O Globo, 1990: Denúncias de radialista são exemplo
Publico, para que conste a partir de hoje nos "índices de busca" da internet - principalmente no Google, ao qual pertence este modesto blog - , reportagem da edição de 17 de abril de 1990, do jornal "O Globo", do Rio; que trata da campanha contra as drogas, iniciada por meio de uma pauta que elaborei no início daquele mês, depois de receber na redação da Rádio Clube, uma carta de um aposentado do Serviço de Navegação da Bacia do Prata (SNBB), que demonstrava a sua preocupação com a venda indiscriminada e sem repressão de cocaína e pasta base às crianças.
Esse aposentado ressaltava que já havia criado, e muito bem, os seus filhos. A sua preocupação, naquele abril de 1990, era com os netos. Segundo ele, as chamadas "bocas-de-pó" representavam um perigo às crianças, assediadas a todo momento pelos traficantes.
Com essa carta - que, se preguiçoso ou medroso fosse, ao ter pela frente um tema polêmico, poderia ter jogado fora e, assim, teria evitado muitos sérios e graves problemas na minha vida - resolvi ir às ruas para apurar tudo.
No Programa Debates Populares de 10 de abril de 1990, levei ao ar as primeiras denúncias sobre a existência das chamadas "bocas-de-pó", que toda a população sabia da existência, menos algumas autoridades encarregadas da repressão.
Iniciei o programa com 10 "bocas-de-pó" relacionadas numa lista. Terminei o programa, uma hora depois, com 24 "bocas-de-pó", enviadas pelo telefone por ouvintes revoltadas com a situação. Havia checado uma por uma, num trabalho que fiz nas ruas, principalmente durante noites e madrugadas. Afinal, havia o risco de receber denúncias falsas. Vizinhos em briga poderiam usar de denúncias falsas como forma de vingança, por exemplo. Todo cuidado com a checagem correta e precisa dos informes, passados pela população, era pouco. Assim foi feito. Jamais fui processado por qualquer denunciado. As "bocas-de-pó" eram conhecidas. Toda a população sabia, por exemplo, da existência de pontos de venda de drogas no Bairro da Cervejaria e na parte alta da cidade. As drogas eram vendidas sem nenhum problema. Sem repressão. Como mostrado agora pela aposentada de 80 anos, na Ladeira Tabajaras, em Copacabana, no Rio de Janeiro. As drogas eram vendidas livremente, em plena luz do dia, com toda a população assistindo, impotente.
Nessa edição, que mostro acima, do "Globo", foi escrito num "box" - num quadro -, que leva ao leitor a opinião do jornal, o seguinte, em 17 de abril de 1990, sete dias depois que comecei a campanha contra as drogas, ao lado da população:
"EXEMPLO
Em Corumbá, é sabido, muita gente consome cocaína. Não se pule daí, no entanto, para a conclusão simplista de que a droga é "socialmente aceita".
Pois bastou a campanha solitária iniciada por um radialista - denunciando os pontos de venda, com endereços e nomes de traficantes - para que o povo de Corumbá passasse a colaborar, com entusiasmo pelo seu trabalho e indignação contra os bandidos.
Agora, duas coisas podem acontecer. A Polícia Federal e a de Mato Grosso do Sul podem se juntar numa blitzkrieg contra as quadrilhas que levam a droga até a cidade, e também de lá a distribuem para outros Estados. E Corumbá passará a ser, para o País, exemplo de uma comunidade que teve apoio decisivo das autoridades ao se unir para vencer um inimigo público. O mesmo inimigo que em toda parte é tido como imbatível.
Na segunda hipótese, fala-se muito e nada se faz. E, mais dia menos dia, o radialista, Armando Anache, é tocaiado numa rua deserta.
Que hipótese prevalecerá?"
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