Leitor pergunta : Quem foi "JGB" ?
Infelizmente, caro Maidana, o nosso "JGB" já morreu. Muito jovem, por sinal. Está enterrado no Cemitério Santa Cruz, em Corumbá, onde nasceu.
Na foto que publico, ele está à direita, com um gravador menor, ao lado do já falecido Gomes da Costa - na época na TV Cidade Branca - e entrevistando o ministro Cesar Cals, no Aeroporto Internacional de Corumbá, no período entre 1980 e 1982.
Sua morte foi nos anos 1990, depois de 1993 e antes de 1996. Não tenho a data exata aqui na redação, mas vou pesquisar para informar corretamente.
Muito inteligente, o João de Oliveira Neves foi frentista de postos de gasolina, em Corumbá, antes de entrar, em 1974, para o "cast", o quadro de locutores da Rádio Clube, que naquele ano havia aberto concurso para seleção de novos talentos.
Naquele "teste de locução", destacaram-se Jonas de Lima e João de Oliveira Neves, o "Joaõzinho Gente Boa", ou "JGB".
O Maidana, leitor deste blog, vendo a foto que publiquei, pergunta : "Armandinho, o Joãozinho era baixinho, anão talvez ?"
Respondo com um termo politicamente correto : "O JGB era sim, verticalmente prejudicado ou, como se falava antigamente, um anão".
Mas o seu talento para a comunicação no rádio era o de um gigante. Tanto que, em 1976, o grande produtor Jorginho Abicalil, no Rio de Janeiro, contratado por um dos diretores da Rádio Clube, o meu tio Fause Anache, escreveu que "o Joãozinho deveria ter o seu talento e o seu timbre grave de voz explorados da melhor maneira possível, principalmente junto às crianças e às meninas; e em shows feitos no Cine Anache".
Abicalil escreveu e gravou naquele ano de 1976 as vinhetas, inesquecíveis até hoje, especialmente para o "JGB" : "Quanto maior é o gigante, maior é o tombo. O quente é o Joãozinho!" e "Toca, Joãozinho, toca Joãozinho", e ainda, "Joãozinho, my love", e mais, "Joãozinho, meu 'heart' é todo seu".
Todas as vinhetas acima, foram gravadas por uma locutora - não me lembro o nome agora - do Rio de Janeiro, da equipe do Jorginho Abicalil, e com uma voz bem romântica e, propositadamente, muito "sexy".
Eram para ser usadas no programa "JGB atende", no período da tarde. O formato do programa era musical variado, com ênfase para os pedidos das ouvintes, pelo telefone 2525 ou por meio de cartas.
As ouvintes, meninas e adolescentes, tinham que ser mantidas à distância, com a utilização de uma porta de madeira, em forma de grade, com 1,20 m de altura, que separava o corredor da segunda sobreloja do Edifício Zahran Anache, do acesso para a Rádio Clube. Explico melhor : quem subia à segunda sobreloja, tinha à disposição a escada ou dois elevadores novinhos da Atlas. Chegando à segunda sobreloja, ocupada inteiramente pela Rádio Clube - 0 equivalente a dois apartamentos de três quartos de frente e dois de dois quartos, nos fundos - virava-se à esquerda e, pelo corredor, chegava-se à entrada para a Rádio Clube. À esquerda, havia o Estúdio "A", no ar; e a manutenção sob o comando do "patrício" Nasser; em frente estava o Estúdio "B", de gravação, com o internacionalíssimo "El Boroko", Edmundo Alvarez, Joel de Souza e outras feras; à direita a sala do departamento de jornalismo, cujas janelas davam para a "gloriosa" Rua Delamare; mais à direita, seguindo pelo corredor interno, a discoteca, sob a batuta do querido amigo Costinha e, depois, do "El Boroko"; e à esquerda, pelo mesmo corredor, a sala da direção-geral, também com janelas com vista para a Delamare.
Voltando às meninas, lembro que elas tinham que ser paradas por meio da grade de madeira. Fãs apaixonadas, queriam invadir e ver de perto o dono daquela voz bonita e maravilhosa, de um verdadeiro gigante da comunicação, o nosso "Joãozinho Gente Boa".
Muitas delas, quando viam o "JGB" de perto, não acreditavam. Imaginavam, muitas vezes, que a voz que ouviam no rádio pertencesse a um locutor ou comunicador com mais de 1,80 m de altura, moreno ou branco, com olhos azuis ou, quem sabe, castanhos escuros.
