A origem do mensalão, por José Pedro Frazão
Leia abaixo o que escreve o Frazão :
A origem do Mensalão
José Pedro Frazão
É verdade que os assuntos MENSALÃO e CPI estão congestionando e tornando cansativo o noticiário brasileiro. Mas é preciso que se diga que esses malfeitos não acontecem somente sob o céu da capital federal ou de Rondônia.O mensalão e seus derivados estão incrustados nos quatro cantos deste país: em empresas públicas, em autarquias e na maioria das assembléias legislativas, câmaras e prefeituras municipais. Por isso é que além das mudanças estruturais encabeçadas pelos projetos de reformas política e econômica, tão necessários para a reorganização e moralização do poder público, é imprescindível que se faça uma investigação geral na política brasileira, em todas as esferas de governo, o que é aparentemente difícil.O PT, que sempre defendeu a bandeira da ética na política, não se conteve diante da tentação e da facilidade do poder. Por isso também comeu do fruto proibido. No exercício do poder o PT mostrou que não é o que sempre pregou, nem pode mais posar como paladino da moralidade, principalmente no governo onde estão as mesmas figuras de sempre da velha política requentada. Raposas de todos os matizes se uniram com o PT contraditório em torno do mesmo banquete: a apropriação do poder público. O Presidente Lula precisa parar de fazer bravatas e piadinhas, porque a coisa não é de brincadeira. É preciso assumir o comando do país e tratar PT apenas como partido. A nação não é partidarista, não é petista. A sociedade aprova as CPIs, mas o Brasil não pode parar por causa disso. Não existem apenas comissões parlamentares de inquérito para investigar a corrupção. Há o tribunal de contas da União e os dos estados, capazes de promover auditorias; há o ministério público, o poder judiciário e polícia federal com poderes para enfrentar o crime organizado do colarinho branco. Falta apenas articulação federativa e vontade política para passar o Brasil a limpo.Se não fosse pela briga de interesses de grupos que apóiam o governo, não viria à tona a sujeira do mensalão e as transações nebulosas que se revelam a cada dia, a cada depoimento, a cada quebra de sigilo telefônico e bancário. O que seria da sociedade se os marginais não brigassem entre si? E se eles se unissem num único bloco, o que seria de nós, contribuintes? O que seria do povo brasileiro, se políticos como o deputado Roberto Jefferson não tivessem seus interesses afetados a ponto de denunciar os outros corruptos como ele? As denúncias não estão sendo feitas por questões éticas, mas por interesse, porque nessa corrompida política brasileira “o interesse que une é o mesmo que separa”. Quando Roberto Jefferson avisou o presidente Lula sobre o mensalão, o objetivo não era alertar, ou defender o patrimônio nacional, mas, sim, barganhar. Foi lá, denunciar, porque o Zé Dirceu puxava o seu tapete. E então aproveitou para dizer que sabia de tudo e que tinha em sua mão o rabo do PT. E tem mesmo. Tanto que está levando fileiras para o buraco.Mas é bom que se diga que o “mensalão” que muitos políticos recebem para votar no governo é apenas o outro lado da mesma moeda que muito eleitor recebeu para votar nos seus candidatos. O “mensalinho” que o cidadão corrupto recebeu para votar no seu prefeito, vereador ou deputado, nas eleições, é tão sujo quanto o mensalão dos deputados. A diferença é que o mensalinho do povinho é cinqüenta reais, e o mensalão é trinta mil, cinqüenta mil...Assim como não há diferença entre a propina do eleitor e a propina do deputado ou senador, no centro da corrupção da administração pública não há diferença entre pagamento de dinheiro e distribuição de cargos estratégicos em troca de apoio partidário, principalmente os cargos que podem render dividendos para os políticos negociantes (como o deputado Severino Cavalcanti, do PP). Mas o PT preferiu dar dinheiro (mensalão) para os aliados e ficar com os cargos para assegurar seu equivocado projeto político partidário.O governo do PT, assim como muitos, se utiliza da máquina pública para tentar se perpetuar no poder. E não adianta se fazer de vítima, para que também não sejam vítimas o Paulo Maluf, o João Alves, os anões do orçamento, o Jader Barbalho, o PC Farias, etc. Mas Petista que se presa mesmo, e são muitos, certamente deve estar envergonhado com a cúpula nacional. O grande problema é que precisamos reduzir a corrupção preservando a República e a figura, até agora intocável, do presidente Lula, a bem do país. É preciso colocar armadilhas para pegar as raposas do PT, do PTB, do PMDB, PP, PDT e de tantos outros partidos que nos últimos anos se apropriaram do poder público, tanto no governo passado, quanto no governo atual. A corrupção não tem cores partidárias, tem falta de caráter. Mas enquanto nos atemos às maletas dos mensalões, quantos malões gigantes não se escondem por trás desse gueto político? Portanto, não basta apenas descobrir as verdades sobre o mensalão, que todos sabiam, mas não falavam. A dose certa do remédio contra a corrupção é uma ampla investigação nacional, em todos os níveis. Não com essas CPIs que tendem acabar em pizzas e vinho, mas com os tribunais de contas da União e dos estados e a polícia federal, agindo em todos os municípios, fazendo raios-x das administrações de câmaras e prefeituras, começando pela intransigência da Lei de Responsabilidade Fiscal e pela mudança radical no sistema de licitação pública.Cortar o mal pela raiz não pode ser confundido com cortar o Lula (como quer a oposição para seu interesse), mas a corrupção que está enraizada no palácio do planalto petista, no congresso nacional multicolorido e na maioria dos municípios brasileiros. É verdade que o PT faz um governo de improviso e não tem um projeto definido para o país. Mas assim como é possível reduzir o desemprego com a economia solidária, é possível controlar o câncer da corrupção com auditorias em todos os estados. Melhor ainda se a imprensa exercer seu verdadeiro papel (não servindo de trampolim a bandidos) e a sociedade se organizar para, junto com os poucos políticos de bem que ainda restam, fazer uma limpeza geral na máquina pública brasileira.
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