Aquidauana: Prefeito perde maioria na Câmara; pai do novo presidente diz que 'eleição é troco'
No Estúdio "A" da rádio Independente, o blogueiro Armando Anache (camisa vermelha) media o debate entre os vereadores (em sentido horário) Gustavo dos Santos, Cipriano Mendes, Terly Garcia e Iran Rezende
Acompanho, desde a quinta-feira (9), as horas que antecederam, naquele dia, a eleição da nova Mesa Diretora da Câmara de Aquidauana - 135 quilômetros a oeste de Campo Grande - e as violentas reações dos vereadores durante e depois da escolha, por sete votos a dois, do novo presidente, Terly Garcia (PDT); com a reeleição do primeiro-secretário, Iran Rezende (PPS).
Vereador Gustavo "Gugu" dos Santos (PT) - à esquerda - é o autor do projeto, aprovado em Plenário, que permite a reeleição dos integrantes da Mesa Diretora da Câmara
Reeleição
Os vereadores aprovaram um projeto, de autoria do vereador Gustavo "Gugu" dos Santos (PT), que permite a reeleição dos integrantes da Mesa Diretora. O atual presidente, Moacir Pereira de Melo (PDT), era candidato a reeleição para o biênio 2007-2008. O Plenário da Câmara de Aquidauana sinalizava, por meio das atitudes dos vereadores, que Moacir Pereira seria reeleito com facilidade.
Dissimulação
No entanto, uma operação de "dissimulação estratégica" estava em andamento. Era o G-5, ou o 'Grupo dos Cinco". Encabeçado pelo vereador Terly Garcia (PDT) - o mais votado do município nas eleições de 2004 - e formado pelos seus colegas Iran Rezende (PPS), Cipriano Mendes (PT), Sebastiãozinho do Taboco (PMDB) e Tião Sereia; esse grupo conseguiu chegar a um consenso em torno do nome de Terly, que exerce seu primeiro mandato na Câmara.
Vereador Iran Rezende: "Jogamos como num tabuleiro de xadrez e ganhamos"
Eles adotaram, para a eleição da quinta-feira (9), marcada pelo presidente Moacir Pereira de Melo, técnicas de despistamento. "Estávamos num verdadeiro jogo de xadrez, onde cada movimento tinha que ser muito bem pensado, caso contrário perderíamos a eleição", revelou no Programa Armando Anache, na rádio Independente, o vereador reeleito para primeiro-secretário, Iran Rezende (PPS). Ele diz que "todos nós, do grupo que apoiava Terly, evitamos manter contatos em locais públicos; falávamos por meio dos telefones móveis celulares e nem mesmo as nossas mulheres sabiam do que estava sendo feito em relação a eleição da Mesa Diretora; na quinta-feira, dia da eleição, chegamos cedo à Câmara, e todos nós já vestiamos nossos paletós e gravatas, para que não tivéssemos que voltar para nossas casas."
O novo presidente da Câmara, Terly Garcia (PDT), usou técnicas de dissimulação
Pistas falsas
O vereador Terly Garcia garante que tudo o que foi dito sobre a eleição, por ele e pelos outros quatro vereadores, "era apenas um jogo de despiste, pois não podíamos revelar que o presidente da chapa que iríamos apresentar seria eu, com Sebastiãozinho do Taboco para vice-presidente e Iran Rezende para primeiro-secretário; trabalhávamos nisso desde o dia 24 de outubro e o segredo era o principal requisito para alcançarmos o êxito, que veio na quinta-feira passada; nem ao menos meu pai, João Garcia; e também o comerciante Zelito Ribeiro, tio do prefeito Felipe Orro; sabiam do que se passava."
Cipriano Mendes (PT) reclama da falta de materiais de escritório e computadores
Equipamentos
O vereador Cipriano Mendes (PT), disse que "embora o atual presidente da Câmara, Moacir Pereira de Melo, tenha feito uma excelente administração, ainda faltam muitas melhorias no prédio onde fica o Plenário e os gabinetes dos vereadores." Ele ressalta que "não é possível conviver com goteiras toda a vez que chove e com a falta de materiais de escritório para o nosso trabalho diário; recentemente tive que pedir auxílio ao SIMTED [Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação], que me cedeu um computador, na sua sede, para que eu pudesse fazer requerimentos para apresentar numa sessão."
Duodécimo
Para os vereadores do G-5, presentes ao Programa Armando Anache, não é mais possível a Câmara devolver dinheiro à prefeitura, no fim do mês, e o prefeito Felipe Orro (PDT) fazer "o que bem entende com a verba, sem que os vereadores sejam ao menos mencionados à população que recebe benefícios com essa parte do duodécimo [dinheiro repassado mensalmente pela prefeitura à Câmara de Vereadores]."
