Presidiários rebelados são transferidos de Aquidauana
Mas vamos ao que interessa.
Depois de uma tarde inteira de espera, a reportagem foi atendida às 18h55 pelo diretor-geral da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), Luiz Carlos Telles Júnior. Ele viajou 135 quilômetros de Campo Grande a Aquidauana e informa que os líderes da rebelião e de "correntes ou facções negativas" estavam sendo retirados do presídio.
No fim da rebelião, nesta tarde, ficou decidida a transferência de 12 presos de Aquidauana para o presídio de segurança máxima, em Campo Grande.
São eles: Gilmar Santos Martines, Alberney Silva, Marcelo Nunes Moreno, Reginaldo Rodrigues Ortega, Tiago Silva Rocha, Tiago Almeida Andrade, Éder Corrêa Miranda, Daniel Nunes Cardoso, Adriano Abadio Lopes, Eros Geraldo Santos Júnior, Renato Corrêa e o interno Dirceu Castilho Neves que, embora não tenha participado da rebelião, foi transferido por questões humanitárias, pois sofre de doença grave e será tratado no pavilhão de saúde do presídio da Capital.
O diretor-geral da Agepen anunciou, ainda, que algumas regalias serão tiradas dos 133 internos, que se rebelaram hoje no presídio de Aquidauana.
Estão suspensas as visitas feitas por pessoas que não sejam ascendentes ou descendentes dos presos. Durante a semana, só serão permitidas visitas aos domingos - a de depois de amanhã está mantida -, com horário restrito das 9 horas às 16h30. Estão canceladas as visitas às quartas-feiras e só serão permitidos menores de idade no interior do presídio, desde que previamente cadastrados e somente aos primeiros e terceiros sábados de cada mês. O banho de sol terá a sua duração diminuída e o retorno à normalidade será ditada pelo comportamento, daqui para a frente, dos apenados.
O diretor Telles anuncia que "será realizado um mutirão jurídico dentro do presídio, com o objetivo de analisar caso por caso de cada interno, para checar se ele já pode ser beneficiado pelo regime de progressão da pena."
Ele ressalta que "reivindicações absurdas não serão atendidas, pois os presos precisam entender que a disciplina não pode ser relegada a segundo plano, no interior de um presídio; portanto a troca do chefe de disciplina é impossível, pois não posso me transformar num refém dos internos, ressalvando, no entanto, o direito que eles têm à cidadania e ao respeito aos seus direitos humanos."
Luiz Carlos Telles Júnior informa que ficou sabendo da rebelião às 13h30, quando estava em Campo Grande. Admite que ficou assustado ao receber a notícia, pois o presídio de Aquidauana é conhecido pela sua tranqüilidade. Revela que "quando cheguei ao estabelecimento penal, soube que o representante do Ministério Público [promotor Antenor Rezende Netto, da comarca de Aquidauana] já se encontrava no interior, negociando com os rebelados, que não gostaram da revista do tipo 'pente-fino' realizada nesta manhã, para garantir a segurança não só do próprio preso mas também da sua família durante as visitas, e que precisam e serão feitas sempre que acharmos conveniente."
Telles afirma que os internos queriam a presença, às 12 horas, do diretor encarregado do presídio; mas ele só chegaria do horário de almoço às 13h30. Aí começou a rebelião que, segundo o diretor da Agepen, "não havia motivo para acontecer, segundo admitiram há pouco, durante reunião comigo, os próprios internos."
Ao mesmo tempo, declara que "fui informado pelos funcionários do presídio que, durante a revista feita nesta manhã, foi encontrado um buraco, que indicava um início de escavação de um túnel, na cela número 3 do solário 'A'; fato que causou irritação nos presos."
Para Telles Júnior, não havia motivo para a rebelião, com a queima de colchões e de outros materiais usados pelos internos. Ele ainda não tem o valor exato do prejuízo causado pela rebelião. Garante que a comida servida aos presos é de excelente qualidade e que muitos agentes penitenciários fazem as suas refeições dentro do estabelecimento penal.
Sobre as denúncias de maus tratos e espancamentos, feitas por alguns internos, no momento em quer deixavam o presídio, rumo a Campo Grande e dentro de dois micro-ônibus da Polícia Rodoviária Federal - cuja delegacia fica em Anastácio, município ao lado de Aquidauana, na margem esquerda do rio de mesmo nome -, o diretor-geral da Agepen, Luiz Carlos Telles Júnior garantiu que são infundadas. Ele ressalta que "numa reunião feita aqui na sala da direção do presídio [onde foi realizada a entrevista à imprensa], na presença do promotor de Justiça [Antenor Rezende Netto], logo depois que a rebelião foi dominada, e na minha presença, os internos garantiram que não foram espancados nem antes, nem durante ou depois da rebelião e a prova que apresento é que não houve nenhum atendimento médico nesta tarde."
Durante a entrevista, fiz questão de deixar registrado o protesto, em nome dos demais colegas de imprensa presentes [Anderson Meireles, do site Aquidauana Repórter e jornal Diário MS; e Ronaldo Régis, da Rádio Difusora e jornais O Pantaneiro e Correio do Estado] , e também dos ausentes; sobre a forma como foram tratados os profissionais que militam na região.
Citei como exemplo o fato de colegas de Campo Grande terem acesso às informações, fornecidas por pessoas de dentro do presídio de Aquidauana, enquanto que nós, que permenecemos em frente ao estabelecimento penal, durante toda a tarde e com sol forte sobre as nossas cabeças; recebíamos a informação que "nada seria dito ou falado ou informado, a não ser pelo diretor-geral da Agepen, que está chegando de Campo Grande." Isso no início da tarde, pois a chegada do diretor Telles Júnior se daria apenas às 15h19.
Ficou registrado o protesto, feito de maneira veemente, porém educada, e que tinha como objetico desagravar também colegas que estavam durante a tarde em frente ao presídio, na Rua Duque de Caxias: Corrêa Filho, da Rádio FM Pantanal; Fernando dos Anjos, do Tribuna Popular; fotógrafo Genilso, do Pantaneiro e site O Pantaneiro; repórter do Notícias do Estado [cujo nome lamento não ter neste momento, mas vou apurar] e outros que citarei em breve.
Nesses anos todos de jornalismo, costumo afirmar sempre que "não precisa ter medo da imprensa, mas respeito é bom e não faz mal a ninguém; principalmente respeito mútuo entre autoridades e repórteres."
E vale sempre aquela velha história: Se não pode informar para um repórter, não pode para nenhum, seja de Aquidauana, Anastácio, Terenos ou Campo Grande. Caso contrário, como feito nesta tarde, estarão os funcionários públicos - pagos com o dinheiro de todo o povo - criando repórteres "de primeira", que podem receber informações; e "de segunda categoria", que não podem saber de nada, com a desculpa de "atender determinações superiores."
É bom parar logo com isso, ok? O diretor da Agepen, muito educado e atencioso, já disse que vai facilitar o acesso à informação pelos repórteres da região. Ótimo. Melhor assim.
"De leve", como dizia o grande Ibrahim Sued, no jornal O Globo, do Rio.
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