Palocci e a mulher de César
Palocci e a mulher de César
Por Luiz Leitão (*)
Aos que dias atrás assistiram quase extasiados ou aliviados ao pronunciamento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho e se convenceram de sua inocência, chegando a aplaudi-lo, notadamente boa parte da imprensa, cabe lembrar o velho dito sobre a mulher de César.
As revelações de que o circunspeto ministro comprou imóveis, registrando-os por preços ridiculamente abaixo dos valores reais tiram-lhe definitivamente a aura de inocência que muitos teimavam em ver pairar sobre a sua cabeça. O que agora oscila sobre si é a espada de Dâmocles, pois não se pode admitir nem remotamente que o homem encarregado de conduzir a economia do Brasil possa ter cometido o crime de sonegação fiscal, como parece ser o caso revelado pela mesma piedosa e crédula imprensa.
Imagine o leitor se é possível alguém ter a audácia, para dizer o menos, de registrar em escritura a compra de um apartamento por R$57,00 e dois meses depois vendê-lo por nada menos que R$42.000,00, valores arredondados. Também uma luxuosa casa, sua atual residência naquela cidade foi contabilizada, ao menos em cartório, por míseros R$818,00. De duas, uma: ou temos um descarado sonegador ou um notável gênio das finanças. Sem provas mais cabais, fiquemos por ora com a mais simpática hipótese da genialidade.
É como foi dito lá atrás, no artigo "no piloto automático": Se um homem não honra a palavra escrita, o compromisso firmado em cartório de que se fosse eleito prefeito da cidade de Ribeirão Preto (SP), cumpriria seu mandato até o final, e no entanto, abandonou a gestão da cidade para ser ministro da Fazenda de Lula da Silva.
Uma cientista política chegou a defendê-lo neste ponto do compromisso, dizendo que a qualquer um é dado voltar atrás.
Sim, todos podem mudar de idéia, desde que não estejam formalmente compromissados e que tal promessa não tenha sido usada como argumento de campanha. Existe aí um empenho. Disse a cientista que Lula da Silva tem o direito de candidatar-se à reeleição. Ora, uma platitude! Óbvio, alguém, em algum momento, argumentou o contrário?
Tanto Lula quanto eu ou você, tivéssemos dinheiro para fazer campanhas milionárias, que uma falsa reforma político-eleitoral está para fazer o eleitorado acreditar que serão de fato inibidas. Não serão. Não com esta reforma, patrocinada pelos piores expoentes da política nacional!
Não nos enganemos a respeito desta crise, se parece infindável, é porque é mesmo, a cada dia uma surpresa, e agora o subitamente ínclito presidente da Câmara dos deputados, Severino Cavalcanti está sendo acusado de ter recebido um mensalinho de R$10.000,00 do dono do restaurante que ocupa as dependências do Congresso.
Se ficar provado, fora Severino, e já não terá sido sem tempo.
Tivemos nesta triste figura um dos piores exemplos da má política, bem antes de outras igualmente ruins amostras de trampolinagem parlamentar virem à tona no escândalo do mensalão.
O que esperar de um homem que se vangloriava e achava a coisa mais normal dar carteiraço (intimidar pelo cargo que ocupa) em um policial rodoviário, para este não multar um amigo ou apaniguado seu? Que diz que caixa dois não é crime...
Muito sabão e desinfetante ainda serão usados para limpar os anais do Parlamento brasileiro. Esperemos e rezemos que tal limpeza não se faça necessária no palácio do Planalto, melhor dizendo, ao menos em parte dele, mais precisamente na sala do mandatário-mor, Lula da Silva cuja imagem de inocente, até aqui – piedosa , verdadeira ou convenientemente - generosamente mantida incólume. Generosamente, porque quem manda, tem culpa pelos atos de seus subordinados, no mínimo “in vigilando”.
(*) Luiz Leitão
luizleitao@ebb.com.br
Blog: http://www.blog.comunidades.net/luizleitao/
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home