O blog recebe e publica, abaixo, discurso do colega jornalista e escritor Schabib Hany:
Mensagem de saudação da solenidade comemorativa dos 47 anos de fundação da Cidade Dom Bosco (Corumbá, MS), em 2 de abril de 2008.
Uma obra social que se aproxima dos 50 anos tão pioneira quanto inovadora
Boa noite, senhoras e senhoras presentes – autoridades civis, militares e eclesiais; educadores, estudiosos e dirigentes de organizações sociais do Pantanal; benfeitores e colaboradores dos projetos sociais em execução, e particularmente uma saudação entusiástica aos queridos alunos e ex-alunos da Cidade Dom Bosco, que são a razão de ser desta obra social que atravessou cinco décadas sem perder a ousadia, sem perder o pioneirismo, sem perder a idéia-motriz de sua gênese: o amor como instrumento de integração social de expressiva parcela da população de uma das mais ricas regiões do planeta.
Quis o Destino que o grande amigo do Padre Ernesto Sassida – o doutor José Ferreira de Freitas, colaborador de primeira hora desta magistral obra gestada em meados de 1950 e autor de seis livros sobre ela – não pudesse chegar até Corumbá para que, como de hábito, fizesse a reflexão introdutória da solenidade comemorativa da fundação da Cidade Dom Bosco. Além da saúde fragilizada, compromissos em Brasília o impediram de chegar a tempo de participar deste memorável encontro. Mas seu espírito, sua alma generosa, está presente entre nós para semear as palavras de despertar, de compartilhar e de amar verdadeiramente a todos os corações palpitantes de nosso torrão querido e seu povo hospitaleiro.
E é precisamente o amor, sem limites, sem condições e sem quaisquer diferenças, que transformou e continua transformando o destino das crianças e adolescentes que vêm para este salutar convívio, desde aquele emblemático dia 2 de abril de 1961, quando o generoso barraco da saudosa Dona Catarina concebeu esta obra cujo sinônimo é transformação de duas vias: a criança que tem sua vida transformada à luz dos ensinamentos do sistema educativo de Dom Bosco, e ela como agente de transformação de uma Corumbá mais fraterna, solidária e acolhedora de seus irmãozinhos mais frágeis. Um ciclo evolutivo, aliás, que vem incluindo, integrando e promovendo, desde então, mais de quarenta mil pessoas, cujos primeiros passos têm o fecundo estímulo do amor cristão, que não faz diferença entre aqueles que têm quase tudo e os tantos que estão excluídos, privados, do bem-estar gerado pelo progresso incessante que nossa estrutura social impede que chegue a todos.
Quarenta e sete anos depois, sem lugar a dúvidas, o coração do Pantanal se transformou generosamente, com a indispensável participação desta obra social cujos frutos palpitantes e exemplares passaram a irradiar seus horizontes para um mundo mais cristão. No entanto, o imenso abismo social que continua a excluir milhares de pequeninos inocentes, que ainda precisam das ações interdisciplinares gestadas no seio da Cidade Dom Bosco, dá a exata dimensão da urgência de que este projeto se renove, inove e se fortaleça. Por isso, a criação das entidades coirmãs: o CENPER (Centro Padre Ernesto de Promoção Humana e Ambiental), o Clube dos Amigos do Padre Ernesto e a União dos Ex-alunos de Dom Bosco. Elas só se justificam se integradas, articuladas, ao projeto-piloto, representado por esta obra social que desde os seus primeiros passos dependeu da generosidade cristã dos irmãos de além-mar (que até a presente data são os seus principais responsáveis para que continue existindo).
Se na distante Corumbá da metade do século XX havia alguma incompreensão voltada para esta iniciativa ousada para a época, hoje os milhares de frutos fecundos e fertilizadores desta terra calcária são a prova eloqüente de que os acertos foram maiores que qualquer erro cometido no intuito de acertar. Mas o desafio continua: tal como o ser humano em vida plena, a Cidade Dom Bosco precisa continuar transformando e se transformando para transformar generosamente Corumbá, de tanta exuberância mas também de alguma mesquinhez – e essa tarefa é de todos, indistintamente, mas sobretudo é o desafio que o Padre Ernesto fez aos ex-alunos de todos os tempos e aos atuais colaboradores. Porque a dinâmica da Vida requer a partilha, o amor sincero e a doação incondicional, para que a Vida mesma seja valorizada, com a concreta atitude de promoção do ser humano de modo integral, sob o manto sagrado do amor sem limites, sem diferenças – mas também exigente, porque requer sentido mútuo de responsabilidade.
Somemos, pois, nossos esforços sinceros, de irmãos verdadeiros, de cidadãos responsáveis e de educadores do amor, dentro do maravilhoso legado de Dom Bosco, no contexto da grande prova de amor feita por Jesus Cristo à humanidade. Que neste quadragésimo sétimo aniversário da Cidade Dom Bosco, com a presença partícipe do Padre Ernesto como fundador desta generosa obra social que deve ser motivo de orgulho para todo corumbaense, o apogeu comemorativo seja vivido intensamente ao longo de todo o ano, como demonstração de gratidão e reconhecimento ao sacerdote salesiano que atravessou o oceano para fazer aquilo que até então algum corumbaense havia feito. Mais que o mero muito obrigado, mesmo que sincero, é preciso tomada de atitudes convincentes e concretas pelos verdadeiros amantes de Corumbá, capazes de dar continuidade às inúmeras iniciativas desenvolvidas por este generoso legado de amor, fé e doação em plena vida e de plena vida.
Parabéns, Cidade Dom Bosco! Obrigado, Padre Ernesto por este generoso e inovador projeto social! Que as iniciativas acumuladas ao longo destas décadas, com a imprescindível participação dos benfeitores, dos colaboradores e das famílias das crianças assistidas continuem sendo o sagrado fermento, ao lado da fé engajada e do amor solidário, para a redenção de nossa Corumbá e de seu povo hospitaleiro e cativante, como caldo cultural desse abençoado cosmopolitismo, no qual os povos e as culturas se encontram, se miscigenam, se oxigenam, para somar, para integrar e para construir o mundo fraterno, justo e solidário que nossos ancestrais sonharam, e que pode e deve ser concretizado no coração do Pantanal.
Schabib Hany (*)
(*) Tradutor, revisor e produtor de texto; fundador e atual coordenador-adjunto da OCCA Pantanal (Organização de Cidadania, Cultura e Ambiente) e membro da secretaria-executiva do FORUMCORLAD (Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário).
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