Corumbá une rituais católicos e do candomblé nas festas de fim de ano
A união das doutrinas religiosas e a participação popular em Corumbá estão contribuindo para consolidar um evento que, a cada ano, atrai mais adeptos e turistas à beira do rio Paraguai. A abertura dos festejos de fim de ano, ontem (30) à noite, reuniu a Igreja católica e o candomblé em uma mesma cerimônia, onde se enfatizou a importância da família e a adoração e amor ao único Deus. Fotos: Sílvio Andrade/APn Essa integração e fé fortalecem e potencializam uma manifestação popular que demonstra a presença marcante das raízes afro-brasileiras na região, além de tornar-se mais um atrativo turístico que a Prefeitura de Corumbá incluiu em seu calendário de eventos. A lavagem das escadarias da Igreja Nossa Senhora da Candelária - a Matriz de Corumbá, cuja obra foi iniciada pelo frei Mariano, na época da Guerra da Tróplice Aliança - e a festa a Iemanjá, no Porto-Geral, são celebrações únicas em Mato Grosso do Sul. O ritual se inicia com uma missa de Ação de Graças no histórico templo, celebrada pelo padre Celso Ricardo da Silva. Junto aos católicos, que lotam as dependências da igreja construída em 1885, chama a atenção um grupo de candomblé. "A Igreja abre as portas para todos aqueles que necessitam de Deus. O mais importante é vivenciar Deus", disse o padre Celso, que assistiu ao ritual da lavagem, junto ao povo. Mundo melhor – Esse diálogo e respeito entre as religiões também foram destacados pelo babalorixá Zazelokum Clemílson de Xangô, um dos precursores do ritual em Corumbá e da aproximação com a Igreja Católica. Ele disse que o mais importante é acreditar nesse Deus único. Citou que o padre Celso estimulou os jovens a uma reflexão da vida para que se virem para Deus e abandonem o vício das bebidas e das drogas. “Todos nós, sobretudo os jovens, devemos acreditar muito em Deus, por um mundo cada vez melhor”, disse o balalorixá, lembrando que o ano de 2007 será regido pelos orixás Obaluaiê e Iansã, senhores do mundo. Clemílson conduziu a lavagem das escadarias, rezando o Pai Nosso em ioruba (idioma africano). Festa de Iemanjá tem orações, oferendas, muita dança e batuque No ritual, que acontece há cinco anos em Corumbá, as iabás (mulheres que recebem orixás femininos) purificam a entrada da Igreja com água benta, ervas de cheiro (como alecrim, alfazema e manjericão) e flores. Na Bahia, a Lavagem do Bonfim é considerada a segunda maior manifestação popular e a principal festa religiosa. Teve início em 1754. Os negros baianos transformaram a lavagem em uma festa sincrética ao catolicismo e ao candomblé Encerrada a cerimônia na porta da Nossa Senhora da Candelária, a população acompanha, a pé, pela Ladeira Cunha e Cruz, o grupo do candomblé em direção à prainha do Porto-Geral, onde acontece a louvação a Iemanjá. Ali, o candomblé se junta a umbanda e quimbanda, representando mais de 90 tendas de Corumbá e Ladário, e dão início a festa, com seus atabaques, roupas brancas e coloridas, muitas velas e champanhe – e muita dança. No Cristo – A adoração a Iemanjá, que atraiu milhares de pessoas, prosseguiu pela madrugada de hoje. O ritual retoma esta noite, no mesmo local, a partir das 20h. Também hoje acontecerá, ao lado do Cristo Rei do Pantanal, no Morro do Cruzeiro, as comemorações da chegada do novo ano, com uma missa celebrada pelo bispo Segismundo Martinez. A Prefeitura de Corumbá promoverá um show pirotécnico, com duração de oito minutos. |
Fonte: Sílvio Andrade/APn Comentário do blog: A minha cidade natal, Corumbá, continua cada vez mais linda. O sincretismo religioso, tal qual observado há muito mais tempo na Bahia, serve para demonstrar como uma comunidade pacífica convive com as mais diversas manifestações de fé e devoção em Deus. Como já disse um amigo meu, que professa a fé evangélica, criada depois do movimento iniciado por Martinho Lutero, nos anos 1500: "O que vale, meu caro Armando, é que todos nós temos o mesmo Deus." |
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