Artigo de Luiz Leitão: Negociando verdades
Negociando verdades
Por Luiz Leitão (*)
A maior prova do envolvimento de ambos, PT e oposição nos malfeitos que a CPI dos Correios apura é o fato de as partes se reunirem para negociar a versão do relatório final da comissão que irá prevalecer. Alguém já viu um inquérito ser objeto de acertos, exceto quando o investigador é corrupto?
Ora, uma investigação lida com indícios, testemunhas, provas materiais, confissões, etc., logo, dentro daquilo que é apurado não há espaço para se deixar de mencionar este ou aquele fato ou pessoa. Tal prática, se admitida, leva o nome de prevaricação.
Após nove meses de gestação, com exames de documentos, oitiva de testemunhas – de resto inúteis, porque desobrigadas pelo Supremo Tribunal Federal de dizerem a verdade -, chega-se a esta ridícula situação de seus integrantes negociarem a verdade.
O relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) “resolveu” que irá aceitar (a pedido do PT) pedir o indiciamento do banqueiro Daniel Dantas. Quer dizer então que se criou um motivo para pedir seu indiciamento, um ato de exceção, a bem dizer, ou havia uma razão, conscientemente desconsiderada pelo relator?
Dentro de seu pacote de bondosas concessões, Serraglio também disse que vai tirar do relatório a menção à filha do ex-ministro Jacques Wagner. Ela trabalhou na empresa GDK, aquela que trabalha para a Petrobrás e presenteou o ex-secretário do partido dos Trabalhadores, Sílvio Pereira, com um Jipão importado Land Rover.
A reunião de negociação ganha ares de comicidade por ser presidida pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que não faz parte da CPI, mas isto é apenas um insignificante detalhe, num convescote onde o importante é agradar a todos (menos o eleitor; para este o verbo é enganar).
Os petistas usam e abusam de sua cota de negociação nesta peça de teatro, querendo impor um relatório paralelo isentando de indiciamento José Dirceu e Luiz Gushiken, e afirmando que não houve nenhum Mensalão. Assim como as oposições, o pessoal do PT também faz concessões à parte contrária, subvertendo ou omitindo a verdade em benefício do PMDB, entre outros.
O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS) recomenda cuidado nestas, digamos, tratativas, pois “infelizmente, nossa imagem (do parlamento) já está no chão. Seria mais sábio e honesto dizer que está já no subsolo. Diz ele ainda que “não é possível não termos um relatório final”.
É possível sim, senador, a CPI do Mensalão terminou sem relatório e a CPI da Terra teve o seu rasgado em plenário,
Ora, sem surpresas, já estamos, nós, eleitores, acostumados e não será nenhuma sandice afirmar que esta comissão – em que pese a sua longevidade – não apurou boa parte das tramóias praticadas e indubitavelmente protegeu muita gente.
Não fosse assim, não haveria esta vergonhosa reunião de conciliação e negociação da verdade.
Quando este artigo tiver sido publicado, certamente suas excelências já terão chegado um acordo, um acordão, melhor dizendo, fruto do qual, entre mortos e feridos, os figurões salvaram-se quase todos.
(*) Luiz Leitão
Administrador e articulista, Brasil
luizleitao@allsites.com.br
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