A verdade, a meia-verdade, a mentira e as eleições
Por Armando de Amorim Anache (*)
Primeiro de abril. Dia de alguns políticos, ou melhor, desculpe, Dia da Mentira.
Um provérbio iídiche diz que "uma meia-verdade é uma mentira inteira."
Na sexta-feira (28), assisti a um documentário, na TV Câmara, de Brasília, sobre a vida do político Marcos Freire, do MDB e, depois, PMDB de Pernambuco.
Morei e trabalhei dois anos em Recife. Lá, a esquerda predomina nos meios acadêmicos, no povão e também entre jornalistas e radialistas, como eu.
Sei que Marcos Freire, morto prematuramente num acidente aéreo, é muito querido naquele estado.
Num trecho do documentário, um assessor dele, durante a campanha para o Governo de Pernambuco, revelou que "o Marcos chegava com a gente, num lugar do sertão, por exemplo, ouvia os desejos da população e, depois, comentava: 'Como é que eu prometer aquilo que, tenho certeza, não poderei fazer no futuro, porque não há dinheiro disponível? Insistíamos, então, que ele deveria falar mais sobre as coisas boas, ao invés de insistir em discursos duros, mais ideológicos."
Mas o Marcos Freire, lembrava o assessor, se recusava a mentir. Tinha compromisso com a verdade. Não com as meias-verdades.
"Mas, no entanto, porém, todavia", como diz um amigo meu, boliviano de Puerto Suárez, hoje é o Dia da Mentira e, neste ano, teremos eleições municipais. Todos os seus problemas, eleitor e eleitora, serão resolvidos.
Não teremos mais cobras corais entrando nas casas da periferia. Os matagais serão, finalmente, limpos. As casas terão luz, água tratada, esgoto e coleta de lixo todos os dias. As filas enfrentadas nas unidades de saúde serão coisas do passado. Os políticos - principalmente aqueles menos comprometidos com a verdade - só terão preocupação com os verdadeiros projetos, que visem ao progresso e bem-estar da comunidade. As ambições pessoais serão deixadas de lado. As pessoas desempregadas terão, finalmente, empregos garantidos pelas novas indústrias que chegarão. Aquelas já existentes, principalmente as mineradoras, pagarão mais impostos justos, para contribuir ainda mais com o desenvolvimento da Cidade Branca, de Ladário e de toda região. Nenhuma rua terá buracos. Todas as galerias de águas pluviais, já existentes, e aquelas que ainda serão construídas, serão mantidas limpas, para que o povo não enfrente mais as enchentes. O estádio Arthur Marinho será reformado e, novamente, como em 1981, ficará sob a administração da LEC (Liga de Esportes de Corumbá).
Ufa! Chega de promessas! O povo não agüenta mais!
Será que este mesmo povo trabalhador, ordeiro, honesto, mas, em muitos casos, muito necessitado - e a fome não espera, pois precisa ser saciada -, vai resistir às ofertas de sacolões, canos para água, telhados novos para suas casas ou barracos, ligaduras de trompas, jogos novinhos de camisetas para times de futebol, e tantas outras "cositas más" oferecidas durante uma campanha política?
O povo tem que escolher, finalmente, neste Dia da Mentira, se irá gritar "Viva a verdade!" ou, ao contrário, "Viva a mentira!".
Se a primeira frase for a vencedora, na consciência do eleitor, teremos anos de muito mais progresso e desenvolvimento, a partir de 2009 e sem desmerecer o que é feito hoje em dia.
Se prevalecer a segunda... Bem, é melhor nem falar, para não assustar muito nem ser tachado de derrotista.
Lembro, apenas, o que escreveu Oscar Wilde: "A finalidade do mentiroso é simplesmente fascinar, deliciar, proporcionar regozijo. Ele é o fundamento da sociedade civilizada."
Qual dos dois fundamentos citados acima - verdade e mentira - deverá prevalecer na nossa sociedade?
Você escolherá, no próximo dia 5 de outubro, quando ficar sozinho na cabine eleitoral, frente a frente com a urna eletrônica.
(*) Armando de Amorim Anache é jornalista e escreve no Blog do Armando Anache (www.aanache.blogspot.com) e na página "A luta de um repórter pela vida" (http://aaanache.googlepages.com/home)
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