Artigo: O jornalismo, o senador e o dossiê
A atitude do senador Álvaro Dias, confirmando à imprensa que no Palácio do Planalto há um "dossiê" sobre as despesas do ex-presidente FHC, merece elogios, assim como o importante trabalho da imprensa investigativa. É graças a essa esclarecedora divulgação e a fontes corajosas e seguras (como o senador) que a população fica sabendo da existência de coisas podres como o mensalão, os sanguessugas e a farra dos cartões corporativos. Já que, infelizmente, a casta político-administrativa não tem sabido se comportar adequadamente, só o escândalo é capaz de colocar fim ou pelo menos reduzir a roubalheira do dinheiro público que, em vez de sustentar a safadeza dos poderosos, deveria ser empregado na prestação de serviços à população.
Sabedor de que, na prática, os atos omissos do Executivo e do Congresso não são capazes de acabar com o descalabro, o senador deu sua valiosa contribuição informativa à revista, e não deve ser criticado, muito menos punido. Com o travesseiro de penas aberto diante do ventilador, não há como deixar de apurar e punir. Fica escancaradamente claro que o governo montou o intimidatório dossiê – ou “banco de dados”, como prefere a ministra Dilma Roussef – numa ameaça de coação e retaliação ao governo anterior e seus aliados no Congresso, para safar-se de abrir as suas próprias e discutíveis despesas durante as apurações do mau uso dos cartões de crédito corporativos.
Os governistas estão acintosamente inviabilizando a CPI dos Cartões, a ponto dela estar para ser encerrada na próxima semana, sem qualquer apuração. Aí, diante de tanta sujeira não removida, resta apenas o Ministério Público Federal, onde o governo não tem ascendência, para investigar cível e criminalmente. Diante dos sigilos já quebrados, os procuradores têm reais motivos para agir e caçar os denunciados esbanjadores do dinheiro público. E, no âmbito da investigações, o governo que prove – se puder – que seus integrantes não estão metidos nas falcatruas denunciadas. Essa é a grande chance para “passar a limpo” muita coisa que têm sido imposta sem nenhum escrúpulo ao país, em prejuízos do povo.
Agora, que já divulgou os gastos de FHC, Lula está moralmente comprometido a fazer o mesmo com os do seu governo. E faria melhor ainda se criasse mecanismos para a publicação automática, assim que as despesas fossem acontecendo. Essas providências até poderiam reduzir sua culpa no “crime” de, como criança mimada, espalhar dados sigilosos do antecessor. Bastaria apenas identificar e demitir aqueles seus auxiliares que devassaram as senhas para montar o dossiê (ou banco de dados) e os que fizeram o material chegar ao senador Álvaro Dias e a outras fontes que os repassaram à imprensa. Com essas providências, até nem precisaria demitir, pois a partir daí não haveria mais o sigilo a preservar...
(*) Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home