Winston Churchill
Sempre tive facilidade para falar de improviso e também para escrever. Usei sempre mais a primeira do que a segunda habilidade. Afinal, apresentava e apresento programas de rádio.
Mas as perseguições começaram assim que coloquei a primeira denúncia no ar. Reportagens investigativas sobre maracutaias na política e na Câmara de Vereadores - comprovadas com documentos e com denúncia que fiz ao Ministério Público e que resultaram em quatro ou cinco condenações transitadas em julgado, incluindo três vereadores e um advogado - que levei ao ar fizeram com que as ameaças aumentassem ainda mais.
Passei a ser uma ameaça que tinha que ser eliminada. O Armando tinha que ser tirado do ar. Morto ou por meio de situações criadas com o único interesse de provocar confrontos. Tentaram várias vezes. De ameaçado de morte eu passava a acusado de reagir.
E assim foi feito. Alguns poderosos de então mandavam seus cúmplices e sicários com a missão de me provocar, ameaçar de morte e de agressões físicas.
Até que chegaram à minha mulher, que nada tinha a ver com as reportagens que eu fazia e ainda faço.
Na segunda-feira (31), ao ver pela TV Senado o pronunciamento do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) - e aqui não entro no mérito da questão - senti um calafrio na espinha.
Ontem (1º) foi a vez do deputado federal ACM Neto (PFL-BA), que disse a frase que está na edição de hoje do jornal "Folha de S. Paulo":
"O presidente da República, ou qualquer um dos seus que tiver coragem de se meter na minha frente, assim como disse o senador Arthur Virgílio, tomará uma surra. Não me intimido. Não mexam com os meus nem comigo.
ACM NETO
deputado federal (PFL-BA)"
Ao lado da minha fiel companheira e mulher há 20 anos, disse: "Meu amor, nós já vimos esse filme de 1990 a 1996, quando as ameaças contra mim eram mais intensas; posso avaliar o que sente nesse momento o senador, que afirma existir uma pessoa contratada com o objetivo de seguir a ele e à sua família. Esse tipo de coisa, se verdadeira for, não poderá terminar bem, pois com família, mulher e filhos não se mexe!"
Parece, ao que tudo indica, que as coisas se repetem nesse Brasil maravilhoso. Como sempre digo, "não só a audiência de rádio é cíclica, rotativa, mas os fatos da política também."
Como o senador Virgílio faz hoje ao sentir que é ameaçado, eu também gritei, denunciei, reverberei. Queria evitar, a todo custo e dentro da lei, qualquer tipo de confronto com as pessoas que vinham até mim, com a intenção de ferir. Cheguei até mesmo a redigir - auxiliado pelo grande amigo e advogado e colega do programa Debates Populares, que apresentava na Rádio Clube de Corumbá, o doutor Joilce Viégas de Araújo, já falecido - uma representação ao delegado de polícia depois de ter o estúdio da rádio invadido por pessoa que afirmava que eu falava demais e devia morrer pela boca.
Nada foi feito. Infelizmente nenhuma providência legal foi tomada. Muita coisa poderia ter sido evitada, caso algumas autoridades agissem rápido, usando as leis. Mas preferiram o silêncio. Ficaram inativas. Transformaram-se em observadoras. Até que veio a tragédia.
Em Recife, Pernambuco, quando era coordenador de jornalismo, participei de reportagens investigativas sobre o tráfico de maconha. Levadas ao ar com exclusividade, no programa apresentado pelo colega Josley Cardinot, na Globo Recife, foram manchete em todos os jornais. Só que lá em Pernambuco, sob o governo do doutor Miguel Arraes, o secretário de Segurança Pública, juntamente com a sua equipe de delegados de polícia, tomou todas as providências necessárias para garantir nossas vidas, pois vieram as ameaças também.
Assim, com a pronta intervenção da autoridade pública, nenhum tipo de atentado aconteceu. Nosso estúdios jamais foram invadidos. Nossa segurança, enquanto jornalistas e radialistas, foi preservada pelo Estado.
Deus queira que agora, em novembro de 2005, nada se repita. Há cheiro de confronto no ar. Se as autoridades - leia-se Ministro da Justiça, que ontem (1º) já respondeu aos apelos do senador Arthur Virgílio - atuarem rápida e eficazmente, esse cheiro irá se dissipar e a paz reinará. Caso contrário, poderá haver cheiro de pólvora.
Prefiro, sinceramente, a paz. O cheiro emanado por ela é muito melhor e mais edificante.
Viva a paz!
Leia abaixo o artigo "Winston Churchill", originalmente postado no blog "Vox Libre":
Eis aí um excelente texto para reflexão (colaboração do amigo Cutarelli).
O artigo tem mais de 25 anos.
Foi escrito no extinto Jornal da Bahia, em 1979. Mas parece que foi redigido hoje.
O autor é José Alberto Gueiros.
JORNAL DA BAHIA - Sábado, 23/09/79
O MEDO CAUSADO PELA INTELIGÊNCIA
Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas.
O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal:
"Meu jovem, você cometeu um grande erro.
Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa.
Isso é imperdoável.
Devia ter começado um pouco mais na sombra.
Devia ter gaguejado um pouco.
Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo uns trinta inimigos."
O talento assusta!
E ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pode dar ao pupilo que se inicia numa carreira difícil.
A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência.
Isso na Inglaterra.
Imaginem aqui no Brasil.
Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa:
"Há tantos burros mandando em homens de inteligência
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma Ciência."
Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições.
Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder.
Mas é preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar.
Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos.
Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdan, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa se fingir de burra se quiser vencer na vida.
É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social.
Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota automaticamente a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência, por medo de perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.
Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas costas, enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender.
É um paradoxo angustiante.
Infelizmente temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida.
Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues:
"Finge-te de idiota e terás o céu na terra!".
O problema é que os inteligentes gostam de brilhar, que Deus os proteja!!!
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