Jefferson Péres era conhecido por posturas éticas e posições firmes na política
Consagrado pelas urnas em outubro de 2002 com 543.158 votos, o senador Jefferson Péres (PDT-AM) era conhecido no Senado e na vida política como um homem de posições firmes e decididas, cuja atuação parlamentar foi marcada também pela postura ética. Em atuações que revelam seu comportamento, dois episódios ocorridos no Congresso ganharam destaque: em maio de 2003, Jefferson renunciou ao cargo de integrante do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado por discordar do encaminhamento de questões ali discutidas. Posteriormente, em novembro de 2007, já de volta ao Conselho, conseguiu que aprovassem seu relatório pedindo a cassação do mandato do então presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), por quebra de decoro parlamentar, decisão que foi seguida pelo Plenário da Casa.
Ao decidir deixar o Conselho, no primeiro episódio, Jefferson acusou "forças políticas poderosas de manobrar o órgão e transformá-lo em reposteiro para a impunidade". A decisão foi motivada devido ao envio de pedido de abertura de processo contra o então senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), já falecido, pela Mesa do Senado diretamente ao Supremo Tribunal Federal (STF), o que, na opinião de Jefferson, faria do Conselho "um órgão meramente decorativo". O senador destacou-se ainda como relator, no Conselho de Ética, do processo que levou à cassação o ex-senador Luiz Estevão, em junho de 2000.
Filiado ao PDT desde 1999 e líder do partido no Senado, Jefferson manteve, recentemente, posição firme diante de uma questão polêmica: defendeu que o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) - o Paulinho da Força Sindical - se licenciasse do partido para poder se defender das acusações de participação em um suposto esquema de desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Ao falar sobre a Amazônia em seu último pronunciamento em Plenário, no dia 21 deste mês, Jefferson disse que não tinha medo da cobiça internacional relativa à região, e, sim, da nacional, que envolve ações de pecuaristas e madeireiros. Essas duas categorias, segundo destacou, é que poderão levar a Amazônia ao que chamou de "holocausto ambiental". O parlamentar defendeu ainda o fortalecimento do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e dos centros de biotecnologia das universidades brasileiras, além de cobrar presença mais efetiva das Forças Armadas na região.
Em fevereiro de 2001, Jefferson lançou sua candidatura à presidência do Senado. Embora derrotado nesse pleito, manteve a defesa de uma ampla reforma político-partidária e eleitoral, afirmando que somente tais mudanças poderiam superar o que chamou de "inquietante divórcio entre representantes e representados".
- Mais cedo ou mais tarde os projetos de reforma política poderão eliminar os obstáculos para o surgimento de ideais e valores éticos e cívicos que sempre defendi ao longo de minha vida pública - afirmou.
Em agosto de 2006, o senador fez pronunciamento em Plenário para dizer que estava, mais uma vez, manifestando seu "profundo desalento com a vida pública do país". Disse que faltava ao Brasil "uma elite dirigente compromissada com a coisa pública" e que a crise de ética não é só da classe política, mas atinge grande parte da sociedade brasileira. Nesse mesmo discurso, Jefferson avisou que não se candidataria mais nas próximas eleições.
- Não quero mais viver a vida pública. Vou cumprir o mandato que o povo do Amazonas me deu, não vou me silenciar, mas não me candidatarei em 2010. [...] A classe política já apodreceu há muito tempo - sentenciou.
Advogado, casado e pai de três filhos, José Jefferson Carpinteiro Péres nasceu no dia 19 de março de 1932, em Manaus (AM). Fez pós-graduação em Ciência Política no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e em Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Exerceu cargos na Corregedoria-Geral da Justiça do Amazonas e no Tribunal de Justiça do estado, foi vereador em dois mandatos, a partir de 1988, e eleito senador pela primeira vez para o período de 1995 a 2003.
No Senado, foi titular das Comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e suplente das Comissões de Assuntos Sociais (CAS) e Educação, Cultura e Esporte (CE), entre outras. Foi ainda titular da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO), na qual assumiu o cargo de vice-presidente, e titular da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) que investigou o trabalho de crianças e adolescentes no Brasil. Em outros grupos e comissões do Parlamento, o senador ajudou a reformar o Código Civil e o Poder Judiciário e a estudar as causas do desemprego e do subemprego no país. Destacou-se ainda como relator da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Entre seus trabalhos publicados destacam-se: Problemas econômicos da atualidade; Zona Franca, desenvolvimento e estagnação; Evolução de Manaus - como eu a vi ou sonhei; Partidos políticos na América Latina; e O modelo Zona Franca - uma economia de enclave.
O senador sempre se destacou, nos seu dois mandatos, por seus discursos sobre assuntos polêmicos e importantes na política nacional e internacional. Em 1998, por exemplo, falou em Plenário sobre a impotência do aparelho de segurança pública na repressão ao narcotráfico, a excessiva edição de medidas provisórias por parte do Executivo e a violação de direitos civis e políticos em Cuba. Manifestou-se contra a instituição de cotas raciais nas universidades e no serviço público em geral e defendeu a reforma tributária - muitos desses temas atuais até hoje.
No dia 15 de maio daquele ano, no entanto, Jefferson subiu à tribuna para falar de música, paixão e amor, lamentando a morte de Frank Sinatra: "O mundo amanheceu mais pobre com o desaparecimento daquele que talvez tenha sido o maior cantor popular da segunda metade deste século".
Jefferson também destacou que, diante da vida amorosa conturbada do ídolo, ficava a seguinte reflexão: "A intensidade do amor não pode ser medida pela fidelidade. Será mais amante aquele que amou uma mulher a vida inteira ou outros, como Sinatra, que amaram muitas, mas cada uma em seu devido momento?", questionou o senador, para, em seguida, manifestar sua tristeza "pelo desaparecimento da voz e o fechamento definitivo dos deep blue eyes".
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