Artigo de Luiz Leitão: Conivências e conveniências
Conivências e conveniências
Por Luiz Leitão (*)
Conforme destacou e brilhante colunista de O Estado de S. Paulo e O Dia, Dora Kramer –por quem nutro expressiva admiração -Lula da Silva de bobo não tem nada, se é que assim supõe a nossa vã filosofia. Não admite ser candidato, até o limite que a lei permite, e vai usando inaugurações e outros feitos, como a operação tapa-buraco, a título de propaganda eleitoral.
Sujeito de sorte é beneficiário de inusitada situação: estamos praticamente em fevereiro, e o relator de CPMI dos Correios, Osmar Serraglio, “assentiu” em não mencionar Lula da Silva em seu relatório; claro, pois imagine o leitor a situação de caos que o imputar qualquer responsabilidade ao presidente sobre o esquema do mensalão, do caixa dois, etc. poderia causar: um eventual pedido de impedimento, a assunção de Aldo Rebello à presidência da República por meros trinta dias, e depois a convocação de eleições gerais; ora, estamos à boca da campanha eleitoral de 2006!!
Na verdade, está tudo combinado, pois a oposição e a situação não desejam herdar nenhum cataclismo político-eleitoral, e muito menos econômico. Não foi por outro motivo que o ministro da fazenda foi tão poupado na sua ida à CPI. Não explicou nada, negou tudo, como fazem todos, disse que não vai processar ninguém, pois não quer usar o peso do ministério para prejudicar quem seja – na verdade, Palocci não pode processar ninguém, pois numa eventual ação judicial, acabariam surgindo provas contra ele.
Não explicou o absurdo das caixas de uísque importadas de Cuba ou de Brasília; quando o custo do vôo é muito maior que o valor da carga, se bebida fosse. Risível, patético. Qualquer supermercado de esquina vende bebidas a preços muito mais baixos que o do frete de um avião Sêneca.
Um Palocci sempre afável negou o acesso de livre e espontânea vontade ao seu sigilo telefônico. Ora, os dados não poderão, em minúcias, ser divulgados à imprensa. Muito menos se fossem ligações de ordem, digamos, personalíssima.
Se o caro leitor tivesse de autorizar a abertura de seu sigilo telefônico, veria nisto algum problema? Pois ainda que tivesse uma amante, este tipo de informação não tem valor num eventual processo, tampouco pode ser alardeado. E aí, ministro Palocci, por que não abrir mão de seu sigilo? E aí, deputado. Serraglio, por que não pedir a abertura à Justiça? Porque a ninguém interessa herdar uma economia em caos; mas quem disse que a substituição de Palocci seria, assim, tão traumática para o “mercado”, que bate recorde após recorde?
Antonio Palocci tem seu futuro nas mãos da polícia civil de São Paulo e do Ministério Público; se alguma verdade houver de brotar, será da boca do MP ou da polícia, pois de resto, tudo se resume a conveniências políticas.
Não é possível que acusações em profusão sejam todas infundadas, o caso Celso Daniel, os dólares de Cuba, o assassinato do prefeito de Campinas, Toninho, os milhares de notas fiscais falsas da SMPB, a devastadora entrevista de Paulo de Tarso Venceslau, um petista histórico que foi expulso do partido ao denunciar falcatruas as mais variadas, o depoimento de Hélio Bicudo, também petista da velha guarda, de que “Lula é mestre em esconder a sujeira debaixo do tapete”.
Mercadante, o senador petista desmascarado por Paulo de Tarso ou um certo compadre de Lula, até hoje imune a toda e qualquer investigação; quem não é ou foi conivente? O senador Aloizio Mercadante recebeu uma cópia da carta que Venceslau mandou a Lula por cartório e disse nada poder fazer, e ao fim e ao cabo, ao invés de se expulsar o acusado, expurgou-se o acusador. Típico dos regimes fascistas.
Mas se faz necessário lembrar ao leitor que não há santo nesta história, seja de que partido for; não se pode deixar o senador Azeredo (PSDB-MG) escapar, nem outros cujos nomes soam menos solenes.
(*) Luiz Leitão
Articulista político, Brasil
luizleitao@ebb.com.br
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