Mas o nosso querido "JGB" era um ídolo. Um verdadeiro ídolo das ouvintes da Rádio Clube. Uma estrela do rádio daqueles anos 1970.
Depois, começou a trabalhar também na reportagem. Repito que era muito inteligente, tinha o segundo grau completo, havia morado em Ribeirão Preto, S.P., durante alguns anos; lia os jornais diários, ouvia muito os noticiários, em ondas curtas, das rádios do eixo Rio-São Paulo.
Eu sempre afirmo que o "Joãozinho" vibrava com o rádio. Era, acima de tudo, um profissional do rádio, com a dose certa de malandragem e "jogo de cintura" típicas dos corumbaenses e ladarenses, que sofrem há mais de 100 anos a boa influência dos militares da Marinha e do Exército, que vêm, na sua maioria, do Rio de Janeiro.
Ah, sim ! Era tricolor das Laranjeiras como eu. Fluminense, sim senhor.
E excelente repórter de campo, nos jogos realizados no Estádio Arthur Marinho, em Corumbá; no Morenão, em Campo Grande; no Maracanã, no Rio; e em tantos outros.
A cena transmitida pela TV, para todo o Brasil, direto do campo do Maracanã, com o goleiro Manga carregando o "JGB" no colo foi antológica e até hoje é lembrada pelos mais antigos do formidável veículo de comunicação de massa chamado Rádio.
"JGB" adorava, também, uma "guerra" com os colegas de rádio. Ele "vestia a camisa" da Rádio Clube e brigava por ela.
Devido ao se tamanho - pouco mais de 1,50 m - era evidente que ninguém "partia para cima" dele, para dar uns bons "sopapos".
O grande profissional do rádio, Acyl Barbosa, era uma das suas "vítimas" preferidas. Quando chegava, nas manhãs de domingo, para apresentar o seu programa campeão de audiência na Clube, com músicas do passado - Nelson Gonçalves, Jamelão, Lupcínio Rodrigues, Cauby Peixoto e outros tantos -, vinha o susto.
"__ Onde estão os LP's que deixei bem aqui nesse canto, separados para tocar hoje ?", gritava desesperado o excelente Acyl, com sua voz idêntica a do Nelson Gonçalves. O operador respondia : "Só pode ter sido o Joãozinho, Acyl". Ele berrava : "Anaaaaão f.d.p., onde meteu os meus discos ?" O operador, fazendo de desententido - mas sabendo de todo o modo de operar do traquina "JGB", acalmava o vascaíno fanático : "Acyl, acho que os discos estão aqui, em cima do forro falso da técnica". E lá estavam, escondidos pelo Joãozinho, que usava uma cadeira para acessar o forro que, rebaixado, não era tão alto.
O Acyl, mais descontraído, com a presença da Doutora Laurita, diretora chamada às pressas, afirmava : "Doutora, um dia ainda vou dar uma porrada nesse anão!" Ela sorria e voltava para casa, onde ouvia todo o excelente programa do Acyl.
É evidente que não escrevi, aqui neste espaço limitado, tudo sobre a vida do querido amigo, colega e grande radialista João de Oliveira Neves. Um homem que vivia de bem com a vida. Um tremendo gozador, que não "aliviava" nem mesmo a sua própria família. Quando ele conseguia um "vale" ou "adiantamento de salário", dizia : "Ôôbaaa ... Doutora, hoje vai ter festa lá na senzala!"
Mas posso garantir : ele nunca, jamais, curvou-se à sua condição física. E a Rádio Clube, em nenhum momento também, criou obstáculos ao desenvolvimento do seu talento de comunicador nato. Afinal, tamanho nunca foi documento e massa encefálica e voz de qualidade não faltavam ao Joaõzinho.
Quando morreu, "JGB" estava há alguns meses na Rádio Difusora, para onde se transferiu, convidado pelo seu grande amigo Farid Yunes Solominy, então assessor de comunicação da prefeitura de Corumbá e hoje diretor e editor do tradicional jornal "Correio de Corumbá", fundado em 21 de setembro de 1960, data de aniversário da Cidade Branca, que "melhor não há nem cá nem lá", como já escreveu o poeta.
Será que consegui aplacar a curiosidade do leitor Maidana ?
E a sua, leitor ?
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