O Brasil ficou mais pobre: Dom Luciano se eternizou
O Brasil ficou mais pobre: Dom Luciano se eternizou
Por Schabib Hany (*)
O dia 27 de agosto de 2006 entra para a história do Brasil como um dos dias mais tristes para a cidadania. Depois de resistir estoicamente, ao longo das últimas semanas, a um câncer no fígado, no Hospital das Clínicas de São Paulo, Dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana (Minas Gerais), partiu para a eternidade. No mesmo dia, aliás, em que, sete anos antes, partira outro singular pastor católico, Dom Hélder Câmara, arcebispo emérito de Recife e Olinda (PE). Os dois foram contemporâneos e partícipes das grandes pugnas empreendidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no período em que a América Latina esteve submersa a regimes de exceção, razão que os levou e a outros companheiros seus – como Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Aloísio Lorscheiter, Dom Ivo Lorscheiter e Dom Mauro Morelli –, a ser porta-voz dos clamores da sociedade civil na luta pela implantação do Estado de direito, pelo respeito aos direitos humanos e na defesa das liberdades democráticas.
Dom Luciano, empossado em 1976 como bispo-auxiliar do incansável Dom Paulo Evaristo Arns na arquidiocese de São Paulo, destacou-se pelos trabalhos voltados para as crianças e adolescentes abandonados, tendo sido o responsável pela implantação da Pastoral do Menor. Em fins da década de 1970 foi eleito secretário-geral da CNBB por dois mandatos (até 1986) e em seguida presidente, também por dois mandatos consecutivos (até 1994). Entre 1995 e 1998 foi vice-presidente da Conferência Episcopal Latino-americana (CELAM). Desde 1976 presidiu o Conselho Episcopal do Mutirão para a Superação da Fome e da Miséria e a partir de 2002 passou a integrar o Conselho Estratégico Brasil sem Fome, da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida, fundada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Como arcebispo de Mariana, desde 1988, promoveu importantes ações voltadas para a defesa do patrimônio histórico-cultural e para a promoção social da infância, juventude e terceira idade na região de sua arquidiocese.
Por sua singular habilidade, era tido como moderado no contexto das correntes da CNBB, época em que a disputa entre bispos conservadores e progressistas o tornou imprescindível no âmbito da direção da conferência eclesial brasileira e latino-americana. Seu compromisso com os excluídos e seu incansável labor pela afirmação da cidadania das amplas camadas carentes o tornou um paradigma de vanguarda numa sociedade que ainda teima em desconhecer valores como a ética, a solidariedade e a concórdia entre a vasta diversidade que compõe a humanidade. Desde onde passou a estar desde esta triste data, por certo ao lado do inesquecível Dom Hélder, o agora saudoso Dom Luciano, sem dúvida, estará velando pelos cidadãos ansiosos de paz, justiça e liberdade. Até sempre, pastor de todos os povos!
(*) Schabib Hany é coordenador da Organização de Cidadania, Cultura e Ambiente (OCCA) e membro da coordenação colegiada do Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário (Mato Grosso do Sul), enquanto representante do Comitê da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida na fronteira com a Bolívia.
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