Gabeira vê semelhança entre o governo Lula e o dos militares
Gabeira vê semelhança entre o governo Lula e o dos militares
Marcelo Remígio
RIO - A crise política que abala o PT e o Palácio do Planalto vai virar livro nas mãos do ex-companheiro e deputado federal Fernando Gabeira (PV). Primeiro petista a romper com a legenda, ainda nos primeiros meses da gestão do presidente Lula, Gabeira tem feito uma espécie de diário de bordo com suas crônicas, publicadas na Folha de S. Paulo. Mas uma delas gerou polêmica pela comparação do modelo petista de governar ao dos governos militares. Ambos, segundo ele, neutralizaram o Congresso – um pelo medo, o outro com mesadas. Ex-presos políticos reagiram ao companheiro.
No texto Flores, Flores para los Muertos – que começa a circular através de e-mails pela Internet –, Gabeira critica o Governo. E abre suas feridas de uma maneira polêmica. Afirma que jamais imaginaria ser grato aos torturadores “por não pedirem sua alma”, enquanto o PT o obrigava a ser um “deputado obediente”. “Os militares batiam, davam choques e insultavam na sessão de tortura, mas vi muitos dizendo que me respeitavam porque deixei um bom emprego para combatê-los com risco de vida. Eles viam ideais no meu corpo arrasado pelo tiro e pela cadeia”.
Vítima de tortura e exilado por 10 anos, o jornalista Cid Benjamim não concordou com a comparação. “Não concordo. O processo de tortura nada mais é que, pela dor física, roubar a alma e fazer com que se abdique de convicções”, disse o jornalista. Mas Cid não poupa o Governo Lula. “É um ladrão de sonhos, um estelionato eleitoral. Houve a traição dos objetivos de um projeto de construção coletiva”, avalia.
Para ler mais notícias do jornal "O Dia", clique AQUI
Comentário do blog: Não concordo com muitas bandeiras defendidas pelo deputado Gabeira. A descriminalização do uso da maconha é uma delas. Tenho as minhas convicções. Não pretendo mudá-las. Faço, desde abril de 1990, uma campanha contra o narcotráfico que já custou caro demais. Também atuo, nos programas de rádio que apresento, na área de prevenção ao uso e abuso de drogas. Repressão e prevenção têm que caminhar juntas. Não sou eu quem afirmo isso, mas os especialistas da área, com os quais estive em junho de 1994 nos Estados Unidos; e também os daqui da "terra brasilis", como o grande médico Elias Murad, de Belo Horizonte. Nos anos 1990, ele esteve comigo no meu programa de rádio, na fronteira do Brasil com a Bolívia, e me presenteou com um livro excepcional, que uso até hoje, sobre prevenção ao uso e abuso de drogas.
Feitas essas explicações, posso afirmar com tranqüilidade que o deputado Gabeira tem razão quando denuncia a tortura. Ninguém, em sã consciência, pode concordar com ela. Mas esse pensamento dele, sobre o fato de se "vender a alma", é muito chocante. Deve causar profunda reflexão. Lembro-me do meu advogado e grande tribuno, Hélvio de Freitas Pissurno, de Campo Grande. Anos atrás, em 2002, ele me disse: "Armando, tiraram a sua tribuna parlamentar e, ainda, a mais cara de todas foi roubada, o microfone da Rádio Clube de Corumbá; porque você não concordou em vender a sua alma, pois isso teria sido fatal na sua biografia." Confesso que, poucas vezes, uma frase tocou tão fundo em mim. Um longo filme - como se eu estivesse naquela situação conhecida como "de quase morte" - passou pelo meu cérebro. Emocionado, chorei. Mas era o choro bom. Aquele que temos quando lembramos das coisas boas que fizemos, embora com preço muito alto. Mas "tudo vale a pena quando a alma não é pequena", escreveu Fernando Pessoa e eu não me canso de repetir.
É impossível fazer omeletes sem quebrar ovos. Numa guerra - termo não mais utilizado nos Estados Unidos, pois o conceito de "guerra" sugere haver um ganhador e um perdedor e, lá, o Governo americano seria este e não aquele - contra as drogas, contra o narcotráfico, levada a cabo por um simples jornalista e radialista; também é muito difícil evitar baixas. Ainda sobrevivo.
Posso sentir, aqui no Pantanal - depois de morar, estudar e trabalhar em São Paulo, no Rio e em Recife - o que representam as palavras do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).
Jamais devemos entregar nossas almas. Nos programas de rádio que apresento, costumo dizer - sem me lembrar agora da fonte, e peço desculpas - que "é melhor morrer em pé do que viver de joelhos."
É isso. Só isso. Ou tudo isso.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home