Acerca do comunicado de desfiliação de Sérgio Miranda
Analisando a grave crise que assola o Brasil, o(a) leitor(a) do blog poderá perceber as discussões que tomam conta dos partidos da base de apoio ao presidente Lula.
Acerca do comunicado de desfiliação de Sérgio Miranda
Recebi de Sérgio Miranda uma correspondência endereçada à Direção Nacional na qual ele comunica sua desfiliação do PCdoB. Neste comunicado, Sérgio afirma que sua decisão não foi precipitada, mas resultante de “um longo processo de amadurecimento”. Portanto, uma decisão própria assumida voluntariamente por ele.
Devo esclarecer que Sérgio Miranda era filiado ao nosso Partido há 43 anos. Gozava de respeito e de grande consideração no seio da agremiação dos comunistas. O PCdoB no Estado de Minas Gerais, onde ele era vinculado, e a bancada do Partido na Câmara Federal, da qual ele fazia parte, travaram intenso debate com ele demonstrando a importância e o significado da sua permanência em nossas fileiras. Uma série de apelos foram feitos também, pelas organizações partidárias daquele Estado pela sua permanência no Partido.
Sérgio teve ampla liberdade de emitir e de debater suas posições no PCdoB. Isso porque, o nosso Partido, desde a realização da 9ª Conferência em 2003, vem avançando na construção de um ambiente de ampla democracia interna, no qual a liberdade de opinião individual tem seu lugar assegurado.
E mais ainda agora, neste momento de realização do 11º Congresso, quando o debate interno se estende por toda estrutura partidária — processo que garante o direito de qualquer filiado expor suas idéias e opiniões.
Mesmo diante dos momentos em que Sérgio rompeu com a unidade de ação —um dos princípios basilares de organização do nosso Partido — o Comitê Central assumiu uma posição equilibrada: a um só tempo defendemos os nossos princípios e assumimos uma decisão compreensiva na sanção tomada, em resposta à infração que atingia a unidade partidária. Seguimos a lógica da persuasão e do sentido da construção política e partidária. Há muito tempo a Direção Nacional não tem utilizado a sanção extrema da expulsão de um membro do Partido.
Sérgio afirmou em seu comunicado que “de há muito” ele vem manifestando as “diferenças com a linha política do Partido”. Na nossa ótica as divergências com Sérgio residem principalmente no posicionamento do Partido em relação com ao governo Lula. Mais especificamente sobre o caráter do novo governo e os seus limites; na relação unidade versus crítica e luta do partido com o governo, quais os nossos limites; e sobretudo, qual a alternativa política concreta, viável, para o alcance dos nossos objetivos.
Trata-se de um conjunto de questões novas em desenvolvimento, que o partido vem procurando responder, diante da realidade brasileira, nesta quadra histórica desafiadora, de predominância conservadora sistêmica. Este cenário requer grande capacidade de domínio da singularidade da situação contemporânea. Por isso, exige um grande esforço construtor, político e teórico, no qual as diferenças de idéias e de posições se cruzarão, sendo assim inevitáveis para o alcance de posições justas e do êxito dos nossos objetivos.
Nesse contexto, a pressa, o voluntarismo, o primarismo, ou por outro lado a passividade adaptativa sempre foram nocivos para uma construção vitoriosa. Temos a convicção de que o “espaço”, que melhor está apetrechado para essa construção são as organizações que mantém seu caráter revolucionário, o Partido Comunista e outras formações que saibam desenvolver em conjunto com o pensamento avançado da nossa época a teoria e a prática transformadora, revolucionária.
A decisão de Sérgio Miranda de atuar em outro “espaço” demonstra que ele formou outra convicção, distinta da nossa. Não seremos obstáculo à sua opção. Como sempre a prática é o critério da verdade, a vida com seus múltiplos caprichos sempre falará mais alto.
Enfim, Sérgio, ex-militante comunista, o nosso adeus. Alguns se foram, muitos mais ingressarão em nossas fileiras e outros retornarão. O nosso Partido está em expansão e, diante da crise política em curso, elevou ainda mais a sua autoridade. Reforçam-se as nossas convicções comunistas e do tipo de Partido que defendemos para se guiar nas grandes tempestades da luta de classes, para enfrentar a cruenta jornada política contra os detentores da ordem capitalista contemporânea.
São Paulo, 16 de setembro de 2005
Renato Rabelo
Presidente do Partido Comunista do Brasil-PCdoB
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