Vereador Gugu (PT) - atual líder do prefeito na Câmara - não acredita em 'dissimulação'
Traições
O vereador Gustavo "Gugu" dos Santos, até antes da eleição vice-líder [o líder era Sebastiãozinho do Taboco (PMDB), que depois da eleição do dia 9 pediu afastamento do cargo] e agora líder do prefeito na Câmara - único governista [a bancada do prefeito Orro ficou apenas com os vereadores Vanildo Neves (PSDB) e Suely Nogueira, além do atual presidente Moacir Pereira (PDT), que só vota em Plenário em casos de empates] presente ao programa - disse que vários vereadores do G-5 haviam declarado voto ao presidente Moacir Pereira de Melo (PDT). "O Tião Sereia disse, em Plenário, no dia da votação do meu projeto, que permite a reeleição da Mesa Diretora, que era contra, mas votaria no atual presidente caso ele fosse candidato novamente; Cipriano Mendes também estava com o nosso grupo [que apoiava a reeleição de Moacir Pereira] e o mesmo eu digo ao Iran, que sempre foi muito amigo do prefeito Felipe Orro e, certamente, não resistirá a uma nova conversa", disse Gugu.
Ele perguntou, olhando nos olhos de Terly Garcia, se teria havido uma reunião entre ele [Terly], o prefeito Felipe Orro e o comerciante Zelito Ribeiro. Terly respondeu que não e recebeu a réplica de Gugu, que disse ter havido, sim, a reunião, pois ele [Gugu] também estava presente.
Terly Garcia respondeu novamente, afirmando que havia entendido que a pergunta tratava de um encontro apenas entre ele, o prefeito e Zelito Ribeiro; sem a presença de Gugu.
Gugu lançou a tréplica: "Reuniu ou não?" Terly disse que sim, ressalvando que Gugu também estava presente à reunião.
Ânimos exaltados
Os ânimos ficaram exaltados entre os vereadores Gugu e Iran Rezende, que foi chamado de "coronel" pelo petista, que declarou que "o Iran não quer deixar ninguém falar aqui na mesa redonda da rádio Independente". "Não sou coronel coisa nenhuma e vou me retirar deste debate aqui na rádio Independente, em protesto contra a sua atitude, vereador Gugu", disse o vereador Iran Rezende, nervoso e com o rosto muito vermelho.
Naquele momento, eu intervi como mediador do debate entre os vereadores e solicitei ao vereador Iran Rezende que não deixasse o Estudio "A", pois seria uma descortesia com a emissora, que recebia a todos com educação e, acima de tudo, com espírito democrático e dando a eles o direito de contar e explicar à população as suas versões.
Fui atendido e os ânimos serenaram novamente.
Rebelião
Na realidade, o que acontece na Câmara de Aquidauana é uma rebelião, uma verdadeira revolta dos vereadores do "Grupo dos Cinco", contra o que eles chamam de "desmandos e falta de respeito aos parlamentares", por alguns integrantes do governo do prefeito Felipe Orro (PDT).
O vereador Iran Rezende (PPS) - um fiel escudeiro do prefeito até antes da eleição para a nova Mesa Diretora - reclamou, ao vivo e no ar, do Chefe de Gabinete Mário Nelson Argerin e do presidente do COREDES (Conselho Regional de Desenvolvimento Econômico e Social), Natalino "Natal" Gonzaga. Ele também critica a secretária de Saúde, médica Viviane Nogueira.
Nesta manhã, falei pelo telefone com Mário Nelson Argerin e ele garantiu, sorrindo e falando educadamente, que "o vereador Iran não tem do que reclamar, pois há muito tempo ele não aparece aqui no gabinete do prefeito Felipe Orro; portanto eu não poderia tê-lo tratado mal aqui na prefeitura."
O 'troco'
O pai do novo presidente da Câmara, empresário e presidente da FEMA (Fundação de Esportes do Município de Aquidauana) João Garcia, participou pelo telefone do Programa Armando Anache, na rádio Independente e disse que "a eleição do Terly para a presidência é 'um troco' que damos, por tudo o que passamos." Perguntei quais seriam as pessoas destinatárias do "troco" e João Gracia respondeu que "o 'troco' é endereçado ao prefeito Felipe Orro, ao Natalino Gonzaga e ao atual presidente da Câmara, Moacir Pereira de Melo; porque em 2004, quando foi eleita a atual Mesa Diretora, foi firmado um compromisso, comigo e com o meu filho Terly, de que ele [Terly Garcia] seria o próximo presidente da Câmara; esse acordo não foi cumprido pelos três que citei."
