Investigar até as últimas conseqüências, ou não

Hoje estou escrevendo com atraso, pois trato de questões internas na Rádio Independente.
No interior é assim mesmo. Joga-se simultâneamente nas 11 posições do time de futebol e, ainda, apita-se o jogo e corre-se nas laterais com as bandeirinhas.
Mas vamos ao que interessa : no Jornal da Globo de ontem (21), o senador corumbaense e boa-praça Delcídio Amaral (PT-MS) voltou um pouco atrás numa declaração que havia dado. Ele disse que ainda não havia indício suficiente para caracterizar o pagamento do chamado mensalão, a deputados da base aliada do Governo, na Câmara Federal, conforme denúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Pensei, imediatamente, na carga pesadíssima carregada pelo presidente da CPMI dos Correios. O filho da pantaneira Roseli é filiado ao PT. É o primeiro senador do partido eleito por Mato Grosso do Sul. Teve, na sua campanha, irrestrito apoio do governador Zeca do PT e do presidente Lula.
Como excelente engenheiro, com carreira brilhante em companhias elétricas estatais, Delcídio pode estar recordando, provavelmente - e esta é apenas uma hipótese, pois não sou pitonisa nem Mãe Diná para adivinhar seus pensamentos - dos seus tempos na universidade.
Também estudei engenharia eletrônica e, assim, volto à universidade para relembrar das aulas de cálculo integral, limites e derivadas e, principalmente, física.
Lembro-me das variáveis que são levadas em consideração no cálculo. Recordo-me que, em física - assim como também na vida diária - tudo depende do referencial.
Quais são as variáveis colocadas no intrincado jogo levado a cabo em Brasília? Elas são fixas, constantes, tais como o valor de "Pi" - cujo símbolo não tenho aqui no teclado - que é 3,1416; ou são variáveis?
Traduzindo para o bom português : conforme se avança nas investigações, aumentam o "calor", a "pressão", a "temperatura" e assim por diante.
Pergunto : __ Quem é capaz de prever, hoje, até onde irão os limites permitidos pelo poder central, nessa CPMI dos Correios? Qual é o valor desse "limite de elasticidade" capaz de ser suportado pelo presidente, pelo seu partido e pela Nação como um todo?
Para quem não sabe, o termo "limite de elasticidade" é utilizado em cálculos estruturais da engenharia. O engenheiro elétrico Delcídio sabe disso. Ou seja, quando uma pessoa, usando o seu dedo indicador direito, por exemplo, num movimento na direção vertical, no sentido de baixo para cima, suspende a sua bochecha - e o senador tem até um primo com esse apelido - por alguns centímetros e, em seguida, solta novamente, a pele volta à sua posição normal. Isso acontece porque não foi ultrapassado o limite de elasticidade do tecido que forma a bochecha. É, portanto, uma ação plenamente aceitável do ponto de vista físico.
No entanto, quando um armário cai em cima da mesma bochecha, sabe-se que o efeito é outro. Basta ver, não a bochecha, mas o olho do Bob Jefferson.
Voltando à CPMI dos Correios : Teve ou não teve mensalão? Ocorreu ou não a tão falada corrupção?
É aí que defendo a minha teoria das variáveis levadas em consideração. Até quando o Palácio do Planalto conseguirá manter sob absoluto controle tantas variáveis distintas ao mesmo tempo?
É dinheirão da agência de publicidade SMP&B - na tradução do brilhante José Simão, da Folha de São Paulo, "Seu Mensalão Pago em Brasília" - vindo não se sabe, ainda, de onde, e indo para muitos bolsos privilegiados, que começam a ser identificados.
É carrão caríssimo - no caso um Land Rover Defender de mais de R$70 mil - dado como mimo, ou "regalo", ou presente ao ex-secretário geral do PT, Silvio Pereira; por uma empresa que tem interesses em construções para a Petrobras.
São saques dos mais variados nas agências do Banco Rural. Inclusive, ao que tudo indica, aqui em Mato Grosso do Sul.
O engenheiro e agora senador Delcídio Amaral tem que seguir em frente. É proibido retroceder. É a sua biografia, até agora impecável, que está em jogo. Torna-se claro que as condições normais de temperatura e pressão (CNTP) - também um termo da física - não poderão ser respeitadas nesse complicado cálculo político onde, repito, as variáveis começam a ficar fora de controle.
O caldeirão da CPMI dos Correios agüentará tanta pressão? As tais "variáveis" serão mantidas sob controle? Se isso acontecer, poderá haver cheiro de pizza no ar.
Traduzindo : a explosão que está para vir, ao que tudo indica, poderá ser absorvida pelo Poder Central?
Haverá algum químico, ou físico, ou matemático, ou os três, com capacidade para segurar o delúbio, ou melhor, o dilúvio que se aproxima?
O "tecido governamental" será capaz de voltar às suas condições normais - e aí entra o "limite de elasticidade" citado acima - depois que tudo for apurado, com isenção e sem temor de atingir esta ou aquela personalidade?
Ou a pancada será tão grande - como no exemplo do armário que cai sobre o olho de uma pessoa - que causará um deslocamento incapaz de permitir que o tecido volte à sua posição normal?
Vamos aguardar.
E que Deus ilumine o senador corumbaense e boa-praça Delcídio Amaral que, agora mais do que nunca, não pode esquecer dos ensinamentos do salmo 91, da Bíblia Sagrada, que ele lê todos os dias :

"Salmo 91
Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e n'Ele confiarei.
Porque Ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas estarás seguro: a sua verdade é escudo e broquel.
Não temerás espanto noturno, nem seta que voe de dia,nem peste que ande na escuridão,nem mortandade que assole ao meio dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita,mas tu não serás atingido,
Somente com os teus olhos olharás, e verás a recompensa dos ímpios. Porque tu, ó Senhor, és o meu refúgio, o Altíssimo é a tua habitação.
Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará a tua tenda. Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos, eles te sustentarão nas suas mãos,para que não tropeces com o teu pé em pedra.
Pisarás o leão e o áspide, calcarás aos pés o filho do leão e a serpente. Pois que tão encarecidamente me amou, também Eu o livrarei, pô-lo-ei num alto retiro, porque conheceu o meu nome. Ele me invocará, e Eu lhe responderei, estarei com ele na angústia, livra-lo-ei e o glorificarei. Dar-lhe-ei abundância de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.
Amém !"

Que caia quem tiver que cair. Que se atinja quem tiver que ser atingido. Que sejam punidos aqueles que merecerem punição.
Mas que o povo brasileiro seja respeitado e valorizado. É esse povo que vota nos políticos que aí estão.
Assim seja.
Amém.