Sem direito de resposta
Sem direito de resposta
Por João Antonio Felício (*)
Escrevo pelo compromisso com a verdade e o amor ao Brasil, em nome das dezenas de milhares de companheiros e companheiras que nos acompanharam a Brasília no 16 de agosto e dos milhões que comungam conosco, identificados com o projeto político que levou Lula à presidência e desbancou os neoliberais, privatistas e entreguistas.
Em repúdio ao golpismo, promovido e alimentado por setores da mídia, do PSDB e do PFL que tentam desestabilizar o governo; em defesa de uma Reforma Política democrática como instrumento contra a corrupção e por mudanças na política econômica, que reduzam a absurda taxa de juros e o superávit primário; trabalhadores, estudantes, mães com crianças no colo, aposentados e pensionistas, marcharam pela Esplanada dos Ministérios.
A manifestação da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), desde o primeiro momento da sua convocação, enfrentou o preconceito e a infecta campanha monocórdica dos meios de “comunicação”, que se apressaram em carimbar de “oficialistas” algumas das mais representativas e históricas entidades populares brasileiras. Como se desconhecessem que CUT, CMP, UNE, Ubes, MST e Conam, ao lado de outras não menos importantes organizações, vêm conformando um amplo leque de alianças – e compromissos – há muito tempo. Fomos a Brasília precisamente para cobrar uma guinada nos rumos da economia e a “reconstrução de uma nova maioria política e social em torno de uma plataforma anti-neoliberal”, como expressamos na Carta ao Povo Brasileiro.
Desrespeitando as mais elementares regras do jornalismo, a chamada “grande” imprensa brasileira colocou os seus principais articulistas para opinarem sem qualquer escrúpulo contra a nossa manifestação, num vale-tudo editorial. Desde a invenção de supostas palavras de ordem, à invenção de formidáveis patrocínios, passando pela edição de fotos parciais que não refletiam a real dimensão da passeata, até o cúmulo de citar números desconexos da Polícia Militar – subordinada à Secretaria de Segurança Pública do governo que agiu nos bastidores em favor do ato do dia posterior contra Lula – de tudo foi utilizado na ânsia de confirmar sua tese de que o presidente está isolado e que já não conta com o apoio da sociedade brasileira. Conforme citou a mídia, a PM informou de 10 a 16 mil, depois seis mil e, no final, apenas dois mil manifestantes em frente ao Congresso Nacional.
Infelizmente para esses senhores, que crêem sermos a plebe, a quem deva ser negado o acesso à Casa Grande, senhores que ainda não admitiram a idéia de ter um operário na Presidência da República, contamos com uma força infinitamente mais poderosa do que a soma dos seus holofotes, suas ondas de desinformação e seus rios de tinta de manipulação. Contamos com a verdade. Por estarmos de lados distintos, por sermos partidários da democratização dos meios de comunicação, do fortalecimento das redes públicas e comunitárias, e condenarmos o uso privado da informação, prostituída como mercadoria, é que os grandes monopólios da desinformação vêm nos atacando. Some-se a isso, é claro, nossa aversão à submissão, nossa defesa da classe trabalhadora, da soberania e da independência, da integração latino-americana. Mais do que palavras, manifestações de apoio ao governo em medidas concretas, contrárias aos desígnios dos senhores do Norte, via de regra patrocinadores materiais ou mentores intelectuais de determinadas publicações.
Sem essa consciência, sem a compreensão real do inimigo, muitos companheiros poderiam perguntar o porquê de tamanha parcialidade dessa gente, de tamanha aversão aos fatos e do apego aos boatos, práticas que vêm contaminando muitas redações e levando-as ao descrédito. É o velho preconceito de classe mostrando-se em carne e osso. O mesmo viés oligarca que, na Venezuela, tentou descaracterizar os movimentos sociais quando se levantaram contra o golpe de direita e em apoio ao mandato do presidente Hugo Chávez.
O espaço desmedido entregue no dia 17 a uma passeata na mesma Esplanada, do esquerdismo infantil, tão caro à direita degenerada, demonstra apenas ser fraqueza e oportunismo a tentativa desesperada de transformar o virtual em real, dar ares de sobriedade à farsa golpista. Para nós, sequer direito de resposta.
Como as manifestações populares que se seguirão vão comprovar, estão enganados os que tentam apoiar sua bandeiras no fétido, lodoso e estéril terreno da mídia chapa branca... vermelha e azul.
(*) João Antonio Felício é presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e secretário sindical nacional do PT
Comentário do blog: Aqui no blog todas as correntes democráticas de pensamento têm espaço. Só estranho que, neste momento de grave crise vivido pelo Brasil, torna-se usual jogar a culpa de tudo o que acontece nas costas bem largas da imprensa. Ora, bolas. A imprensa apenas publica fatos. Ela não cria os acontecimentos. A imprensa de 2005 é a mesma que, nos anos passados, era municiada com denúncias feitas pelos oposicionistas daquela época. Quando a notícia agrada a "esquerda", ela é verdadeira e ética. Quando satisfaz a "direita", hoje na oposição, é parte integrante de um grande plano golpista.
Como dizem os adolescentes: --Fala sério, vai! Será que em Cuba uma manifestação dessa magnitude, mas contra o governo, com os caras-pintadas, seria possível? E na China, o que aconteceu quando os estudantes protestaram na Paraça da Paz Celestial? Alguém é capaz de lembrar? Ou será que preferem o Brasil dos anos 1970, com poemas de Camões publicados na primeira página do jornal "O Estado de São Paulo"? Querem a volta da censura? Chega de hipocrisia. De todos. Da extrema "esquerda" até a extrema "direita". Conceitos, inclusive, inteiramente ultrapassados neste início de século XXI, depois da queda do Muro de Berlim e do esfacelamento da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).
Pode parar, vai. Notícia é notícia. Só isso. Tão simples, não?
Viva o Estado democrático de direito. Viva a liberdade! Viva a boa e velha reportagem!
Só falta afirmarem que a 7.ª Frota ameriana vai se deslocar para a costa brasileira. Eu, hein?
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home