Fiscalização
Ficou clara, assim, a nova postura adotada no Plenário da Câmara pelos cinco vereadores do G-5. Nas sessões da segunda-feira (13) e da terça-feira (14), esse grupo apresentou requerimentos, pedindo informações à prefeitura, sobre os equipamentos usados para fabricar lajotas no município e que, segundo eles, estariam sumidos; e também sobre a prestação de contas do dinheiro arrecadado por meio da taxa de iluminação pública.
O prefeito Felipe Orro (PDT) tem, agora, o prazo regimental de 15 dias para responder aos requerimentos feitos em regime de "urgência especial".
Oposição
Durante o Programa Armando Anache, na rádio Independente - que é apresentado das 8 às 10h15 e ontem (15), feriado nacional, acabou sendo prolongado até às 14h30, devido ao acalorado debate entre os vereadores - lembrei que, em meses e anos anteriores, seria impensável a aprovação, em Plenário, de requerimentos como os apresentados nesta semana. Apenas os vereadores petistas Cipriano Mendes e Ordalino Cunha [teve o mandato suspenso pela Justiça Eleitoral e foi substituído pelo suplente Gugu], e Arthur Viana (PL) [decidiu não ser candidato à reeleição em 2004]; integravam a bancada de oposição. Naqueles tempos passados, nenhum requerimento solicitando informações ao prefeito Felipe Orro (PDT) era aprovado em Plenário. Todos os vereadores do atual G-5 votavam a favor do governo.
No entanto, a política é dinâmica e, como dizia o deputado federal e "Senhor Diretas", Ulisses Guimarães (PMDB), "a política é como as nuvens no céu: você olha agora e elas têm um formato e, no minuto seguinte, já tomaram outra forma."
Presidente da Associação Comercial de Anastácio, Givanildo Coradeli (à esq.); e assessor de imprensa do prefeito Felipe Orro (PDT), Wilson de Carvalho (à direita)
Prefeito quer paz
No fim dos debates, no Programa Armando Anache, o assessor de imprensa do prefeito Felipe Orro, Wilson de Carvalho, chegou ao Estúdio "A" para assistir, ao vivo, ao embate entre os vereadores. Convidado por mim para falar aos ouvintes, Wilson de Carvalho disse que "o prefeito Felipe Orro está à inteira disposição dos vereadores de Aquidauana, com os quais sempre manteve um relacionamento de alto nível; todos os requerimentos apresentados pelos vereadores, nas sessões da segunda (13) e da terça-feira (14) serão respondidos antes mesmo do prazo legal de 15 dias; nada será escondido dos vereadores, que sabem da postura de honestidade mantida sempre pelos integrantes do governo."
Terminada a entrevista com o assessor de imprensa, Wilson de Carvalho, conversei ao vivo com o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Anastácio - cidade situada na margem esquerda do rio Aquidauana -, Givanildo Coradeli. Ele divulgou as ações que faz na Associação, principalmente visando novos associados. Na noite do sábado (18) haverá um Festival de Prêmios na Praça das Nações, em Anastácio, promovido pela ACEAN (Associação Comercial e Empresarial de Anastácio).
O prêmio principal é de R$3 mil, em dinheiro.
Antecedentes: Vereadores atacam colegas na sessão da segunda-feira
Aqui não tem santinho, diz Gugu - Para que o leitor tenha idéia de como estavam os ânimos dos vereadores no "day after" - o dia seguinte - da eleição para a nova Mesa Diretora, na sessão da tarde da segunda-feira (13), o petista Gustavo "Gugu" dos Santos disse na Tribuna que "aqui não tem santinho, é um querendo 'comer' o outro; se for para investigar com seriedade os pagamentos de diárias [aos vereadores], todos os nove serão cassados; aqui nesta Casa ninguém é honesto."
Dirigindo-se ao novo presidente eleito na quinta-feira (9), vereador Terly Garcia (PDT), Gugu afirmou que "Vossa Excelência não vai começar bem nesta Casa, pois há uma determinação da Justiça para que os vereadores ganhem apenas R$1,8 mil." Depois de uma pausa e desmentindo o que dissera anteriormente, afirmou que "eu não tenho podridão nesta Casa, mas todos os vereadores usam máquinas da prefeitura e eu nunca vi - justiça seja feita - o vereador terly nas secretarias da prefeitura." Concluiu o seu discurso na Tribuna afirmando que entrará com um documento com o perfil de cada um dos vereadores e os nove serão cassados.
