, o óleo dos catecúmenos e o óleo dos enfermos. As fontes litúrgicas falam-nos de sua importância e antiguidade.
Em Roma, adquiria uma especial importância e estava cheia de simbologia. Hoje, cada bispo em sua igreja catedral abençoa e consagra os três tipos de óleos na Quinta-Feira Santa pela manhã --lugar e momento tradicionais na liturgia romana já desde o século V-VI-- ou bem em algum outro dia próximo, segundo conveniência pastoral.
Na liturgia que segue ao Concílio Vaticano II acrescentou-se nesta missa crismal um rito significativo: a renovação das promessas sacerdotais. Contudo, é muito importante que o centro da celebração seja precisamente a consagração dos três óleos que servem para a administração dos sacramentos e não a renovação das promessas sacerdotais.
--Como surge a adoração da Cruz na Sexta-Feira Santa?
--Pe. Flores: A adoração da Cruz era um rito peculiar da Igreja de Jerusalém, posto que contava entre suas relíquias mais preciosas a cruz na qual Cristo foi crucificado. Na Sexta-Feira Santa acontecia uma cerimônia muito popular e sentida: a adoração da Cruz. Os relatos do século IV são comovedores. Santo Cirilo de Jerusalém narra-nos com profusão de detalhes.
Em um certo momento, este rito passa a Roma que, por sua parte, celebrava a Paixão do Senhor com a leitura da Paixão, segundo São João e as conhecidas orações solenes da Sexta-Feira Santa.
A isso se acrescenta então a adoração da Cruz, que se manteve até hoje, mas não é o rito mais importante da Sexta-Feira Santa. A ação litúrgica continua centrada na Liturgia da Palavra, cujo momento culminante é a leitura da Paixão do Senhor, relato, memorial e atualização da redenção com o qual adquire a celebração toda sua força.
Fonte: Missionários do Sagrado Coração, com ZENIT
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