Artigo de Luiz Leitão: Eis a confissão
Eis a confissão
Por Luiz Leitão (*)
Não bastassem as ridículas desculpas do ministro Antonio Palocci Filho a respeito de sua freqüência à Casa do Lobby, ou Central de Negócios, - a famosa casa de encontros mundanos e de transações suspeitas de Brasília, assiduamente visitada pelo pessoal da República de Ribeirão Preto – de que não sabe dirigir em “Brasília” , como se a capital Federal não tivesse placas de orientação e como se o elegantérrimo bairro Lago Sul, onde fica a tal casa fosse uma periferia qualquer da cidade (ou ainda, como se não existissem guias de ruas), vem agora aquilo se configura como a confissão que Palocci jamais fará.
O guardião do PT nas CPIs, senador Tião Viana (PT-AC), informa sua inseparável companheira, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), entrou com um pedido de mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal para impedir o depoimento à CPI do caseiro Francenildo Costa, sob o cândido argumento de que tal oitiva não guarda relação com os fatos investigados pela CPI dos Bingos
Todos quantos buscam a verdade só podem estar imensamente gratos ao senador Tião Vianna por sua confissão de culpa em nome do ministro Antônio Palocci Filho. Sim, porque se o que o caseiro disse e deverá confirmar nada tem a ver com os fatos investigados pela CPI, se Palocci nada tem a temer como vive apregoando - embora mude suas versões dos fatos ao sabor dos ventos, ou quando a, digamos, alegação não “cola” -, mal não há de fazer, até porque o caseiro está, este sim, sob o compromisso de dizer a verdade.
Francenildo não necessita de habeas corpus da prestimosa Suprema Corte porque não tem nada a esconder, muito pelo contrário, sua entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo foi permeada de uma franqueza e uma tranqüilidade eloqüentes, coisa que uns e outros não demonstram, quando não partem para o escárnio puro e simples, abrigados pelos Hábeas que o STF distribui com inaudita generosidade, agindo sempre, é claro, no resguardo da Constituição e dos direitos individuais.
Pode-se dizer que o senador Tião Vianna, no Afã de “ajudar”, praticamente “suicidou” o renitente ministro. Que segue tranqüilo, em termos, enquanto tiver foro privilegiadíssimo.
Sim, em termos, porque o jornalista Ricardo Noblat, que não é nenhum novato em política, tampouco leviano, publicou em seu blogue (14/3) que Palocci haveria telefonado de Londres ao presidente do Bradesco, Lázaro Brandão – a ser verdade tal assertiva, veja o leitor a promiscuidade do poder político com o poder financeiro – para que ele intercedesse junto a dois senadores da oposição (PSDB) para que a CPI dos Bingos pegasse leve com o delegado seccional de Ribeirão Preto, Benedito Valencise, mas a trama não vingou.
A queda de Palocci não haverá de arranhar Lula, mas o depoimento de Paulo Okamotto, se fosse possível, a julgar pelas ferozes e eficazes tratativas junto ao STF para impedir a quebra de seu sigilo, poderia ter um poder detonante sobre o presidente. O que fica difícil de entender é que, se Okamotto não tem foro privilegiado, por que o Ministério Público Federal não oficia à Polícia Federal para que o investigue, sendo que a PF poderia conseguir um mandado junto à primeira instância da Justiça Federal (que certamente seria objeto de nova liminar ao STF, mas que, além propiciar de uma briga até engraçada, ajudaria a reforçar as suspeitas).
Vale lembrar que tal procedimento serve para Duda Mendonça e todos os demais implicados sem foro privilegiado, como Delúbio Soares, Ariosvaldo Ademirson da Silva, Juscelino Dourado, os empresários amigos de Palocci, como aquele do jatinho e do avião dos supostos dólares à Cubana, gente de Furnas, de Itaipu, uma fieira de testemunhas e implicados de dobrar a esquina. Claro, não se está acusando ninguém aqui, e por isso mesmo é que uma quebra de sigilo e uma investigação por parte do MP Federal e da PF, assim como caldo de galinha, não haveria de fazer mal a ninguém, antes pelo contrário, colocar-se-ia tudo em pratos limpos e os inocentes poderiam, finalmente, dormir sossegados.
Afinal, virou moda, só vai mesmo às CPIs “a descoberto” que nada tem a temer, como o caseiro Francenildo Costa.
(*) Luiz Leitão
Articulista político, Brasil
luizleitao@allsites.com.br
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