Cipriano abre sigilos bancário e telefônico - O vereador Cipriano Mendes (PT), chamado durante a sessão da quinta-feira (9), pelo presidente Moacir Pereira de Melo (PDT), de "traidor que rasgou a bandeira do PT" - numa insinuação de que teria recebido dinheiro para votar em Terly Garcia - disse que "abro os meus sigilos bancário e telefônico, pois quero que tudo seja apurado; não mudei a minha postura nesta Casa, onde sou oposição há seis anos; se houve distribuição de dinheiro [para a votação da nova Mesa Diretora] é preciso, então, descobrir a origem desse dinheiro, saber de onde ele veio e quem recebeu."
Sebastiãozinho diz que sente vergonha de ser vereador - O vereador Sebastiãozinho do Taboco (PMDB), que era líder do prefeito Felipe Orro (PDT) até antes da eleição da nova Mesa Diretora, quando foi eleito vice-presidente de Terly Garcia (PDT), disse na mesma sessão, logo depois do seu colega Cipriano Mendes (PT), que sentia vergonha de ser vereador em Aquidauana, devido ao primeiro orador que falou nesta tarde.
O vereador Iran Rezende (PPS), demonstrando constrangimento, pede um aparte, que é concedido pelo orador, e diz: "Mas o primeiro orador fui eu, vereador!"
Sebastiãozinho, percebendo o equívoco, corrige a sua frase e afirma que estava se referindo ao "segundo orador [vereador Gustavo "Gugu" dos Santos (PT)], e não ao primeiro." Na tribuna, ele garante que "todos aqui pegam diárias." Em seguida, denuncia uma reunião que, segundo sustenta, teria ocorrido na casa da vereadora Suley Nogueira, naquela manhã de segunda-feira (13), quando Natalino Gonzaga teria determinado que a Câmara fosse "denegrida" (sic).
"Queremos ajudar a administração [do prefeito Felipe Orro], mas queremos ser respeitados; tratando dos nossos assuntos com o prefeito, e não com Natalino [presidente do COREDES, Natalino Gonzaga]", disse Sebastiãozinho. Para ele, os vereadores não devem fazer "baixarias" no Plenário, mas entrar com requerimentos solicitando informações ao prefeito. "Não vamos entrar no jogo da desmoralização da Câmara e dos vereadores, que só interessa ao Natalino Gonzaga", concluiu o único vereador peemedebista do município.
Novo presidente não entende o 'nervosismo do prefeito' - O vereador Terly Garcia, eleito para exercer a presidência da Câmara no biênio 2007-2008, disse que "o colega Iran Rezende mostrou aqui nesta tribuna, nesta tarde, fotos que comprovam a situação de uma moradora da cidade, que vê a sua casa caindo, enquanto caminhões da prefeitura levam aterro para o secretário de Fazenda do município [o vereador Gugu (PT) já havia mostrado documentos que comprovavam, segundo afirmou, que todos os caminhões com carregamentos de terra haviam sido pagos à prefeitura pelo secretário]; não entendo o por quê do nervosismo do prefeito; por que esse desespero todo? Nós vamos administrar esta Casa e, se houve falta de respeito, foi do prefeito [Felipe Orro (PDT)], que não veio à sessão extraordinária passada, que escolheu a nova Mesa Diretora."
Em seguida, Terly Garcia concluiu o seu discurso perguntando: "Somos marginais? O que está havendo?" Logo depois de uma breve pausa, afirmou: "Que essa Casa vai fazer o Executivo prestar contas, isso vai."
Tensão na Câmara diminui na terça-feira
Na sessão seguinte, na noite da terça-feira (14), os acalorados discursos, com trocas de acusações mútuas, foram substituídos por um tom mais conciliador. Os vereadores usaram a tribuna para pedir desculpas uns aos outros.
Gugu escreveu carta de renúncia ao mandato - O vereador Gugu (PT) disse que sempre foi amigo de Sebastiãozinho do Taboco (PMDB), mesmo quando ainda não era vereador. Ressaltou que as famílias também são amigas. Garantiu que, naquela noite, estava com um documento no bolso do seu paletó, onde estava escrita a sua renúncia ao mandato. No entanto, depois de ouvir os vereadores Vanildo Neves (PSDB) e Moacir pereira de Melo (PDT), desistiu do ato. "Vou pedir uma licença do meu partido, o PT", informou o vereador Gugu que, na tarde anterior, ouviu o seu colega de bancada, Cipriano Mendes, anunciar que iria pedir a sua expulsão do partido.
Vereador pede desculpas a Gugu - Sebastiãozinho do Taboco usou a tribuna da Câmara para pedir, publicamente, desculpas ao colega Gugu (PT). "Quero me retratar aqui, publicamente; peço desculpas ao vereador Gugu por tudo o que disse na sessão de ontem [segunda-feira, 13]; a nossa amizade vale mais do que as disputas internas aqui na Câmara", disse Sebastiãozinho.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home